O bolsonarismo já vem desmontando as estruturas de combate à corrupção desde o primeiro dia de governo. A primeira vítima foi o Coaf, depois a Superintendência da PF do Rio, agora é a vez da Lava Jato
Jair Bolsonaro está jogando as suas fichas na colaboração estreita do procurador-geral da República, Augusto Aras, com o governo e também intensifica seus ataques a Sérgio Moro e à Operação Lava Jato.
O escalado da vez para atacar Moro foi o senador Flávio Bolsonaro, que é investigado por lavagem de dinheiro, corrupção e por criar uma organização criminosa instalada em seu gabinete, quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Ele disse em entrevista ao “O Globo”, nesta quarta-feira (05), que Moro cometeu injustiças e que a operação Lava Jato teria “tido excessos”.
“Qualquer investigação tem que acontecer dentro da lei e os excessos precisam ser investigados. Não dá para a gente jogar uma partida de futebol, um time fazer gol de mão e o outro aceitar”, disse Flávio, insinuando que as investigações da Lava Jato cometeram ilegalidades.
“Pelo que acompanho, há suspeitas de que pessoas com foro por prerrogativa de função estavam sendo investigadas por procuradores de 1ª instância, inclusive alterando os nomes dos investigados para não ficar claro que se tratava de um senador ou de um deputado (o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o do Senado, Davi Alcolumbre, foram citados em investigações da Lava Jato de Curitiba, mas com outros sobrenomes)”, prosseguiu o senador.
“Pelo que acompanho, há suspeitas de que pessoas com foro por prerrogativa de função estavam sendo investigadas por procuradores de 1ª instância”
A aproximação do discurso de Flávio Bolsonaro ao que o PT já vem fazendo há algum tempo para enfraquecer a Lava Jato e Moro tem uma explicação. O ponto em comum é o interesse em enfraquecer Moro.
Bolsonaro já vem desmontando as estruturas isentas de combate à corrupção desde o primeiro dia de governo. Seu objetivo é se apoderar da máquina para perseguir a oposição. A primeira vítima do bolsonarismo foi o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que havia detectado a movimentação suspeita no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro. O presidente não sossegou enquanto não desativou o órgão que denunciou seu filho.
A segunda vítima, como todos se recordam, foi a superintendência da PF no Rio de Janeiro. Neste momento Sergio Moro abandonou o barco bolsonarista.
O presidente afaga Augusto Aras – até com promessa de uma vaga no STF – para que seus crimes e de seus aliados sejam engavetados e, ao mesmo tempo, incentiva os ataques do procurador-geral às forças tarefas da Operação Lava Jato, para atingir Sérgio Moro. Aras seguiu à risca isso quando atacou a Lava Jato recentemente em reunião do Conselho Superior do Ministério Público.
“O [Augusto] Aras [procurador-geral da República] tem feito um trabalho de fazer com que a lei valha para todos. Embora não ache que a Lava Jato seja esse corpo homogêneo, considero que pontualmente algumas pessoas ali têm interesse político ou financeiro”, afirmou o senador do Republicanos.
“O [Augusto] Aras [procurador-geral da República] tem feito um trabalho de fazer com que a lei valha para todos”
Flávio Bolsonaro tentou explicar que seu pai não estaria “desmontando a estrutura de combate à corrupção, como dizem por aí”. “Se tivesse desmonte das investigações no Brasil, não íamos estar presenciando essa quantidade toda de operações”, argumentou o senador.
Curioso é que nenhuma dessas operações mais recentes, citadas por Flávio, investiga, por exemplo, a venda de uma carteira do Banco do Brasil, no valor de R$ 3 bilhões, ao BTG Pactual, banco fundado por Paulo Guedes, por apenas R$ 300 milhões. Nem houve operação alguma contra os “laranjas” do Ministério do Turismo. Nem mesmo a venda de três plataformas da Petrobrás que custaram R$ 600 milhões, pela metade do valor da lancha do Eike Batista, ou seja, R$ 7 milhões, foi investigada.
Com os últimos movimentos de Bolsonaro, de tentar aparelhar ilegalmente a Policia Federal, como denunciou Sérgio Moro, ao sair do governo, ou de criar as tais “Abins paralelas” e fabricar dossiês secretos, ou mesmo de querer ressuscitar o velho e carcomido SNI, como ocorreu nesta semana com a criação do Centro de Inteligência Nacional (CIN), o que eles querem na verdade é perseguir desafetos e controlar as estruturas para que as investigações não os atinjam.
QUEIROZ PAGOU MINHAS CONTAS. E DAÍ?
Peguntado na entrevista por que ele teria mandado Queiroz pagar despesas pessoais suas com dinheiro vivo, Flávio desconversou. “Pode ser que, por ventura eu tenha mandado, sim, o Queiroz pagar uma conta minha. Eu pego dinheiro meu, dou para ele, ele vai ao banco e paga para mim. Querer vincular isso a alguma espécie de esquema que eu tenha com o Queiroz é como criminalizar qualquer secretário que vá pagar a conta de um patrão no banco. Não posso mandar ninguém pagar uma conta para mim no banco?”, declarou ao jornal.
Sobre o plano de saúde dele ter sido pago com mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo, Flávio disse que, se diluir em 12 anos, “não é muito”. “Vai dar R$ 1.000 por mês [se diluir]. Isso é muito? Não é muito. Qualquer plano familiar baratinho é mais do que isso. Não tem ilegalidade. A origem dos recursos é toda lícita. Tenho uma vida simples para caramba”, afirmou.
Ele só não explicou o fato de que entregava dinheiro vivo para Queiroz pagar suas despesas e de sua família, mas não fazia saques em sua conta, nem de sua mulher. O dinheiro, pelo jeito, caia do céu, como chuva, com as notas muito bem lavadinhas.