Diante do aumento de casos de Covid-19 e da demora por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em aprovar as vacinas de segunda geração contra Covid-19, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) pediu em comunicado nesta semana o apressamento do processo.
Agora, foi a vez da Associação Médica Brasileira (AMB) reforçar o pedido em seu mais recente boletim. [É preciso] promover rapidamente a aprovação e acesso às vacinas covid-19 bivalentes de segunda geração, que estão atualmente em análise pela Anvisa”, defendeu a entidade.
As vacinas, consideradas mais eficazes pelos cientistas porque foram desenvolvidas para atacar não apenas a cepa original do coronavírus, mas também a variante ômicron, dominante no Brasil e em outros países do mundo, que tem sido responsável pelo aumento de internações e também de mortes nas últimas semanas.
Os imunizantes, desenvolvidas pela Moderna e Pfizer, são chamados de ambivalentes porque, ao contrário das vacinas utilizadas no Brasil, foram criados a partir da cepa original. A nova versão ataca também a variante ômicron, a principal responsável pelas infecções atualmente.
Os dois protetores utilizam RNA mensageiro, ou seja, ao invés de usar o vírus atenuado ou inativo, essa tecnologia induz o organismo a produzir uma proteína que força o sistema imunológico a combater o coronavírus.
Outra vantagem é que essas vacinas podem ser atualizadas mais rapidamente, permitindo adaptá-la às novas subvariantes da ômicron, com a BQ.1, que já está no Brasil, é mais transmissível e já foi responsável pela morte de uma idosa em São Paulo.
A Moderna iniciou tratativas com a Anvisa para aprovação de seu imunizante ainda em março, há oito meses, enquanto a Pfizer fez o mesmo em agosto. Procurada, o órgão regulador ainda não se manifestou.
Questionada, a agência afirmou ao jornal Folha de São Paulo que o processo segue em análise e que “solicitou o apoio de sociedades médicas para a avaliação dos dados e emissão de parecer”.
Nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa a vacina ambivalente já está sendo aplicada. No mês passado, o Chile passou a utilizar o novo imunizante para reforço em pessoas imunossuprimidas e profissionais de saúde.
O Reino Unido foi o primeiro país a aplicar a vacina da Moderna, ainda em agosto. Nos Estados Unidos, a inclusão da nova geração da vacina ao sistema de saúde foi anunciada em setembro após aprovação da FDA (agência americana reguladora de medicamentos). O imunizante da Moderna é aplicado atualmente em pessoas com mais de 18 anos; já o da Pfizer pode ser ministrado em indivíduos acima de 12 anos.
No Brasil, alguns medicamentos já foram criados e aprovados pela Anvisa, como o antiviral molnupiravir, destinado a pacientes com quadros leves e moderados da doença. Outros seis remédios já haviam sido validados pela agência no final do ano passado. O problema é que o governo federal não repassa os fármacos ao SUS.
“É essencial que medicações já aprovadas pela Anvisa para o tratamento e prevenção da covid-19 estejam disponíveis para uso no setor público e privado, medida que ainda não se concretizou após mais de seis meses da licença para esses fármacos no Brasil”, aponta a AMB.
VACINAÇÃO INFANTIL
A SBI, AMB e a FNP (Frente Nacional de Prefeitos) também cobram uma atenção especial do governo à vacinação infantil contra Covid. Até agora, só uma em cada 10 crianças de 3 e 4 anos recebeu a primeira dose no Brasil, segundo reportagem da Folha.
O levantamento indica que apenas 14% das crianças dessa faixa etária iniciaram o esquema vacinal. Já a vacinação com duas doses só alcançou 4,2% das crianças desse grupo etário.
A SBI cobra do governo federal a garantia da “aquisição de doses suficientes de vacina para imunizar todas as crianças de seis meses a 5 anos independente da presença de comorbidades”.
Por sua vez, a FNP critica a “irregularidade no envio aos municípios de imunizantes da Pfizer, indicados para aplicação em crianças com mais de seis meses e menores de três anos”. Além disso, de acordo com a Frente, “é fundamental a retirada da orientação do Ministério da Saúde para que se apliquem as vacinas apenas em crianças com comorbidades (…) não há critérios seguros que permitam elencar comorbidades nessa faixa etária”, aponta a entidade.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde afirmou que iniciou na quinta-feira (10) a distribuição “de forma proporcional e igualitária” de 1 milhão de doses pediátricas contra a Covid-19 “destinadas a crianças de seis meses a menores de três anos com comorbidades”.
Com o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), a possibilidade da ampliação das doses para as crianças nessa faixa etária sem comorbidades será avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), diz a pasta.
Nas últimas duas semanas, diversos estados e municípios brasileiros tiveram que suspender a vacinação de crianças de 3 a 4 anos de idade por falta de doses de CoronaVac. O imunizante é o único aprovado para a faixa etária até o momento.
Após denúncia por vários órgãos de imprensa, o Ministério da Saúde adquiriu na quarta-feira (9), do Instituto Butantan, um carregamento com 1 milhão de doses. São estimadas perto de 12 milhões a quantidade de doses suficientes para completar o esquema vacinal desse dessas crianças.
O lote, que é o segundo, faz parte do contrato de compra de 10 milhões de vacinas, firmado entre o Ministério da Saúde e o Butantan no início deste ano. Em setembro, o Butantan já havia entregue um milhão de doses ao Programa Nacional de Imunização (PNI), após a aprovação do uso da CoronaVac pela Anvisa para esse público pediátrico.