
“O povo brasileiro precisa ter conhecimento sobre o que está acontecendo e temos que saber até que ponto o nosso governo está envolvido. Não podemos ficar omissos diante desse escândalo”, afirmou o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) após apresentar requerimento pelo comparecimento do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, à Comissão de Minas e Energia da Câmara
O documento, apresentado por Vaz na sexta-feira, dia 9, requer à Comissão que solicite a presença tanto de Ernesto Araújo, como do diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, para, segundo matéria publicada no portal do Partido Socialista Brasileiro, “explicar a renegociação do acordo entre Brasil e Paraguai para uso da energia da usina hidrelétrica”.
A matéria prossegue afirmando que “o acordo bilateral foi assinado, em segredo, em maio passado. Seus termos vieram a público no fim de julho e desencadearam uma crise política para o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez. Segundo a oposição no Paraguai, a negociação foi ‘entreguista’ por favorecer o Brasil na contratação da energia de Itaipu. Os prejuízos, segundo os opositores, ultrapassam os US$ 200 milhões ao Paraguai”.
“Mensagens publicadas pelo portal ABC Color, do Paraguai, revelaram que Benítez sabia dos termos prejudiciais do acordo. Por isso, a oposição anunciou a intenção de pedir a abertura do processo de impeachment contra o presidente e o vice, Hugo Velázquez, por ‘traição à pátria’”, diz ainda a matéria.
Em meio ao escândalo, o acordo foi cancelado no dia 1º de agosto, pelo governo do Paraguai e o governo brasileiro aceitou o cancelamento.
A matéria do portal do PSB denuncia que “um assessor do vice-presidente Hugo Velázquez usou o nome da família do presidente Jair Bolsonaro para intermediar um negócio de venda de energia para uma empresa brasileira”, da qual o representante era um suplente de senador do PSL de São Paulo.
Em cima destes fatos, ao chamar os integrantes do governo, Vaz destaca que “os principais envolvidos neste caso devem prestar esclarecimentos”.
Além disso, na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) solicitou ao ministro Ernesto Araújo informações sobre o ato assinado entre Brasil e Paraguai no dia 24 de maio.
Assinado em segredo, o acordo bilateral acabou vindo a público depois que o presidente da ANDE (estatal paraguaia de energia elétrica), Pedro Ferreira, renunciou afirmando que o acordo configurava “traição à pátria” e “extorsão financeira”.
Na sequência várias personalidades do governo também renunciaram, entre os quais o ministro do Exterior do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni e o embaixador do país vizinho no Brasil, Hugo Saguier Caballero.
MENSAGENS REVELADORAS
Mensagens trocadas entre o presidente BenÍtez e o diretor da ANDES, publicadas pelo portal ABC Color, do Paraguai, revelam que o presidente sabia dos termos prejudiciais do acordo. Por essa razão, a oposição anunciou a intenção de pedir a abertura do processo de impeachment contra o presidente e o vice, Hugo Velázquez. Uma comissão bicameral foi instituída no parlamento paraguaio para investigar o caso que também passa por investigação na Procuradoria Geral do Paraguai.
CASTIGLIONI PÕE A CULPA EM SAGUIER
Falando à imprensa logo após depor na Procuradoria, durante cinco horas, o ex-ministro do Exterior do Paraguai, Castiglioni, tentou jogar a responsabilidade sobre a desastrosa ata no ex-embaixador de seu país em Brasília, Saguier.
Também falou à imprensa local o procurador Marcelo Pecci: “Seguramente, o embaixador Saguier exporá da forma mais detalhada os informes que dava ao engenheiro Castiglioni – o embaixador era o chefe da negociação -, se eram os adequados na negociação entre as partes contratantes”.
Na tentativa de se livrar do envolvimento na trama, Castiglioni atribuiu os termos da lesiva ata a “uma comunicação governamental péssima”.
Quanto ao que chamou de “negociação paralela”, seguiu a linha de defesa adotada pelo presidente e pelo vice e disse que nada sabia à época e que só tomou conhecimento dos entendimentos secretos no dia 31 de julho pela imprensa: “Quando olho os jornais, vejo que aparece, o que denomino de negócio paralelo, o negócio onde há uma sorte de intenção de transação econômica sobre a venda de energia da ANDE a uma empresa brasileira. Então chamei o embaixador, Hugo Saguier, e lhe disse: “A que diabos se refere isso, o que é o ponto 6?”.
O ex-ministro paraguaio insiste: “O que posso ver claramente é que houve uma negociação paralela, isto é indubitável, sobre o tema da intenção da venda da energia da ANDE”.
Como já detalhamos em matérias anteriores sobre o escândalo, a questão do “ponto 6” a que se refere Castiglioni é a supressão deste item, uma vez que ele admitia a venda de energia excedente pelo Paraguai a diversas empresas no Brasil, mas teria sido retirado por pressão dos chefes do governo paraguaio para atender aos interesses da empresa Léros, representada pelo suplente de senador, Alexandre Giordano, e que passaria a ter a exclusividade nesta venda ao Brasil.
Fontes: Portal Vermelho, Portal do PSB, jornal Ultima Hora (Paraguai).