Recidiva do coronavírus, demanda fraca e falências mantêm pressão pelas demissões: 1,48 milhão solicitaram o benefício na semana passada
O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos revelou que o número de norte-americanos que solicitaram seguro-desemprego na semana encerrada em 20 de junho foi de 1,48 milhão e, desde meados de março, o total de novos pedidos já supera os 47 milhões.
Essas 1,48 milhão de solicitações ocorreram, apesar da generalizada reabertura da economia no país inteiro, sendo que esse patamar de novos pedidos – da ordem de 1,5 milhão – se manteve nas últimas três semanas.
Na análise da Reuters, “uma segunda onda de demissões contrarrestou parcialmente as contratações por empresas que estavam reabrindo, sugerindo que o mercado de trabalho poderia levar anos para se recuperar da pandemia da Covid-19”.
A ‘reabertura’ foi tão atabalhoada quanto o fechamento. Há empresas que estão contratando, como registrou a Reuters, mas outras estão cortando empregos “quase no mesmo ritmo”. Oficialmente, a economia entrou em recessão em fevereiro.
O economista-chefe da PNC Financial, Gaus Faucher, assinalou que “algumas empresas tentaram manter sua força de trabalho, esperando para ver o que aconteceria quando as empresas reabrissem”, mas, “não vendo muita demanda”, decidem que não precisam de “tantos trabalhadores”.
“O que você está vendo agora é a cicatrização da economia começando a acontecer”, disse ao New York Times a gerente sênior de Pesquisa Econômica da Schmidt Futures, Martha Gimbel. “Demissões [‘layoffs’] que aconteceram no começo disto provavelmente pretendiam ser temporárias. Mas se você está despedindo gente agora, isso é provavelmente uma decisão empresarial de longo prazo”.
A esse quadro no setor privado, de demanda fraca e ameaça de bancarrota, se somam as demissões feitas por governos estaduais e municipais, que tiveram suas receitas abruptamente encolhidas sob o fechamento e se viram diante de gastos ampliados pela urgência do combate à pandemia.
A alta dos casos de Covid-19, que atinge particularmente Estados populosos como Texas e Flórida, e a recidiva na Califórnia, forçando a recuos na política de reabertura, também sinaliza que a pressão sobre o seguro-desemprego irá se manter.
A solicitação de seguro-desemprego não significa que esta será aceita.
A Reuters estimou em 30,6 milhões – “um quinto da força de trabalho” – o total de pessoas que vêm recebendo continuadamente o benefício, o que vai a 33 milhões com os mecanismos recém criados para socorrer trabalhadores autônomos e por aplicativos.
Parte da diferença é porque algumas empresas chamaram o pessoal de volta, usando o mecanismo de empréstimo provido pelo pacote anticrise do Congresso para pagar salário [Programa de Proteção ao Contracheque].
Ainda segundo a Reuters, a taxa de desemprego acabou sendo subestimada desde março, quando a pesquisa classificou pessoas erroneamente como “empregadas, mas ausentes do trabalho”. Assim, sem esse problema, que o Departamento de Trabalho está trabalhando para corrigir, “a taxa de desemprego teria sido de 16,3% em maio, ao invés de 13,3%, e chegado a 19,7% em abril”.
Sob o impacto da pandemia de Covid-19, foram destruídos nos EUA em 14 semanas mais de duas vezes o número de empregados criados em uma década desde a Grande Recessão de 2008/09 (22 milhões). De 282 mil pedidos na semana imediatamente anterior ao fechamento em março às carreiras da economia, o total disparou para 3,3 milhões na semana seguinte, e chegou em abril a 6,9 milhões.
“Uma hemorragia sustentada de empregos” como jamais visto antes, advertiu a diretora do Instituto de Política Econômica, Heidi Shierholz.
As perspectivas da economia seguem sombrias, como o FMI agora projetando uma contração do PIB dos EUA de 8% em 2020. No 1º trimestre, a queda foi de 1,25% [“5% anualizado”] e fala-se de até “46% anualizado” no segundo trimestre, na verdade 11,5% sob a convenção comumente usada na maioria dos países.
O governo Trump vem resistindo à proposta da oposição de novo pacote de estímulo, que especialmente socorra Estados e municípios, que ficaram sobrecarregados no combate à pandemia, e prorrogue a ajuda às famílias e às pequenas e médias empresas. Os pagamentos previstos no pacote inicial do Congresso, incluindo os US$ 600 de suplementação federal aos desempregados, vão expiar no final de julho. A moratória das hipotecas federais, que iria expirar em 30 de junho, foi prorrogada até 31 de agosto. Pior é a situação de quem paga aluguel, com a moratória sobre despejos tendo acabado em vários estados, caso do Texas desde 26 de maio.