“Bolsonaro constrange as Forças Armadas há bastante tempo”, afirmou Raul Jungmann. “Não existe outro caminho [a punição de Pazuello], embora a responsabilidade maior do que se passou seja do presidente da República, que é o comandante supremo das Forças Armadas”
O ex-ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que Jair Bolsonaro é o maior responsável pela transgressão do general e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao Estatuto dos Militares e ao Regulamento Disciplinar do Exército.
Pazuello ignorou as regras militares e participou, no domingo (23), de uma manifestação junto com Jair Bolsonaro. O ex-ministro, sem máscara, até fez discurso no caminhão de som.
Para Raul Jungmann, Eduardo Pazuello foi à manifestação a mando de Jair Bolsonaro.
“Esse é mais um gesto que busca comprometer as Forças Armadas e por isso acredito que elas, mais uma vez, vão dizer não aos processos de constrangimento e de comprometimento delas com a Presidência da República. Elas ficam com a Constituição, com a disciplina e a hierarquia, que são seus fundamentos”, afirmou em entrevista ao Estadão.
Ainda na entrevista, Raul Jungmann disse que Jair Bolsonaro “vem constrangendo as Forças há bastante tempo para endossar os seus atos no embate com o Supremo Tribunal Federal, com o Congresso e com os governadores. Há um constrangimento e, mais do que isso, cria-se uma situação política absolutamente desnecessária e indesejável”.
Aqueles militares, dentro ou fora do governo, que não se submeteram a essas intenções golpistas de Bolsonaro foram perseguidos.
“Na medida em que as Forças, por meio de seus comandantes, não aceitaram essa vontade do presidente, os ex-comandantes foram destituídos. Eles eram insubordinados? Não. Eles cometeram alguma lesão à lei e à Constituição? Não. Eram ineficientes? Não. Eles tinham feito qualquer tipo de desvio? Não. Eram todos homens probos e decentes, com meio século de serviços prestados à Nação e foram demitidos sem nenhuma explicação”.
“Portanto, um ato político, porque não se dobraram à vontade do presidente. Conheço todos. Foram sacrificados, ceifados, porque disseram não ao presidente e sim à Constituição”.
PAZUELLO PUNIDO
O ex-ministro Jungmann defende que Eduardo Pazuello seja punido. “Não existe outro caminho, embora a responsabilidade maior do que se passou seja do presidente da República, que é o comandante supremo das Forças Armadas”, disse.
“Eu acho que se está fazendo uma cobrança que, aliás, é legítima e deve ser feita, porque o general Pazuello feriu o Regulamento Disciplinar do Exército e um dos fundamentos de qualquer força armada, que é a disciplina”.
“Não se pode admitir que as Forças Armadas, por meio de seus membros, em sendo instituição de Estado, como se encontra no artigo 142 da Constituição, tenham atitudes políticas ou de governo”.
“Diante disso é cabível uma sanção ao general. Mas eu acho que é preciso lembrar que esse ato e a convocação dele para que tomasse a palavra foram feitos pelo presidente da República, a quem cabe zelar pela hierarquia e disciplina das Forças Armadas”, acrescentou.
O ex-ministro da Defesa afirmou que a transgressão de Pazuello deve ser repudiada pelos democratas. “É preciso que todos se pronunciem dizendo que esse é um limite intransponível em um regime democrático, onde instituições de Estado não se confundem com as funções de governo”.
“É preciso que, no âmbito da sociedade ou do Congresso ou das lideranças, seja dado um enfático respaldo à hierarquia e disciplina das Forças. Um Exército tem por razão de ser a defesa da nação, portanto, a defesa de todos. Ele não se confunde com o governo de forma nenhuma”, continuou.