Com o aumento acelerado da participação dos produtos básicos na pauta exportadora brasileira, a balança comercial fechou o ano 2019 com os bens de baixo valor agregado (matérias -primas e alimentos) responsáveis por 52,8% do total das exportações. Foram soja, petróleo, minério de ferro, milho carne bovina e carne de frango. Só em dezembro, o índice foi ainda maior (55,4%).
Em 2018, os produtos primários (commodities) corresponderam a 49,81% das exportações.
Pela primeira vez em 40 anos, o total de produtos exportados ultrapassou a venda de produtos industrializados, os manufaturados, de maior valor agregado, para o exterior.
Uma economia com essa composição de sua pauta de exportação, dominada por produtos primários, remonta o país à Velha República do Café com Leite. A volta do país ao modelo primário-exportador revela que a já combalida indústria brasileira acelerou o seu desmonte. Nos últimos anos o Brasil vive um processo de desindustrialização e de desnacionalização.
“ANO DECEPCIONANTE PARA A INDÚSTRIA”
Como destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, “O ano de 2019 foi decepcionante para a indústria”.
“Este desempenho aquém do esperado foi analisado pelo Instituto sob diferentes óticas, tomando como base os dados da produção física, do valor adicionado que compõe o PIB do setor, sua participação na estrutura produtiva do país e seu peso na indústria mundial, entre outros aspectos. Um dos fatores que compuseram este quadro industrial foram os fluxos declinantes de comércio exterior do setor”, diz o instituto.
Ao analisar o resultado da balança comercial de 2019, o Iedi afirma que a “indústria brasileira deve muito provavelmente regredir mais um pouco no comércio internacional de manufaturas”.
“Entre 2017 e 2018, perdemos mais uma posição no ranking global, passando a ocupar a 32ª colocação, referente a apenas 0,62% das exportações mundiais desses bens. Nos últimos dez anos já perdemos três posições e 0,2 ponto percentual do total”.
“Agora em 2019, segundo os dados de hoje [2/1], a retração das exportações de manufaturados no acumulado do ano chegou a -11,1% na média por dia útil, para US$ 77,452 bilhões. Este resultado contribuiu negativamente para duas trajetórias: naquela da própria indústria, já que exportar menos foi um dos elementos da etapa recessiva pelo qual o setor passou em 2019; e no próprio resultado do comércio exterior do país”.
Analisando as variações interanuais, com base na média diária, as exportações de produtos industrializados foram os que mais recuaram no acumulado do ano de 2019, “contribuindo com mais da metade (57%) do declínio das exportações totais no acumulado do ano”, diz o Iedi.
QUEDAS GENERALIZADAS
“De fato, 2019 não foi um bom ano de nossa performance exportadora. Considerados todos os tipos de bens, as vendas externas do país (US$ 224 bilhões) recuaram -7,5% em relação a 2018, de acordo com as médias diárias, e não apenas devido a manufaturados. Semimanufaturados também ficaram no negativo, em -8%, e produtos básico registraram -2%. Ou seja, foi um ano de quedas generalizadas.”
A balança comercial brasileira fechou 2019 registrando o pior superávit desde 2015, quando o país enfrentava a maior recessão de sua história. Naquele ano, o saldo foi de US$ 19,5 bilhões de dólares.
No ano passado, o Brasil teve um saldo de US$ 46,7 bilhões, mas esse resultado ficou 19,6% abaixo do registrado em 2018 (US$ 58 bilhões). A corrente de comércio (a soma das exportações com importações) foi de US$ 401,363 bilhões, um recuo de 5,7% sobre os US$ 420,495 bilhões do ano passado.
O Iedi cita a “desaceleração do comércio mundial em 2019, decorrente do aumento de conflitos entre EUA e China”, entre outras áreas como a União Europeia. Segundo projeções da Organização Mundial do Comércio (OMC), o volume de comércio internacional de bens em 2019 (+1,2%) deve crescer menos da metade do que cresceu em 2018 (+3,0%).
Para o Iedi, “o que precisamos é nos aproximar mais do restante do mundo, exportando mais e importando mais, como reflexo de uma participação maior em cadeias globais de valor, que deve evoluir progressivamente em direção a produtos mais complexos e intensivos em tecnologia”.