Com os impactos das chuvas que atingem a região metropolitana de São Paulo nos últimos dias, tornou-se comum aos paulistanos a visão de árvores ao chão e casas no escuro. Em todos os bairros da cidade, quedas de energia são registradas diariamente e os transtornos afetam milhões de consumidores.
O que chama a atenção, porém, é a falta de compromisso da distribuidora, a multinacional italiana Enel, com o restabelecimento da energia nas regiões afetadas. Tamanho o descaso que alguns pontos da cidade ficaram às escuras por mais de três dias, após as chuvas da última segunda-feira (25).
Os consumidores reclamam ainda da dificuldade de entrar em contato com a concessionária de distribuição de energia. Por telefone é praticamente impossível falar com um atendente humano. O atendimento automatizado solicita diversas informações que os usuários não possuem em mãos, e que não são tão simples de conseguir às escuras.
Na segunda-feira, em meio a mais um apagão na região da Aclimação e Cambuci, a equipe da Hora do Povo tentou, por diversas vezes, entrar em contato com a Enel. Sem sucesso.
Os clientes tentavam entrar em contato com a italiana Enel (que passou a ser controladora da antiga AES Eletropaulo no fim de 2018) para reportar seu problema e buscar solução não recebiam prazo de quando a situação seria normalizada.
Um indicador de como o problema irritou os moradores da cidade é a quantidade de queixas registradas contra a Enel no site Reclame Aqui nos últimos três dias. Até domingo, a média eram 44 por dia em fevereiro. Na segunda-feira, foram 135 queixas. Na terça, o número subiu para 228 e, ontem, até as 15h30, já eram 254.
O resultado foram transtornos, irritação e prejuízos. “Ficamos sem luz das 19h30 de segunda-feira às 14h30 de hoje [ontem]”, disse Bruna Agostinho Pinto, gerente de pet shop no Tatuapé (zona leste). Ela conta que ligou algumas vezes para a Enel, depois se uniu a outros comerciantes do bairro e foram a um posto da empresa. “Ficamos fechados na terça e hoje [ontem} até a hora que a luz voltou.”
Empresa culpa São Pedro
A Enel atribuiu aos cinco dias de chuvas a falta de luz generalizada, em todas as regiões da cidade. Como se as chuvas e temporais não fossem comuns a esta época do ano.
“Eles [os temporais] vêm com ventos fortes, ontem [anteontem] tivemos ventos de até 88 km/h, nos últimos cinco dias foram mais de 8 mil raios… Isso leva a quedas de árvores, são mais de 800 árvores que caíram nos últimos cinco dias”, disse o diretor de operação da Enel, Saulo Ramos, à Rádio Bandeirantes. “Tudo isso causa grande estrago na rede.”
O diretor, não estabeleceu algum prazo aos clientes para reestabelecer a energia. Segundo ele, mais de 2,4 mil funcionários da empresa foram às ruas anteontem e 3,9 mil ontem para restabelecer a energia na Grande São Paulo. O número de ontem é cinco vezes o normal que está nas ruas, de acordo como executivo.
No final da tarde de ontem, a Enel disse em nota que mais de 70% dos casos de falta de luz tinham sido normalizados.
Veja alguns relatos de consumidores da Enel que foram prejudicados pela falta de energia:
“Estamos sem luz desde terça às 13h30. Mas isso está acontecendo desde domingo, não é de agora. Domingo, segunda, terça ficou sem luz e agora hoje [quarta]. Coloquei meu estoque no frigorífico do açougue do meu amigo na outra rua. Já joguei uma porção de hambúrgueres fora. O movimento está horrível porque ninguém vem, sem luz. Caiu uns 80%” – José Pacheco da Silva, 73 anos, dono de uma lanchonete no Cambuci (centro), por volta das 17h30 de ontem
“Ficamos sem luz das 19h de segunda-feira às 11h de hoje [ontem]. Ficaram três dias sem aparecer e fizeram o serviço em dez minutos. Tenho dois freezeres, joguei muita comida fora, carnes, iogurtes. Nesses dias tivemos que tomar banho gelado” – Solange Soares, 39 ANOS, fotógrafa, moradora da Penha (zona leste)
“Ficamos quase 24 horas sem energia. É um absurdo isso. Ligamos na Enel e disseram que estava tendo muito atendimento, e não deram previsão. Depois, eles nem atendiam mais. Só voltou hoje [ontem], depois das 13h” – Cecília Gregorio, 61 anos, moradora da vila das belezas (zona sul)
“A luz acabou na terça às 14h, voltou à 1h da manhã e acabou novamente às 8h30 de hoje [ontem]. Jantamos à luz de vela, tomamos banho de ‘canequinha’ e ficamos sem ventilador nesse calor. Os iogurtes e outros perecíveis que estavam na geladeira estragaram, joguei fora” – Mariana da Silva Orrico, 24 anos, comerciante, moradora de Ermelino Matarazzo (zona leste)
“Ficamos desde segunda sem energia. Chegou hoje [ontem] às 15h. Abrimos vários protocolos. Meu sogro precisa de oxigênio e usa cama elétrica. Ainda bem que temos um cilindro reserva, que ajudou. Ele tem uma dieta e precisa da geladeira. Perdemos vários alimentos. Já estávamos atrás de gerador” – Emilio Buozi, 68 anos, morador do Tatuapé (zona leste)
“Estamos sem energia desde terça, às 13h. Ligamos várias vezes na Enel e eles falaram que voltaria até hoje [ontem] às 13h, mas não voltou. Agora estamos ligando e eles nem dão previsão mais” – Wilma Nascimento Almeida, 30 ANOS, que trabalha na óptica no CAMBUCI (CENTRO), por volta das 15h de ontem
“Está faltando energia no meu bairro desde segunda, às 20h. Depois da chuva, arrebentou o fio do poste até a minha casa. Já liguei na Enel, abri dez protocolos, eles falaram que iriam mandar um técnico, e até agora nada. Já fiz reclamação no site, rede social, Agência Nacional. Hoje [ontem], quando liguei, disseram que iriam restaurar a energia até meia-noite. Minha mãe é costureira e está desde segunda sem trabalhar. Já jogamos sacos de alimento e carne fora” – Tiago Luiz , 27 anos, morador da penha (zona leste), por volta das 17h30 de ontem
“Ficamos das 13h da terça à 1h da manhã de hoje [ontem] sem energia” –Marcio Cunha, 47 anos, morador de Perdizes (zona oeste)