O governo Bolsonaro usa equipamentos públicos para fazer campanha eleitoral antecipada, visando às eleições de 2022. E com isso, estudantes, professores e moradores de Santa Filomena, cidade do interior do Piauí, estão sendo obrigados a assistir publicidade do governo federal para terem acesso à internet pública fornecidas pelo programa Conecta Brasil, do Ministério das Comunicações.
O caso foi denunciado por reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira (27/9)
O programa Conecta Brasil alcança 26 milhões de brasileiros ao custo total de 2,7 bilhões de reais, segundo estimativas do próprio Ministério das Comunicações. A exigência de visualização das publicidades do governo também foi registrada na região Norte, onde sinal também foi instalado.
Cada vez que alguém acessa a rede por qualquer motivo, as peças publicitárias do governo são reproduzidas. O único aplicativo que roda sem a necessidade de anúncios é o WhatsApp, rede onde Bolsonaro é conhecido por ter força na replicação de mensagens para sua base de eleitores e apoiadores.
Entre os programas sociais elencados nas peças publicitárias do governo via Wi-Fi Brasil, estão o pagamento do 13º salário do Bolsa Família e a instalação do sinal de internet nas escolas.
Os roteadores são colocados em locais em torno dos quais as comunidades contempladas se reúnem, como escolas, postos médicos e unidades de segurança pública.
O prefeito da cidade, Carlos Braga (Progressistas), afirma não saber da exigência. “Eu estou sabendo agora. Não sabia desse vídeo. Não vi ninguém ainda relatando esse fato. Não vou aqui me arriscar a dizer que pontos de internet estão sendo utilizados para determinados fins político-eleitorais. É claro que nas redes a gente vê e ouve muita coisa”, afirmou o prefeito ao jornal.
Segundo o Ministério das Comunicações, “a veiculação de vídeos institucionais está prevista no projeto básico da implantação de pontos de acesso gratuito à internet em localidades públicas, pelo programa Wi-Fi Brasil” e é instrumento importante “de divulgação de mensagens de utilidade pública”.
A maior parte da verba do projeto é destinada às regiões Norte e Nordeste, onde Bolsonaro teve pior desempenho nas Eleições 2018.
De acordo com estimativas do Ministério da Comunicação, o programa do governo tem um orçamento de R$ 2,7 bilhões.
Desse dinheiro, 91% será destinado a estados do Norte e Nordeste, redutos de oposição do governo Bolsonaro.
Para alavancar sua popularidade no Nordeste, região com o segundo maior percentual de eleitores no Brasil — 26% do eleitorado, Bolsonaro planeja realizar uma sequência de ações e viagens a capitais e municípios nordestinos e nortistas. A intenção da agenda de compromissos do presidente é diminuir uma vantagem em relação ao seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele esteve na região de Santa Filomena em 20 de maio, junto com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o filho, Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e um dos responsáveis por articular a rede de difamação e notícias falsas, conhecida como “gabinete do ódio”. Eles compareceram ao semiárido nordestino, justamente, para inaugurar a instalação do sinal público de Wi-Fi.
No evento, Fábio Faria destacou que a internet era uma fonte alternativa de informações ao que chamou de “notícias contra o presidente”. E aproveitou para apontar que havia uma perseguição a Carlos Bolsonaro.
Fake News nas propagandas
Marivelton Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), disse que é frequente o recebimento de mensagens com conteúdo enganoso sobre ONGs que atuam no local.
“Temos orientado o pessoal com esse negócio de fake news, muito comum, principalmente no momento atual. Como aqui é uma região de fronteira, também tem o Exército falando em soberania nacional (para atacar entidades do terceiro setor)”, afirmou Baré.