“Queremos uma polícia forte contra o crime, mas que respeite os direitos humanos e a Constituição, e não vamos admitir que extrapole essas prerrogativas”, disse o governador de Pernambuco
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que vê com “preocupação” as iniciativas para incitar a participação de policiais militares e membros de forças de segurança nas manifestações bolsonaristas marcadas para o dia 7 de setembro, Dia da Independência.
“Essas ameaças do presidente, a coisa de ‘esticar a corda’ com as instituições, isso nos preocupa. Mas reafirmo que não vamos admitir politização das polícias. Queremos uma polícia forte contra o crime, mas que respeite os direitos humanos e a Constituição, e não vamos admitir que extrapole essas prerrogativas”, destacou em uma entrevista ao jornal “O Globo”.
Paulo Câmara observou que o tipo de mobilização que tem sido feito para o protesto em apoio a Bolsonaro é inquietante, mas os governos estaduais não devem admitir a possibilidade de uma politização das polícias e vão agir para identificar e punir eventuais “excessos”.
Ele lembrou que essa possibilidade foi uma das questões colocadas na reunião do Fórum Nacional de Governadores, realizada na segunda-feira (23) em Brasília.
“Não podemos entrar nessa onda de intolerância e agressões que vemos muitas vezes por parte do presidente da República. Temos que ser duros se houver exagero, mas respeitar quem pensa diferente, dentro dos limites democráticos. Se tudo correr dentro dos limites, temos que respeitar esse tipo de manifestação”, disse.
Paulo Câmara avaliou que, em razão do efetivo policial ser muito grande, não é possível ter “100% de controle” sobre todos os policiais. O governador reafirmou, entretanto, sua confiança no respeito à legalidade e no cumprimento da ordem disciplinar.
“Obviamente toda essa mobilização causa preocupação. A corporação policial é muito grande, você não tem 100% de controle sobre todo mundo, mas eu tenho confiança na PM de Pernambuco. Quando tivemos fatos como naquele protesto do “Fora Bolsonaro” de 29 de maio, com reação policial e balas de borracha, tomamos as providências e afastamos quem cometeu excessos. Infelizmente, o próprio comandante da PM teve que ser afastado, o secretário estadual de Defesa Social, também. Mas depois houve diversas manifestações, todas dentro da normalidade”, comentou.
RENAN FILHO
O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), advertiu que há uma “clara tentativa de insurgência orquestrada” para levar PMs da ativa em atos políticos dos bolsonaristas.
O governador alagoano avalia que é “equivocado dizer que não há risco” de tentativa de ruptura institucional no país em meio às manifestações do dia 7 de setembro. Mas declarou que não vê Jair Bolsonaro com condições de dar um golpe.
“Não acredito que Bolsonaro goze de condições para dar golpe. Não tem apoio internacional e a popularidade está baixa. Mas o risco de uma tentativa é grande. Pode haver no dia 7 um grupo que entre no STF, umas 50 a 200 pessoas. Mas pode não ser bem sucedido. Não sinto nas Forças Armadas a disposição de comandar o país, não há um projeto nacional. Mas não significa que não há risco. Dizer que não há risco é subestimar muito”, disse, também em entrevista ao Globo.
Para o governador alagoano, a crise institucional que o país vive é uma manobra de Bolsonaro para “escamotear os problemas do país”.
Renan Filho informou que governadores estão tomando medidas para evitar que as polícias sejam usadas pelos bolsonaristas no dia 7.
“Há uma clara tentativa de insurgência e isso é orquestrado, mas os estados estão tomando medidas e se organizando para evitar isso”, disse.
COMANDANTES
O presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das Polícias Militares, que representa todos os 27 comandantes das PMs do Brasil, coronel Euller de Assis, afirmou que “os comandantes estão comprometidos com a Constituição”.
Ele disse que “existe preocupação” com a adesão de PMs aos protestos a favor de Jair Bolsonaro, convocados para o dia 7 de setembro.
“Os comandantes estão comprometidos com a Constituição, as polícias têm hierarquia e a Carta Magna determina que somos subordinados aos governadores. Transgressões poderão ocorrer dentro de cada Estado”, disse o coronel.
“Os PMs da ativa sabem de suas limitações de manifestação. O foco de todos os comandantes é atuar para garantir que seja um dia de paz”, reforçou.
O coronel Euller avaliou que os PMs da ativa têm “individualidades e preferências políticas”, mas devem respeito às hierarquias internas.
“Somos quase 500 mil policiais da ativa. Mas o comando tem noção de que temos uma democracia jovem e que precisa ser preservada”, afirmou o militar em entrevista à CNN.
“Há quem fale em ruptura, intervenção, golpe. Mas isso é um trauma muito grande para o Brasil. Pedimos às autoridades que foquem na melhoria do povo. As PMs são pacificadores sociais”, observou Euller.