A bordo da estação Tianhe os astronautas chineses farão experimentos técnicos e científicos, além de treinamento em ajustes e reparos da própria estação
Já estão a bordo da estação espacial chinesa Tiangong os três astronautas (“taikonautas”, como são chamados na China) da espaçonave Shenzhou-16, depois de seis horas e meia de trajeto, seis ajustes autônomos de órbita e um bem sucedido acoplamento automatizado no “Palácio Celestial”.
O veterano Jing Haipeng, o engenheiro de voo Zhu Yangzhu e o especialista civil em carga útil, Gui Haichao, foram calorosamente recebidos pelos três tripulantes da Shenzhou-15, o comandante Fei Junlong e seus companheiros Deng Qingming e Zhang Lu que, depois de seis meses no espaço, retornarão dentro de cinco dias à Terra.
Lançada na manhã de terça-feira (30) desde Jiuquan, no noroeste da China, por um foguete Longa Marcha-2F, a espaçonave se separou do veículo de lançamento dez minutos depois e entrou em órbita predefinida. Às 16h29 (horário de Pequim), a Shenzhou-16 atracou na porta radial do módulo central Tianhe, anunciou a Agência Espacial Tripulada da China (CMSA). Duas horas depois, a abertura da escotilha para o encontro, com abraços, apertos de mão e a tradicional foto.
A Shenzhou-16 é a 29ª missão espacial tripulada chinesa. O lançamento também marca a 475ª missão de voo da série de foguetes transportadores Longa Marcha.
Durante sua missão, a tripulação da Shenzhou-16 conduzirá atividades extraveiculares (caminhadas espaciais), experimentos de ciência espacial e teste de novas tecnologias. A missão incluirá gerenciamento de plataforma, testes de sistema de suporte a taikonautas e atividades de educação científica, segundo a Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China (CASC).
É a quarta missão espacial de Jing, o comandante da Shenzhou-16, enquanto Gui – que é civil- e Zhu são estreantes. Todos os três possuem doutorado e são membros do Partido Comunista da China.
Gui, o especialista em cargas úteis de 36 anos, inspirou milhões de sonhadores espaciais na China e no exterior. Ele será responsável por gerenciar e operar pesquisas científicas e projetos experimentais na estação espacial, com foco principalmente no gerenciamento e operação de cargas úteis. Zhu, o engenheiro de vôo, será responsável pela manutenção e reparo de rotina da estação espacial e pelos testes e experimentos técnicos.
DESAFIO VENCIDO
A manobra de acoplamento desta vez foi um desafio mais complexo, devido à ampliação da estação espacial com os módulos de laboratório Wentian e Mengtian, mais espaçonaves tripuladas e de carga. O que determinou que a massa, a inércia e o centro de gravidade da estação espacial mudaram significativamente, impactando a atracação, com alguns parâmetros até aumentando em ordens de grandeza.
Anteriormente, quando a espaçonave tripulada Shenzhou-14 atracou radialmente com a estação espacial, esta pesava apenas 47 toneladas. Agora, o Shenzhou-16 enfrentou um complexo de estação espacial de 90 toneladas com tripulação a bordo.
“Esta é a primeira vez que realizamos encaixe radial depois que a estação em forma de T foi montada”, disse Yao Jian, projetista gerente do subsistema de encaixe. “Tivemos que adicionar novos amortecedores para reduzir o impacto na nave e na estação.”
Eles também atualizaram os sensores de luz da nave, já que a gigantesca estação espacial bloqueava muita luz solar, tornando mais difícil para a nave determinar a posição da doca da estação espacial.
“Os novos sensores melhoraram a capacidade de reconhecer alvos”, disse Zhang Yi, vice-gerente de design dos sistemas de navegação e controle do Shenzhou-16. “Eles podem dizer se um objeto é o alvo ou apenas um obstáculo bloqueando o caminho.”
Quanto ao veículo de lançamento, o vice-projetista-chefe do foguete transportador Longa Marcha-2F, Liu Feng, disse ao Global Times que eles fizeram mais de 20 ajustes técnicos para melhorar o desempenho do foguete. A equipe de desenvolvimento se concentrou em melhorar a redundância e a confiabilidade com uso de tecnologia digital e de informação e introduziu “inteligência” na interpretação de dados.
Para o sucesso do acoplamento, há dois sistemas de posicionamento: os satélites BeiDou e os radares de micro-ondas. “O sistema BeiDou tem uma máquina-A e uma máquina-B que são backups dinâmicos uma da outra – se uma quebrar, a outra pode continuar funcionando”, disse Shao Limin, vice-gerente de tecnologias da Shenzhou-16.
O acoplamento da Shenzhou-16 com a Estação Espacial da China foi automático sem intervenção humana. Se o processo tivesse falhado, havia um plano B. “Podemos mudar para a atracação manual e pedir aos taikonautas para finalizar o processo”, disse Shao. “Os dois processos são completamente independentes um do outro.”
Se o problema fosse no lançamento, “o sistema de escape automático da espaçonave seria ativado e traria os taikonautas de volta ao solo com segurança”, acrescentou Shao. “Também podemos usar o retorno de emergência se a nave for violada.”
TROCA DE GUARDA
A reunião espacial deu início à segunda rotação da tripulação em órbita na Estação Espacial da China. Os seis taikonautas viverão juntos por cerca de cinco dias para completar a transferência.
A tripulação do Shenzhou-15 entregará as ferramentas de manutenção, necessidades diárias e amostras de experimentos para a nova tripulação, que continuará com o trabalho pelos próximos cinco meses.
“Há tantas coisas na estação espacial armazenadas em lugares diferentes de maneira classificada”, disse Xia Qiaoli, vice-gerente de design da estação espacial. “A equipe antiga precisa informar à nova sobre onde cada coisa está armazenada.”
Além do mais, a nova tripulação terá que aprender sobre os últimos ‘como fazer’ na manutenção da estação espacial.
“A situação real na estação espacial pode ser ligeiramente diferente das instalações de treinamento no solo”, disse Xia ao China Media Group (CMG). “A velha equipe sabe mais sobre o que realmente está acontecendo, então eles são os melhores professores.”
De acordo com o porta-voz da CMSA, Lin Xiqiang, a tripulação do Shenzhou-15 permaneceu e trabalhou em órbita por 182 dias, durante os quais realizou com sucesso quatro atividades extraveiculares (EVAs), que estabeleceram um novo recorde de caminhada espacial executadas para uma única tripulação.
Além disso, a tripulação da Shenzhou-15 realizou várias tarefas de carga útil fora da cabine da estação espacial, pesquisa de tecnologia de engenharia de fatores humanos, 28 experimentos médicos aeroespaciais e 38 testes de ciências espaciais cobrindo ecologia da vida, ciência de materiais e mecânica de fluidos, entre outros, disse Lin.
Leva cerca de seis meses para aqueles que servem em missões espaciais de longo prazo verem um retorno à sua condição física normal, antes de retomarem o treinamento e participarem de outra rodada de seleção de candidatos a voos espaciais.
Atualmente, são 17 os astronautas em órbita: seis taikonautas da China, cinco astronautas dos EUA, três cosmonautas da Rússia, dois da Arábia Saudita e um dos Emirados Árabes Unidos.
POUSO LUNAR ANTES DE 2030
A China planeja realizar um pouso lunar tripulado antes de 2030, anunciou Lin Xiqiang, vice-diretor da Agência Espacial Tripulada da China, na segunda-feira (29).
Lin disse em uma conferência que a China iniciou recentemente a fase de pouso lunar de seu programa de exploração lunar tripulada. O objetivo geral é alcançar o primeiro pouso tripulado da China na Lua até 2030 e realizar a exploração científica lunar e experimentos tecnológicos relacionados, acrescentou.
De acordo com Lin, os objetivos também incluem o domínio de tecnologias-chave, como viagem de ida e volta tripulada entre a Terra e a Lua, permanência de curto prazo na superfície lunar, exploração conjunta humano-robô, realização de múltiplas tarefas de pouso, itinerância, amostragem, pesquisa e retorno, e formação de uma capacidade independente de exploração lunar tripulada.
Em parceria com a agência de notícias Xinhua