Oito funcionários da mineradora Vale foram presos na manhã desta sexta-feira (15), durante operação do Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) que ocorreu simultaneamente em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sobre o rompimento da barragem de Brumadinho, que deixou 166 pessoas mortas e 147 desaparecidos.
De acordo com o juiz Rodrigo Heleno Chaves, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, os oitos funcionários da Vale que foram presos hoje pela Polícia Civil poderiam ter evitado quase todas as mortes decorrentes do rompimento da barragem da empresa.
A pedido do MP-MG (Ministério Público de Minas Gerais), Chaves autorizou as prisões dos funcionários na quarta (13), cujos mandados foram cumpridos hoje pela Polícia Civil mineira.
De acordo com o Ministério Público, a ação visa “apurar responsabilidade criminal pelo rompimento de barragens existentes na Mina Córrego do Feijão, mantida pela empresa Vale, na cidade de Brumadinho”.
Segundo o juiz, no primeiro semestre de 2018, os funcionários da Vale já “tinham conhecimento da situação precária da barragem”. Na ocasião, mensagens de integrantes da empresa apontavam que a barragem “não tinha conserto” e que “era para tirar o pessoal todo de lá”.
“Entretanto, ao que parece, os funcionários da Vale assumiram o risco de produzir o resultado”, disse o juiz, referindo-se aos 166 mortos e aos 147 desaparecidos. “Mesmo diante de novos elementos aptos a demonstrar a situação de emergência, não acionaram o PAEBM (Plano de Ações Emergenciais).”
Caso os investigados tivessem optado pelo acionamento do PAEBM é forçoso concluir que, provavelmente, quase todas as vidas seriam poupadas
O magistrado diz que, até um dia antes da tragédia, ocorrida em 25 de janeiro, questões envolvendo os problemas na barragem permaneciam sem solução. Segundo Chaves, os funcionários da Vale “deveriam obviamente ter agido de maneira preventiva e acionado o PAEBM, o que evitaria que centenas de vidas fossem ceifadas”.
PRISÕES
De acordo com o MP, os oito envolvidos são funcionários da mineradora, sendo quatro gerentes (dois deles, executivos) e quatro integrantes de áreas técnicas.
Um dos detidos é Alexandre de Paula Campanha que, de acordo com a investigação, pressionou funcionários da TÜV SÜD a assinar laudo de estabilidade da barragem. Além de Campanha, os detidos são: Artur Bastos Ribeiro, Cristina Heloíza da Silva Malheiros, Felipe Figueiredo Rocha, Hélio Márcio Lopes da Cerqueira, Joaquim Pedro de Toledo, Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo e Renzo Albieri Guimarães Carvalho.
Segundo a investigação, Campanha é apontado por um engenheiro da TÜV SÜD, empresa que atestava a segurança de barragens da Vale, como o funcionário da mineradora responsável por pressionar para que o laudo atestasse a estabilidade da barragem que se rompeu em Brumadinho. Campanha foi preso em sua casa, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
A declaração foi dada à polícia pelo engenheiro Makoto Namba, da TÜV SÜD, que afirmou ter sido pressionado por Campanha a assinar o laudo. Namba disse à PF ter respondido que a empresa assinaria o laudo se a Vale adotasse as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de 2018, mas assinou o documento.
Ainda de acordo com Namba, que chegou a ser preso com outro funcionário da empresa e três da Vale em 29 de janeiro, “apesar de ter dado esta resposta para Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase proferida pelo mesmo e descrita neste termo como uma maneira de pressionar o declarante e a TÜV SÜD a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato”.
Os presos foram levados para o Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema), no bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital mineira. Segundo fontes ligadas à investigação, depois os presos serão levados para o Ministério Público.
Segundo a polícia, às 10h30 eles permaneciam em salas separadas, em contato uns com os outros.
Em coletiva à imprensa, o delegado Bruno Tasca, chefe do Dema, falou que documentos diversos relacionados à barragem, computadores, celulares, pen-drives e HDs foram apreendidos. Em Minas Gerais, foram cumpridos nove mandados de busca em casas de funcionários.