Dezenas de milhares de trabalhadores participaram, dia 20, de uma paralisação nacional e de ações de solidariedade em mais de 25 cidades dos Estados Unidos respondendo à convocação do movimento Black Lives Matter (Vidas de Negros Importam), com o objetivo de denunciar o racismo e a injustiça econômica pela desigualdade salarial, a falta de seguros médicos para a maioria, e ausência de direitos trabalhistas básicos, incluído o de organizar sindicatos.
Nas cidades de Los Ángeles, Nova York (frente ao hotel Internacional Trump, entre outros lugares), Washington, San Francisco, Saint Louis, Minneapolis, Boston e Durham foram realizadas marchas, comícios e atos simbólicos.
Para destacar a unidade nacional da manifestação, às 12 horas do dia todos se ajoelharam durante oito minutos e 46 segundos, tempo que um policial colocou seu joelho sobre o pescoço do negro George Floyd provocando sua morte, como informaram os organizadores.
O sindicato nacional de serviços (SEIU), de caminhoneiros Teamsters, a Federação Americana de Professores (AFT), de Comunicação (CWA), o sindicato de atores (Actors’ Equity), músicos, enfermeiras e trabalhadores dos hospitais, assim como os do setor de fast food, jornaleiros, aeroportuários, trabalhadores da construção civil, empregadas domésticas, entre outros, participaram da paralisação, como registrou David Brooks, correspondente do diário mexicano La Jornada.
Os grevistas também exigiram benefícios e apoio para imigrantes que realizam trabalhos essenciais, elevar o salário mínimo em cadeias nacionais como McDonald’s e fornecer condições mais seguras ante a pandemia nos centros de trabalho de empresas como a AT&T de telecomunicações e UPS de entregas.
“Hoje estou com os trabalhadores ao longo do país que estão participando na #StrikeforBlackLives”, declarou o senador Bernie Sanders. “Os trabalhadores estão se levantando no país para dizer que a justiça econômica é justiça racial”, declarou o também senador do Partido Democrata, Ed Markey, que também participou nas manifestações.
Na Casa Branca, Trump disse que estaria enviando forças de segurança federais a cidades governadas por democratas para reprimir protestos vinculados com o movimento Black Lives Matter que considera inaceitáveis.
Confrontando críticas de autoridades locais e estaduais de Oregon, de parlamentares federais e organizações de defesa de liberdades civis contra a instalação de forças militarizadas, incluindo agentes secretos do Departamento de Segurança Interna em Portland, que feito provocações e agredido manifestantes com balas de borracha e gás lacrimogêneo, assim como prendido pessoas durante horas sem apresentar nenhuma acusação ou sob o deslavado pretexto de que estariam protegendo propriedades do governo federal, Trump insistiu dizendo que isso é necessário e esses grupos “estão fazendo um trabalho fantástico”.
Não satisfeito, o presidente ameaçou enviar forças de repressão similares a várias outras cidades e mencionou Oakland, Filadélfia, Chicago, Detroit Baltimore e Nova York; todas com prefeitos que chamou de ‘anarquistas’ e ‘democratas liberais’, e sublinhou que “estamos enviando forças de segurança pública… não podemos permitir que isso aconteça nas cidades”.
Porém, a repercussão e as imagens de forças federais em camuflagem e equipamento militar na cidade em que aconteciam protestos pacíficos, longe de apoio à atitude de Trump, provocaram denúncias de muitos políticos e defensores de direitos e liberdades civis. E, mais ainda, a poucos meses da eleição presidencial em que Trump disputa sua reeleição, só têm se multiplicado o número de manifestantes, vários acompanhados por grupos de mães, algumas com capacetes, gritando palavras de ordem como “Deixem nossos filhos em paz” e “Que fique claro, as mães chegaram”.
No Congresso, líderes democratas estão impulsionando uma investigação federal sobre possíveis violações à Primeira Emenda da Constituição (liberdade de expressão).
Laurence Tribe, professor de Lei Constitucional de Harvard, assinalou sobre as ordens de Trump em Portland e outras cidades: “assim é como começa. A fome ditatorial do poder é insaciável. Se houvesse um momento para a desobediência civil pacífica, esse momento está sobre nós”.