O sequestro dos equipamentos para o tratamento das vítimas do coronavírus realizada por Donald Trump nos Estados Unidos poderá atrasar a entrega dos leitos de UTIs na Bahia e no Ceará. Segundo o governo baiano, a compra de 600 respiradores artificiais realizada pelo Consórcio Nordeste, grupo que reúne os nove governadores da região do país, foi cancelada pela empresa chinesa que produz o equipamento.
O material seria distribuído entre a Bahia, que receberia 400 unidades, e o Ceará, que ficaria com os outros 200, segundo informações da assessoria de comunicação do governo baiano. O valor do contrato era de R$ 42 milhões. A assessoria do Consórcio Nordeste informou que a carga ficou retida no aeroporto de Miami, nos Estados Unidos.
“Lamentavelmente, esses equipamentos, em função de um decreto de proteção editado pelo presidente Trump, ele impede as empresas americanas de exportarem equipamentos para outros países, ainda que os equipamentos tenham apenas passado pelos Estados Unidos, hoje eles têm feito um sequestro de equipamentos”, disse o Secretário Estadual de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas
Segundo o secretário, o Consórcio Nordeste estuda uma nova rota para a entrega de equipamentos que vem do Oriente. Ele aponta que o material precisa ser enviado via Oriente Médio ou Argentina para não ser impedido de chegar ao Brasil.
“Então, lamentavelmente, hoje para você conseguir trazer equipamentos da Ásia, que é o único lugar que vende, a Europa não está vendendo mais nada, Estados Unidos não vendem nada, você tem que buscar a rota via Oriente Médio ou rotas transpolares pelo sul, via Argentina, para não ter que passar pelos Estados Unidos”, contou.
De acordo com Fábio Vilas-Boas, os novos respiradores devem chegar na Bahia no dia 20 de abril. “Nós estamos agora em um processo novo de aquisição de equipamentos com prazo de chegada para o dia 20 de abril, de 600 novos respiradores. Também da China, e vão chegar através de uma rota que vai passar pela Argentina, e deverá chegar aqui na Bahia em meados do mês de abril”, disse o secretário.
O secretário disse que frequentemente tem acontecido do pedido ser postergado para semanas ou meses. Ou simplesmente é cancelado. E quando o pedido é refeito, os preços são muito superiores. Vilas-Boas disse que tem relatos de estados que compraram, pagaram antecipado e o fornecedor pagou a multa, desistiu da venda e passou o produto adiante.
“Estamos em uma selva. Tenho a esperança forte de não ser sabotado nesse processo de respiradores. O governo procurou se blindar para que a próxima carga venha parar nas mãos da Bahia, disse.
EUA NEGA
A embaixada dos Estados Unidos negou no sábado (4) que o país tenha bloqueado compra de material médico da China que era destinado ao Brasil.
“O governo dos Estados Unidos não comprou nem bloqueou nenhum material ou equipamento médico da China destinado ao Brasil. Relatórios em contrário são completamente falsos”, publicou o órgão em uma rede social.
PIRATARIA
Não é apenas o Consórcio do Nordeste e o Brasil que denunciou o confisco de equipamentos por parte dos EUA. Autoridades da França e da Alemanha denunciam que os EUA praticam “pirataria moderna” e estão pagando valores muito acima do preço do mercado para comprar máscaras médicas da China, maior produtora desses itens no mundo.
Em alguns casos, eles estariam “roubando” contratos ao oferecer valores mais altos, mesmo depois de compradores europeus acreditarem que a compra já estava acertada, ou inclusive já terem pago por ela.
“Dinheiro é irrelevante. Eles pagam qualquer preço porque estão desesperados”, disse uma autoridade do partido da chanceler federal alemã, Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), à agência Reuters.
Outra fonte do governo alemão afirmou: “Os americanos estão se mexendo, carregam muito dinheiro”.
MÁSCARAS
Em outro caso, autoridades em Berlim acusaram os Estados Unidos de “confiscarem” uma remessa de 200 mil máscaras fabricadas pela 3M na China e já pagas pela capital alemã.
Na sexta-feira, a 3M, uma empresa multinacional que produz máscaras e outros itens, disse que o governo de Trump pediu à companhia que interrompesse suas exportações de produtos fabricados nos Estados Unidos para o Canadá e para a América Latina.
A 3M rebateu Washington e disse que não acataria o pedido, alertando que a medida teria “implicações humanitárias significativas” e poderia levar a retaliações de outros países contra os EUA. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que o bloqueio de remessas de equipamentos médicos ao país seria um “erro”, um tiro que poderia sair pela culatra, lembrando que profissionais de saúde canadenses atravessam a fronteira todos os dias para trabalhar em cidades americanas.
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