Filme francês mostra crimes de neonazis no golpe que instalou poder atual na Ucrânia

Partido nazista Svoboda faz marcha de tochas no estilo hitleriano em Kiev (extraída de vídeo)

O filme sobre a “revolução colorida”, “Ukraine: Les Masques de la Révolution” (“Ucrânia: As Máscaras da Revolução”), do diretor francês Paul Moreira é um documentário sobre a crise instaurada na Ucrânia com a tomada do poder através do golpe da praça Maidan, instalando em Kiev uma junta neonazi a serviço da Casa Branca.

Ele foi realizado no âmbito do projeto “Special Investigation” (“Investigação Especial”) e foi exibido no canal de televisão francês Canal+ em maio de 2016.

Na época – como se podia esperar – a embaixada da Ucrânia na França pressionou o Canal+ para que  desistisse de mostrar o filme, apoiada por setores da embaixada dos EUA.

A irritação do governo ucraniano deveu-se à determinação de Paul Moreira de contar dois episódios importantes no conflito naquela região: o surgimento de unidades paramilitares no processo de preparação do golpe de Estado conhecido como ‘Revolução EuroMaidan’ que derrubou o presidente Viktor Yanukovitch, e também o massacre em Odessa em 2 de maio de 2014, realizado pelas gangues extremistas. 

Em relação à tragédia em Odessa, o diretor francês tentou falar com testemunhas e participantes dos eventos, tanto com as vítimas, quanto com os nacionalistas para conseguir uma imagem imparcial e multifacetada. 

“Mais de quarenta pessoas foram queimadas vivas no centro de uma cidade europeia no século XXI com dezenas de câmeras e telefones inteligentes em toda parte, e ninguém geralmente lembra esta tragédia”, disse Moreira em seu blog dedicado à crítica de seu trabalho.

Em 2 de maio de 2014, dezenas de ativistas do movimento de protesto contra o golpe ocorrido em Kiev morreram no edifício da Casa dos Sindicatos de Odessa, incendiado por radicais da facção ultra-chauvinista ucraniana denominado “Setor de Direita” e seus cúmplices. De acordo com relatórios recentes, 48 pessoas morreram e 214 ficaram feridas. 

“Durante meus estudos sobre o massacre — muitas vezes ignorado em nossa mídia —, tenho percebido a importância das milícias ditas nacionalistas”, disse Moreira. “Os batalhões de voluntários não são parte do exército, não estão sob a mesma disciplina, podem complementar o governo ou criar uma força policial paralela, e às vezes mostram uma ideologia neo-nazista”, diz o diretor.

Moreira acredita que a integração gradual dos radicais nas forças de segurança ucranianas foi devido à fraqueza das autoridades e apresenta um desafio para o futuro, visto que os batalhões de voluntários mantêm certa autonomia em relação ao controle central e, por vezes, têm as suas próprias linhas de abastecimento.

Além disso, o diretor destacou em seu filme as frequentes visitas de diplomatas norte-americanos à Ucrânia e a brusca mudança de diretriz do país em proximidade com os Estados Unidos depois do golpe.

Uma cena chocante nos primeiros minutos do filme são as imagens da Subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos Estados Unidos desde 2021, Victoria Nuland, distribuindo pãezinhos para os manifestantes, se passando como um deles. Já no final do documentário aparece na sua função oficial ressaltando que “nós fornecemos uma assistência militar permanente na defesa, mas do que qualquer outro país, tanto na formação quanto no equipamento”.

IMPUNIDADE

“Parece que a Ucrânia era um peão no xadrez geopolítico dos EUA contra a Rússia”, constata Moreira no documentário.

Quanto aos eventos em Odessa, as autoridades ucranianas afirmam realizar uma investigação, mas desde a tragédia ninguém com cargos oficiais foi acusado, e os assaltantes do Edifício de Sindicatos continuam impunes.

“Eu fui chamado de ‘terrorista’ trabalhando para os russos em um site ucraniano. Eles exigiram que o filme seja proibido. E o embaixador da Ucrânia até foi pressionar o Canal+”, lamentou Moreira, afirmando que não conseguirão que afrouxe a denuncia desses fatos.

Veja o filme, disponível no Youtube: