Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, foi baleado e morto na tarde desta quinta-feira (4) em Campo Grande. Fundador do maior grupo miliciano do estado, conhecido como “Liga da Justiça”, o ex-vereador pelo Rio foi alvo de uma emboscada na Estrada Guandu do Sapê e socorrido para o Hospital Oeste D’or, mas não resistiu. O cunhado de Jerominho, identificado como Mauricio Raul Atallah, também foi baleado e socorrido pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Municipal Rocha Faria. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, ele segue internado em estado grave.
De acordo com testemunhas, Jerominho foi baleado por três homens com fuzil que passaram atirando de dentro de um carro da marca Cobalt, pouco antes das 16h. O crime aconteceu na frente do centro social que o ex-vereador mantém no bairro. Ele havia acabado de sair do local, acompanhado pelo cunhado, quando foi surpreendido pelo bando armado.
A Polícia Militar informou, por meio de nota, que “na tarde desta quinta-feira (4/8), o ex-parlamentar Jerônimo Guimarães Filho foi atingido por disparos de arma de fogo na Estrada Guandu Sapé, em Campo Grande”. A nota diz ainda que “a vítima foi socorrida ao Hospital Oeste Dor, onde não resistiu aos ferimentos” e que “um segundo homem também foi atingido na ação e socorrido ao Hospital Municipal Rocha Faria.”
O policiamento foi intensificado em alguns pontos da Zona Oeste, reduto eleitoral do ex-vereador.
A Polícia Civil informou que a morte de Jerônimo Guimarães Filho está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e que agentes estão em diligências para identificar os autores do crime.
MILÍCIA
Jerominho teve dois mandatos como vereador do Rio entre 2001 e 2008. Para o primeiro mandato foi eleito com 20.560 votos e no segundo, recebeu 33.373. Em 2017, o segundo mandato do ex-vereador foi interrompido. Ele foi preso apontado como um dos fundadores da Liga da Justiça, uma das primeiras milícias cariocas, que ajudou na expansão de grupo paramilitares na capital fluminense.
Na Câmara do Rio, Jerominho negava ser miliciano. Mas, de uma maneira irônica, chegou a ir para o plenário com uma bolsa com dezenas de ovos de Páscoa com o símbolo do Batman, como era conhecido. O político é apontado pelas autoridades como o fundador da milícia Liga da Justiça, grupo criminoso acusado de praticar homicídios e cobrar taxas de moradores na Zona Oeste. Seu irmão Natalino Guimarães, foi deputado estadual.
O poder de Jerominho ficou ameaçado após ficar preso por mais de 10 anos. Ele foi indiciado na CPI da Milícia, conduzida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, um marco na luta contra o crime organizado no Rio de Janeiro. Quando ele saiu da prisão, a antiga Liga da Justiça havia se transformado em outra milícia, com diferentes lideranças.
“O Jerominho tenta retomar seu poderio. Ele tenta ser candidato a prefeito e não consegue. Ele começa a ensaiar a mesma estratégia anterior, de projeção política. (…). Ele tinha ainda alguma base nessa região, de negócios, de gente vinculada a ele. Ele começou a ensaiar um discurso de homem benfeitor, que não tem vínculo com a violência”, explicou o professor da UFRRJ, José Cláudio.
Jerominho é o segundo ex-vereador do Rio ligado a milícias que foi assassinado. Em 2009, Nadinho de Rio das Pedras, que não conseguiu se eleger, foi assassinado no condomínio Rio 2, na Barra da Tijuca.
O assassinato de Jerominho acontece em meio a uma guerra interna na milícia que ele mesmo ajudou a fundar. No ano passado, após a morte do então chefe do grupo paramilitar, Wellington da Silva Braga, o Ecko, dois homens passaram a disputar a sucessão: Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão de Ecko, que passou a controlar a milícia na Zona Oeste; e Danilo Dias Lima, o Tandera, ex-braço direito do antigo chefão, que hoje domina regiões da Baixada Fluminense controladas pelo bando. Desde junho do ano passado, ambos os grupos promovem ataques para tentar invadir áreas dos rivais e aumentar seus territórios.
A polícia investiga se o homicídio de Jerominho tem ligação com a guerra da milícia. No entanto, agentes que investigam o grupo criminoso afirmam que ele já não exercia mais um papel de chefia, apesar da forte influência e poder político que tinha em Campo Grande.
ELEIÇÕES
No início deste ano, Jerominho anunciou que seria candidato a deputado federal nas próximas eleições. Ele era filiado ao partido Patriota. No entanto, logo após o anúncio, o ex-vereador foi preso devido a uma condenação antiga por extorsão a mão armada contra motoristas de vans, um crime cometido em 2005. Menos de uma semana depois, ele foi solto porque a Justiça detectou que Jerônimo Guimarães Filho já havia cumprido o total da pena a que tinha sido condenado.
O prosseguimento da candidatura, não era visto com bons olhos dentro do partido, já que ele estava inelegível. Jerominho, então, passou a declarar apoio ao Coronel Sérgio Porto, pré-candidato a deputado federal, e ao deputado estadual Jalmir Junior, que tenta novo mandato na Assembleia do Rio. Na última semana, Jerominho usou as redes sociais para oficializar o apoio aos candidatos e escreveu: “Tenho certeza que a população estará bem representada com esses dois homens”.
Um dia depois de anunciar apoio aos candidatos, Jerominho realizou uma reunião aberta ao público na casa em que ele morava em Campo Grande, com ambos. Fotos do encontro, lotado, foram postadas nas redes sociais do ex-vereador.