Na última sexta-feira (16), o Congresso Extraordinário da União Nacional dos Estudantes (UNE), debateu as ameaças do governo Bolsonaro à democracia e os impactos dos desmandos de seu governo nas periferias do país. A conferência contou com dois diferentes posicionamentos sobre os caminhos para o enfrentar Bolsonaro: a defesa da frente ampla democrática, por parte do deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) e a proposta da chamada frente de esquerda, defendida pelo deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ). .
A conferência virtual também contou com a participação de Eliane Martins, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos-MTD; e Juliete Pantoja, representando a coordenação nacional do Movimento de Luta no Bairros (MLB).
Marcelo Freixo falou da importância de se unir os mais diversos setores da sociedade para combater e isolar o governo Bolsonaro, construindo uma frente democrática para derrotá-lo.
“Nós temos um governo fascista, nós temos que ter a dimensão do que significa ter um governo fascista. Um projeto de sociedade miliciana que tem mais armas do que escolas, tem mais munição do que vacina, onde tem uma ordem do crime sobre a ordem da lei, onde se faça uma cultura de policiamento bolsonarista sem a garantia de direitos”, disse Freixo.
Freixo explicou que “quando a gente enfrenta as milícias, a gente está enfrentando um projeto de poder amparado no crime. Hoje milícia não é só uma tipificação penal, milícia é um projeto de sociedade que está em disputa nesse momento A disputa aqui no Rio de Janeiro, que em alguma medida se alastra pelo país, é uma disputa contra o crime, contra a ordem do crime. É o crime como um projeto de poder, é isso que Bolsonaro nacionaliza.”
Para Freixo, o bolsonarismo é o herdeiro direto do fascismo que se expressou preponderantemente na Itália de Mussolini e do integralismo, existente na primeira metade do século XX no Brasil, apontando que, deste modo, “o bolsonarismo é anterior ao Bolsonaro e ele vai continuar depois do Bolsonaro, mas nós temos, nesse momento, que derrotar Bolsonaro para enfraquecer o bolsonarismo”.
“Bolsonaro, sem dúvida alguma, representa a maior ameaça à democracia depois da ditadura civil-militar que assolou o país por 21 anos. Quando a gente fala de uma ameaça à democracia nesse momento, sem dúvida alguma temos que pontuar que Bolsonaro não mais um capítulo apenas, ele é um momento decisivo. Derrotar Bolsonaro é fundamental para a vida dos mais pobres, fundamental para a democracia brasileira.”
Veja a íntegra do debate:
Para Glauber Braga, a possibilidade de construir uma frente democrática parece significar, necessariamente, desistir de defender pautas econômicas e sociais, levantadas historicamente pela esquerda, em nome da construção dessa agenda para barrar os avanços do bolsonarismo e da sua ânsia por uma nova ditadura militar.
“Não dá para a gente abrir mão de apresentar que possa fazer o enfrentamento a essa estruturação. Até porque, na nossa avaliação, das estruturas que sustentam Bolsonaro, na nossa avaliação, os fundamentalismos diversos, a agenda da ampliação do Estado policial e a agenda ultraliberal, a mais impopular é a agenda ultraliberal. Deixar de fazer esse enfrentamento, no fim das contas, é abrir mão de disputar aqueles que podem estar com a gente na construção de um projeto de esquerda”, disse o parlamentar.
Braga justificou que “a necessidade de identificar esses atores não se confunde com sectarismo, até porque ela estabelece uma relação direta com a necessidade de ultrapassar essa situação que estamos vivendo”.
Em sua explanação, que tinha por objetivo fazer uma crítica à frente ampla como tática para defender a democracia e derrota Bolsonaro, o deputado psolista disse que “a unidade em ações específicas em momentos como o impeachment, ou em ações contra o bolsonarismo no STF, não vai ter de nossa parte um não apoio tático a essa movimentação.”
Freixo explicou que o momento histórico nos impõe a necessidade de “que a gente entenda a importância de uma frente democrática nesse país, que derrote o bolsonarismo e reafirme um projeto popular. Um projeto democrático baseado em direitos. Que a gente esteja nas ruas e que tenhamos capacidade de luta pedagógica para derrotar o fascismo.”
Freixo alertou ainda que é um erro achar que o fato de as pesquisas mostrarem que ele está perdendo apoio, crescendo em rejeição, não podemos achar que ele está vencido. “Esse bolsonarismo é de um Brasil profundo, colonial, do tronco da chibatada, do justiçamento, do castigo físico, do racismo estrutural, é disso que se alimenta o bolsonarismo, e isso ainda é forte na sociedade brasileira. A nossa República não resolveu isso”, disse.
“Por mais que tenha sido uma tragédia para a população, por mais que tenham 550 mil mortos, por mais que tenha fome, corrupção; por mais que tudo isso seja verdade, se a eleição fosse hoje, Bolsonaro estaria no segundo turno. Então nós não podemos desconsiderar a realidade que atropela a nossa porta. Temos que ter responsabilidade para derrotar Bolsonaro e enfraquecer o bolsonarismo”, disse Freixo
Resgatando sua experiência de combate às milícias no Rio de Janeiro, Freixo enfatizou a importância de ter cada vez mais pessoas vindas do movimento popular ocupando o parlamento. “Fui deputado estadual por três vezes e, eu não escolhi o caminho mais fácil, instalei a CPI das Milícias. Porque, muitas vezes, o caminho mais fácil é ficar só no discurso político, por mais coerente que este possa ser. Era preciso estar dentro do parlamento para enfrentar a milícia, porque o movimento social não tem como enfrentar a milícia porque ele é assassinado. Precisamos fortalecer os movimentos sociais, estando também nas instituições, não há contradição nisso”, disse.
“Então que a gente tenha uma dimensão da realidade entendendo que os nossos sonhos não cabem nas urnas, isso é verdade. Mas o nosso pesadelo pode caber e a gente não pode deixar um pesadelo sair das urnas. A gente tem que vencer Bolsonaro com responsabilidade e a gente tem que enfrentar esse bolsonarismo profundo”, completou.
RODRIGO LUCAS