![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2019/02/Família-Bolsonaro.jpg)
MP do Rio investiga lavagem de dinheiro através de desvio de dinheiro público dos gabinetes parlamentares. Lavagem se dava através de funcionários fantasmas
Reportagem do jornal Folha de S. Paulo desta quarta-feira (23) revela que a família Bolsonaro usou dinheiro vivo para cobrir várias despesas de suas campanhas eleitorais. A prática de usar dinheiro vivo para pagar essas despesas, pelo que mostra a reportagem, é um fato corriqueiro na família Bolsonaro. Transações em espécie não necessariamente configuram crime, mas usadas desta forma podem ter como objetivo dificultar o rastreamento da origem de valores obtidos ilegalmente.
O esquema funcionava por meio de autodoações em dinheiro vivo e de depósitos em espécie feitos por um membro da família em favor de outro. Em duas candidaturas, a utilização de cédulas foi responsável por cerca de 60% da arrecadação da campanha. Os depósitos em dinheiro vivo para o financiamento de campanha foram identificados nos processos físicos das prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral. O elevado uso de dinheiro vivo nas campanhas destoa da prática de outras candidaturas bem-sucedidas naqueles anos.
Entre as campanhas eleitorais da família, a que mais recebeu recursos em espécie foi a do vereador Carlos Bolsonaro à Câmara Municipal do Rio em 2008. Naquele ano, Carlos doou para a própria campanha R$ 10 mil em dinheiro vivo. Flávio também colocou R$ 10 mil e, Jair, R$ 15 mil. Os R$ 35 mil em espécie injetados pela família representam cerca de 60% de todos os recursos angariados por Carlos naquela campanha.
Flávio Bolsonaro era vezeiro em pagar contas pessoais e até a quitação de imóveis com dinheiro em espécie, o que levou o Ministério Público a investigá-lo por suspeita de lavagem de dinheiro, no inquérito sobre as “rachadinhas”, ou o uso de funcionários fantasmas que eram contratados em seu gabinete parlamentar no Rio e que devolviam parte de seus salários para o então deputado estadual. Fabrício Queiroz, assessor de Flávio fez 21 depósitos no valor total de 89 mil reais na conta da atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) detectou que o assessor de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio, Fabrício Queiroz, responsável pela operação do esquema com os funcionários fantasmas, movimentou R$ 7 milhões em sua conta pessoal entre 2014 e 2018. Durante todo esse período, e até antes, Jair Bolsonaro e seus filhos fizeram sucessivas doações em dinheiro vivo para irrigar suas próprias campanhas eleitorais, revela a reportagem da Folha.
Só a figura do senador Flávio Bolsonaro, já movimentou mais de R$ 3 milhões em dinheiro vivo nos últimos 25 anos. Entre as operações em espécie, segundo as apurações, estão a compra de imóveis, a quitação de boletos de planos de saúde e da escola das filhas de Flávio, o pagamento de dívidas com uma corretora e depósitos nas contas da loja da Kopenhagen da qual o senador é dono. O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que o filho mais velho do presidente tenha utilizado recursos obtidos com o suposto esquema de devolução de salários em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa para permitir essas operações em benefício pessoal.
De 2007 a 2018, ex-assessores de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio sacaram mais de R$ 7 milhões de suas contas. O Ministério Público do Rio suspeita que parte desses saques possa ter sido repassada a Fabrício Queiroz em mãos, dificultando a rastreabilidade. Ainda segundo a Promotoria, esses recursos eram usados para pagar, em dinheiro vivo, despesas de Flávio, incluindo boletos de plano de saúde e escola, parcela de imóvel e pagamento de dívida com um PM, entre outros
Segundo as investigações do Ministério Público do Rio, além das campanhas eleitorais, os valores do esquema de lavagem de dinheiro foram operacionalizados pelo senador Flávio Bolsonaro, em sua maior parte, por meio de sua franquia da Kopenhagen (R$ 1,71 milhão), compra de imóvel (R$ 638,4 mil), boletos de plano de saúde e escola (R$ 261,6 mil) e depósitos em conta (R$ 133 mil).