A organização Rede Fronteiriça pelos Direitos Humanos nos EUA apresentou um informe, na sexta-feira, 14, em que denuncia as condições desumanas com que são tratados os imigrantes nos centros de detenção localizados na fronteira com o México, hoje superlotados por cada vez mais pessoas e famílias originárias principalmente da América Central. A elaboração do documento foi baseada em testemunhos de imigrantes durante o último mês e meio, informou a AP.
“O estado dos direitos humanos nas zonas fronteiriças entre México e Estados Unidos é grave e só está piorando”, assinala o documento frisando que “as pessoas estão morrendo por causa do que ali acontece”. Seis crianças imigrantes morreram nos últimos seis meses, depois de serem detidas pela Patrulha Fronteiriça. E há incontáveis mortes sem registro.
As denúncias mais recorrentes dos imigrantes são sobre alimentação insuficiente, falta de até mesmo água, superlotação, ter que dormir no chão sem as mínimas condições de higiene. Apresentam descrições de pessoas que ficam detidas por mais das 72 horas, que é o demarcado como limite máximo por lei, chegando em alguns casos a 45 dias.
O Escritório de Alfândegas e Proteção Fronteiriça (CBP) desconversa e declara que “as alegações não são fatos”. E afirma: “Se há um problema, é melhor entrar em contato diretamente com a CBP. Em muitos casos, a questão pode ser resolvida de imediato”. A Rede manifestou que não tem conhecimento de nenhuma situação desse tipo que tenha sido atendida.
Já o governo Trump acusa o Congresso e ‘sua omissão’ pela piora do quadro. Disse que solicitou 4,5 bilhões de dólares há mais de seis semanas, para aumentar o controle e melhorar as condições dos detidos, e ainda não obteve resposta.
As pessoas provenientes da Guatemala, Honduras e El Salvador que fogem da pobreza e da violência nos seus países, e ficam presas na fronteira estadunidense com o México, são em número cada vez maior. Estão confirmadas 132.887 prisões no mês de maio deste ano, o que inclui 11.507 crianças que viajavam sozinhas.
Essa desgraça não passa despercebida para o povo dos Estados Unidos. Na quarta-feira, 12, em pontos muito movimentados da cidade de Nova Iorque, em sinal de protesto ante a agressão que vivem milhares de crianças que foram separadas de seus pais ao cruzar a fronteira, apareceram gaiolas com bonecos imitando crianças cobertas com mantas de alumínio, com gravações reais de menores imigrantes chorando.
O protesto, que foi denominado No Kids In Cages (Não a crianças em gaiolas), foi organizado e produzido pelo grupo Raízes, com base no estado do Texas e que luta pelos direitos dos imigrantes que chegam ao país.
“Isto não é em algum outro lugar. Isto está acontecendo nos Estados Unidos”, diz o site criado para divulgar a manifestação https://nokidsincages.com/. “Mais de 3.000 crianças têm sido separadas de seus pais na fronteira. Moram em gaiolas. Dormem no chão. Quando choram, não têm ninguém que as console”, acrescenta.
“A prova definitiva de qualquer sociedade é como trata as crianças. Por normalizar a detenção de crianças em gaiolas, vamos cair para o mais baixo degrau no caminho de abandonar os direitos de todas as crianças”, afirmou o diretor de Raízes, Jonathan Ryan, em boletim de imprensa.
Madonna Badger, diretora executiva de Badger and Winters, uma empresa de relações públicas que ajudou a criar a campanha, disse que foram instaladas 25 gaiolas e que o Departamento de Polícia de Nova Iorque tirou todas elas, inclusive uma que tinha sido colocada frente aos estúdios da Rede de televisão FOX. Está nos planos do grupo Raízes realizar o protesto em outras cidades do país.