![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2020/06/fulo-de-volta-a-casa-branca-ap-1.jpeg)
“Diminuam a testagem”, senão vão achar mais casos, explicou o presidente bilionário no comício
Autoridades médicas e líderes políticos condenaram nos Estados Unidos de forma veemente a declaração do presidente Donald Trump de que tinha orientado o pessoal dele para “reduzir a testagem” do coronavírus, feita no comício-fiasco de Tulsa no sábado, porque quando testa muito, descobre muitos casos.
“Você sabe que o teste é uma espada de dois gumes”, disse Trump. “Aqui está a parte ruim… quando você faz testes nessa medida, você vai encontrar mais pessoas; você vai encontrar mais casos. Então eu disse ao meu pessoal, diminuam a testagem, por favor.”
Isso foi dito quando os EUA são recordistas mundiais de doentes do coronavírus, tendo acabado de atingir a marca dos 2,3 milhões de casos, e 120 mil mortes, também recorde mundial, mais do que os mortos norte-americanos na I Guerra Mundial.
Porta-voz da Casa Branca tentou remendar a desastrosa declaração, dizendo que Trump “estava obviamente brincando”. “Uma ironia”, explicou seu conselheiro da guerra comercial, Peter Navarro.
Indignado, o Dr. Ashish Jha, diretor do Instituto Global de Saúde de Harvard, em entrevista à CNN no domingo, disse que isso é “incrivelmente frustrante para os milhões de americanos que adoeceram e não foram capazes de fazer testes”. “Incrivelmente frustrante para as pessoas que perderam familiares em asilos, porque não fomos capazes de testar residentes e trabalhadores de asilo, ou trabalhadores de fábricas de processamento de carne”, acrescentou. “Infelizmente, não é uma piada”.
“O povo americano merece respostas sobre por que o presidente Trump quer menos testes quando especialistas dizem que muito mais é necessário”, disse a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.
O governador de Nevada, o democrata Steve Sisolak, disse ao vice-presidente Mike Pence em uma teleconferência com governadores na segunda-feira que os comentários do presidente não ajudavam e pediu garantias de que não há uma ordem federal para retardar a testagem.
Após a indiscrição de Trump no comício, senadores da oposição enviaram carta ao secretário de Saúde Alex Azar, indagando de por que dos US$ 25 bilhões que o Congresso destinou à testagem e monitoramento de contágios, até aqui só foram disponibilizados aos Estados US$ 8 bilhões.
“A citação de ontem à noite foi a progressão natural do que ele vem dizendo publicamente há um tempo: se você não testar, então não há um problema”, disse Juliette Kayyem, ex-secretária adjunta do Homeland. “Você não precisa procurar muito para saber que Trump tem sido um cético quanto a testes e ontem à noite ele apenas disse isso em voz alta.”
À Fox News, a assessora do pré-candidato a presidente Biden, Symone Sanders, afirmou que a declaração de Trump era “uma tentativa terrível de diminuir os números” apenas para fazê-los “parecerem bons”. “Isso é o que será lembrado muito tempo depois do fracassado comício [de Tulsa]: a admissão do presidente de que ele retardou os testes para seu benefício político”.
“BRINCADEIRA”?
Por sua vez o diretor de comunicação da campanha de Trump, Tim Murtaugh, ao insistir na defesa da declaração de Trump sobre “reduzir a testagem” e de que seria “brincadeira”, acabou sendo desancado pela âncora da CNN, Brianna Keilar.
“Agora, há 120 mil americanos mortos. Não acho engraçado. Você acha isso engraçado?”.
Enquanto a cidade de Nova Iorque entrava na fase 2 da reabertura, Estados como Arizona, Flórida e Texas se tornaram os novos focos da pandemia, e a Califórnia, que já fora duramente atingida, voltou a vivenciar aumento de casos.
Na semana passada, pelo menos 12 Estados atingiram novos recordes pelo menos uma vez, e 21 bateram o recorde da média de sete dias. As autoridades de saúde do Arizona informaram 2.592 novas infecções no domingo. O total de casos do estado quase dobrou em 14 dias. O Texas enfrenta uma crise semelhante e agora tem regularmente pelo menos 3.000 novos casos por dia. O número de casos na Flórida já ultrapassou os 100 mil.
“INCÊNDIO FLORESTAL”
A falta de uma política unificada nacional de enfrentamento da pandemia foi assinalada por Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, em entrevista à rede de tevê NBC. Ele comparou a pandemia a um “incêndio florestal” cuja expansão é exacerbada pela falta de estratégia da Casa Branca.
“Neste momento, não temos um plano nacional que realmente monte o que estamos tentando fazer. Temos 50 estados diferentes, o Distrito de Columbia, os territórios, todos com seu próprio plano”, disse Osterholm.
“Estamos em 70% do número de casos hoje que estávamos no auge dos casos de pandemia no início de abril, e ainda não vejo nenhum tipo de ‘é para onde precisamos ir, é isso que precisamos fazer’, e esse é um dos nossos desafios.” Para piorar, até o insuficiente que havia está sendo desmantelado. Já se passaram quase dois meses da última coletiva da força-tarefa anticoronavírus da Casa Branca e um mês desde que a Dra. Deborah Birx respondeu perguntas sobre a pandemia. Segundo uma pessoa próxima ao Dr. Anthony Fauci, o principal infectologista dos EUA, não há qualquer plano de trazer de volta as conferências de imprensa diárias que antes eram realizadas.