Twitter e Facebook removeram uma fake news postada pelo presidente Donald Trump e por sua campanha na quarta-feira que dizia que ‘crianças são virtualmente imunes’ ao coronavírus. As postagens reproduziam vídeo de entrevista que Trump concedeu à Fox News.
Foi a primeira vez que Facebook removeu uma mentira de Trump. “Este vídeo inclui informações falsas de que um grupo de pessoas é imune à covid-19, o que é uma violação de nossas políticas sobre desinformação sobre a Covid prejudicial”, declarou o porta-voz do Facebook Andy Stone em comunicado.
Mais tarde, na quarta-feira, o Twitter anunciou que a conta da equipe de campanha do presidente Trump em 2020 seria impedida de postar até que removesse um tweet com o mesmo clipe, que mais tarde foi compartilhado pela conta pessoal de Trump. A porta-voz do Twitter, Liz Kelley, disse que a postagem violou as regras do site sobre “desinformação a respeito da Covid-19”. O vídeo foi apagado.
No segmento de entrevistas, que foi ao ar na Fox na manhã de quarta-feira, Trump pediu a reabertura das escolas em todo o país, alegando que a Covid-19 logo “iria embora” e que as crianças eram “virtualmente imunes” à doença.
“Vi alguns médicos dizerem que são totalmente imunes. Não sei, odeio usar a palavra “totalmente”, porque a notícia dirá “oh, ele usou a palavra totalmente e não deveria ter usado essa palavra” – mas o fato é que eles são virtualmente imunes”, afirmou Trump.
A entrevista à Fox News visava fazer a apologia da volta generalizada das crianças às escolas no início do ano letivo nos EUA em setembro, no momento em que os principais infectologistas do país alertam que a pandemia está inteiramente fora de controle no país.
Assim, ele insistiu em que “as escolas devem estar abertas”, disse Trump. “Se você olhar para as crianças, as crianças são quase – e eu quase diria definitivamente – mas quase imunes a essa doença… Elas têm sistemas imunológicos muito mais fortes do que [adultos] fazem de alguma forma para isso. Elas não têm um problema”.
Apesar de haver uma concordância entre especialistas médicos de que as crianças são menos propensas a experimentar sintomas graves de Covid-19, elas ainda correm o risco de contraí-la e vários pacientes jovens sucumbiram à doença, alguns com condições pré-existentes e co-mórbidas.
A entrevista à Fox News também era parte de um esforço para deter a queda nas pesquisas sobre a eleição de novembro, de que sua incompetência e obscurantismo no enfrentamento da pandemia são um ponto chave. Mas ele vai tentando tudo, de voltar a prescrever cloroquina a torto e a direito, até usar pela primeira vez uma máscara facial.
Na segunda-feira à noite, em entrevista ao site de notícias Axios, ao ser questionado sobre os mais de 155 mil norte-americanos que morreram de Covid-19, recorde mundial, e os 4,6 milhões de casos, também indisputado galardão, Trump asseverou que a pandemia está “sob controle o máximo que se pode” nos EUA.
“É O QUE É”
“É o que é”, disse Trump sobre a catástrofe de que é o maior responsável, por suas convocações a que era uma “gripe comum” que “iria embora no calor da primavera”, sua incompetência em iniciar rapidamente a testagem, o deixa-correr só interrompido quando a Bolsa de Wall Street quebrou no meio de março, quando só então deu ouvidos aos infectologistas.
O presidente reality-show prosseguiu: “as pessoas estão morrendo, é verdade”. “Mas isso não significa que não estamos fazendo tudo o que podemos. Está sob controle o máximo que se pode controlar. Essa é uma praga horrível.”
Há duas semanas, andara ensaiando uma fritura do principal epidemiologista dos EUA, Anthony Fauci, por estar dizendo o óbvio, que a pandemia estava fora do controle em alguns dos estados mais populosos do país, como Flórida, Califórnia e Texas.
Depois andou reclamando da “injustiça” cometida pela população, que em pesquisas manifestava o dobro da aprovação do Dr. Fauci em comparação com a dada a ele e seu “maravilhoso trabalho”.
“PATÉTICA”
No domingo, a coordenadora de respostas da força-tarefa contra o coronavírus da Casa Branca, Dra. Deborah Birx, disse à CNN que os Estados Unidos entraram em uma nova fase da disseminação do coronavírus. “Está extraordinariamente generalizado. Está nas áreas rurais e nas cidades”, advertiu.
Ela chegou a dizer que se tem, agora, algo como “três nova yorks” simultaneamente. Também o Dr. Fauci tem chamado os governos estaduais a adequarem seus planos contra o coronavírus a esse quadro de descontrole.
Furibundo, Trump reagiu postando que a Dra. Birx era “patética” e tinha “nos atingido”. Acusou a infectologista de ter mordido a isca da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, que a havia criticado.
Na entrevista ao portal Axios, Trump novamente insistiu que aumento de casos nos EUA é explicado pelo aumento dos testes de diagnóstico.
Tese negada pelos especialistas, já que o aumento dos casos nos EUA está muito mais acelerado que o aumento da testagem. Além de que a hiperprivatização da saúde nos EUA acarreta que o objetivo da testagem, que é descobrir os contagiados e seus contatos, rastrear e testar esses contatos e isolar e tratar os doentes, está muito aquém do que é necessário pela dimensão da pandemia em curso.
Ao se sentir encurralado pelos fatos sobre sua incúria diante da pandemia, Trump adora se esconder atrás do desastre encabeçado por seu amigo presidente Bolsonaro, dizendo que “olhem o Brasil”, ali é que a coisa está feia. O que voltou na fazer na quarta-feira.