Pretexto do senador investigado para escapar da acareação com empresário foi que o foro privilegiado permite a ele escolher a data e hora que ele quiser para depor
O senador Flávio Bolsonaro, investigado por desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa quando era deputado estadual pelo Rio, decidiu nesta quarta-feira (19) não comparecer no dia 21 de setembro à acareação com o empresário Paulo Marinho, marcada pelo Ministério Público Federal (MPF) no procedimento que investiga um vazamento de informações sigilosas sobre a Operação Furna da Onça, deflagrada em 2018.
Em nota, a defesa do senador Flávio Bolsonaro afirmou que “não foi intimada sobre o agendamento de qualquer ato processual” e acrescentou que há “a prerrogativa legal dos parlamentares federais de ajustar dia e hora da sua conveniência com as autoridades para a realização de depoimentos”. Paulo Marinho também disse não ter recebido “nenhuma convocação” mas reforçou estar à disposição do MPF.
Sob o comando do procurador Eduardo Benones, responsável por intimar Flávio e Marinho, o procedimento apura, até agora, crime de um ou mais servidores públicos que podem ter vazado informações sobre a operação da PF. Os advogados Luciana Pires e Rodrigo Rocca afirmaram que Flávio não terá disponibilidade em 21 de setembro. O senador pretende verificar sua agenda e, de acordo com as possibilidades, responder à intimação enviada pelo MPF através da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Paulo Marinho afirmou, em seu depoimento, que Flávio o procurou no dia 13 de dezembro em sua casa com a informação de que havia recebido a informação por parte de um delegado da Polícia Federal sobre uma operação. A reunião existiu e foi confirmada pelo próprio parlamentar.
A Operação era a Furna da Onça que seria deflagrada para investigar um esquema de subornos e propinas na Assembleia Legislativa do Rio. O delegado informou que o seu nome e o de seu assessor, Fabrício Queiroz, apareceriam num relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que estava em poder da PF e mostrava movimentações financeiras suspeitas dos dois.
Segundo Marinho, Flávio o procurou na época a mando de seu pai, Jair Bolsonaro, para pedir ajuda.
Neste momento, Flávio foi orientado a afastar Queiroz de seu gabinete e sua filha do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Os dois foram exonerados em seguida à realização da reunião.
O advogado Victor Granado Alves, presente à reunião, e que já havia admitido que participou da reunião com Flávio e Paulo Marinho na residência deste, nesta mesma data, alegou que estava ali na condição de advogado e que, por isso, tinha direito ao sigilo profissional. Não quis dar nenhuma informação.
“Em relação ao depoimento do senhor Paulo Marinho, embora ele [Flávio] também afirme que tenha estado nessa reunião do dia 13 de dezembro na casa do senhor Paulo Marinho, ele negou fundamentalmente que tenha havido qualquer tipo de conversa por parte do senhor Vitor Granado. Ele contradisse o senhor Paulo Marinho. Essa é a parte do Paulo Marinho falando sobre esse suposto vazamento da Operação Furna da Onça”, disse o procurador Benones, ao falar do depoimento de Flávio.
O advogado de Flávio Bolsonaro, Victor Granado Alves, participou do encontro com o delegado da PF que vazou as informações sigilosas da operação Furna da Onça. O encontro entre Granado e o delegado aconteceu na porta da Superintendência da PF, no Rio de Janeiro, uma semana depois do primeiro turno da eleição de 2018.
Os documentos que embasaram a Furna da Onça foram responsáveis por revelar as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz também depôs sobre o caso, em junho, e disse desconhecer o vazamento – ele será ouvido novamente no início de setembro, para esclarecer dúvidas da procuradoria.
A acareação marcada pelo MP visava exatamente colocar o senador, que nega que tenha havido a reunião com esse objetivo, e o empresário Paulo Marinho, que afirma ter provas de que está falando a verdade quando diz que Flávio o procurou depois de receber a notícia vazada de que a PF iria deflagrar a Operação Furna da Onça. A ausência do senador conta pontos negativos para ele nas investigações em curso.
HISTÓRICO
Paulo Marinho relatou ao Ministério Público e à Polícia Federal que Flávio Bolsonaro escolheu três pessoas que trabalharam com ele para pegar a informação com um delegado da PF que havia telefonado para Miguel Ângelo Braga. Victor Granado, amigo de Flavio; Valdenice Meliga, ex-assessora; e Miguel Ângelo Braga, atual chefe de gabinete de Flávio foram escolhidos para se encontrarem com o delegado.
“O Flavio designa então que o Braga, o Victor e a Val fossem ao encontro dessa pessoa para saber do que se tratava. E aí fizeram contato e marcaram um encontro na porta da Polícia Federal. Este suposto delegado disse aos três ou disse ao Braga: ‘Vocês, quando chegarem, me telefonem que eu vou sair de dentro da Superintendência, até para você ver que sou um policial que estou lá dentro, e lá fora a gente conversa’”, afirmou Marinho.
O empresário disse que Victor, então, conta que o delegado antecipou a Operação Furna da Onça. E vazou outra informação: que a operação não seria deflagrada no mês da eleição de 2018 para não atrapalhar.
“E aí esse delegado disse a eles: ‘Essa operação vai alcançar o Queiroz e a filha dele. Estão no seu gabinete e no gabinete do seu pai. Tem movimentação bancária e financeira suspeita. E nós estamos aqui… eu estou… eu sou simpatizante do seu pai, do Bolsonaro, e vamos tentar não fazer essa operação agora entre o primeiro e o segundo turno para não criar nenhum embaraço durante a campanha’“, relatou Marinho.
“Como disse que a operação não iria acontecer antes do segundo turno para não criar nenhuma dificuldade, eventualmente, pela narrativa que a operação ia trazer, pela presença do Queiroz e da filha”, acrescentou o empresário. “Porque logo após o encontro, Queiroz e filha são demitidos, tá certo? Então, Flávio deve ter informado ao pai, e o pai, imediatamente, mandou demitir”, completou Marinho, em seu depoimento. A Operação foi deflagrada no dia 8 de novembro, após o segundo turno das eleições.
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