O filho de nove anos e a filha de 15 do operário brasileiro Marcio Goulart do Nascimento e sua esposa, Eliane, continuam em abrigos em locais não identificados nos EUA, após o casal ter sido detido ao entrar no país no início do mês passado e ser detido pela guarda da fronteira. O total de crianças brasileiras separadas dos pais subiu para 58, segundo o Itamaraty, estando em 16 abrigos espalhados por Nova Iorque, Los Angeles, Chicago, Miami e Houston.
Nascimento se declarou culpado de entrada ilegal em audiência realizada no dia 15 em El Paso, Texas, mas pediu a compreensão do juiz, afirmando ter fugido com a família de Vitória, no Espírito Santo, com medo de ser morto por traficantes após ter denunciado um ponto de venda de drogas no bairro em que morava. O julgamento foi suspenso após Nascimento passar mal, sofrendo convulsão.
Eliane chegou a ficar presa, mas já foi liberada, conforme registrou o G1. A última vez que os dois viram os filhos foi quando foram detidos a uma milha da Ponte Internacional de El Paso. Como relatou o advogado norte-americano Adolfo Lopez, que o representa no julgamento por ingresso ilegal, um agente da fronteira “observou o grupo andando no lado americano da estrada, fez a abordagem, questionou sobre os papéis de cidadania deles e todos declararam ser cidadãos brasileiros”.
Antes de passar mal, Nascimento, de 38 anos, disse ter sabido na véspera da audiência que a pessoa que os ajudara a fugir para os EUA havia sido morta pelos traficantes. “Por favor, me perdoe. Eu vim com toda a minha família porque não queria que morrêssemos”, reproduziu o Guardian.
Se Nascimento, ao invés de entrar ilegalmente, cruzasse no ponto oficial e tentasse pedir asilo, não ia conseguir senão ser deportado sumariamente sob a política de “tolerância zero” de Trump em vigor desde maio. “As coisas estão muito malucas por aqui e eles não estão deixando as pessoas entrarem mais, não estão deixando atravessarem a ponte do México para os Estados Unidos”, disse Lopez. De acordo com o advogado, Nascimento tem conseguido se comunicar com a família e está aguardando a decisão do juiz.
Depois da indignação tanto interna quanto internacional com a separação de mais de 2 mil crianças de seus pais e as jaulas das ‘baby jails’, o governo Trump se viu forçado a recuar, passando, contra o bom senso e a lei internacional, a manter presas as crianças com os pais. Trump também pediu ao Pentágono para preparar campos de concentração para imigrantes em bases militares. No dia 27, um juiz federal da Califórnia deu prazo de 30 dias para que o governo devolva às famílias todas as duas mil crianças que permanecem separadas. Há crianças que continuam nos abrigos nos EUA, mas os pais já foram deportados.