O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) contestou as declarações do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, na última sexta-feira (14), de que a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta por interferir em interesses de milicianos sobre loteamento de terras em regiões periféricas da capital.
Durante entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, Nunes falou sobre um plano interceptado pelo setor de inteligência da Secretaria de Segurança, no qual foi identificada uma tratativa para matar Freixo em um evento que aconteceria sábado (15) e novas descobertas do caso Marielle que associaria o assassinato da vereadora a sua atuação contra a grilagem de terras na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Freixo disse que Nunes precisa apresentar provas sobre a suposta motivação do assassinato, que já completou nove meses e ninguém foi preso.
“Eu não tenho dúvidas de que Marielle provocou desconforto em alguém, mas esta me parece uma frase para ganhar tempo até o final do ano. O secretário não deve dizer o que acha. Precisa mostrar o que leva ele a esse entendimento. Pode ser milícia? Pode. Alguma questão fundiária? Pode. Mas não acredito que apenas esse debate tenha colocado a vida dela em risco. A investigação só avança quando provas são apresentadas. Frases não bastam”, acrescentou Freixo ao comentar declarações de Nunes.
De acordo com o parlamentar, que teve Marielle integrada a sua equipe por mais de dez anos, a vereadora não aparentava se sentir ameaçada na véspera, quando se falaram pela última vez. Freixo disse desconhecer uma atuação substancial da vereadora na área fundiária.
“Marielle não era inexperiente, me viu ser ameaçado por diversas vezes e sabia bem até onde podia ir. O máximo de envolvimento que soube da relação dela com a questão fundiária foi um trabalho realizado pela sua assessoria na região das Vargens, na zona oeste. Nunca soube da presença dela em reuniões e não me parecia algo que a colocasse em risco”, argumentou Freixo.
Para o deputado, a não elucidação do crime permite que grupos paramilitares se sintam livres para seguir intimidando autoridades e cidadãos comuns.
“A ameaça é à democracia. A morte da Marielle é a morte da democracia. A minha vida ou a da Marielle não são mais importantes do que a de ninguém. Mas as providências têm que ser tomadas em nome das pessoas que sofrem disso diariamente. Se não descobrirmos quem matou Marielle, estamos dizendo que um grupo político pode matar quem quiser. Promotores, jornalistas, estão todos sob ameaça, caso mexam com seus trabalhos”, disse o deputado.
Na ultima quinta-feira (13), a Policia Civil cumpriu 15 mandados de prisão e busca e apreensão afirmando que essas ações se originaram de inquéritos que correm em paralelo à investigação principal do caso Marielle. Mas ninguém relacionado ao caso da vereadora foi preso, a polícia se negou a dar qualquer detalhe e apesar do estardalhaço ainda não se sabe porque a vereadora foi assassinada, não se sabe quem mandou matar, nem qual foi o esquema organizado pelos criminosos.
A Policia Civil se reservou o direito de dizer apenas que “toda a investigação é cercada de sigilo e estratégia. O que a gente tem feito hoje é uma ação estratégica ligada ao crime da morte do Anderson e da Marielle. O sigilo é importante, se eu falar alguma coisa eu estrago a estratégia. O que a gente pode dizer para a sociedade é que nós estamos trabalhando muito”, disse o chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Rivaldo Barbosa.