A Polícia Civil investiga a hipótese de Ronnie Lessa, acusado pelo assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, ser também fornecedor de armamento para diferentes organizações criminosas do Rio de Janeiro. De acordo com a polícia, dificilmente uma única organização conseguiria adquirir 117 fuzis, num valor estimado em R$ 4 milhões.
As investigações apontam que Lessa é dono de peças de armas apreendidas na semana passada, no decorrer da operação Lume, que serviriam para montar 117 fuzis M16. O policial reformado e o ex-PM Élcio Queiroz foram presos durante a operação – ambos acusados de matar a parlamentar carioca e o motorista Anderson Gomes em março do ano passado.
A suspeita foi levantada pelo delegado Marcus Amim, chefe Desarme (delegacia especializada em armas do Rio) que questiona o escoamento das armas apreendidas cujas peças foram feitas em série por fábricas ainda desconhecidas.
A hipótese é que nenhuma organização criminosa tenha sozinha condições de encomendar tantos fuzis de uma só vez – o que aponta para o cenário de que o arsenal seria fornecido para diversas facções de traficantes de drogas e milícias, inclusive rivais, que disputam território entre si. Cada unidade teria, no mercado negro, um valor aproximado de R$ 30 mil.
O assassino da vereadora Marielle Franco é apontado como um dos membros do chamado Escritório do Crime, grupo de milicianos que atuam como matadores de aluguel no Rio de Janeiro. Além da ligação com milicianos, o MP investiga a relação de Lessa com outras facções criminosas. Dentre elas, o Comando Vermelho.
Reportagem do portal “Antagonista” apontou que Ronnie Lessa foi defendido numa causa cível pelo criminalista Sergio Alves Teixeira Júnior, advogado de familiares de Fernandinho Beira-Mar e de outros poderosos integrantes da cúpula do CV.
Sérgio Teixeira tem entre seus principais clientes Luan Medeiros da Costa, filho de Beira-Mar, e Marcos José Monteiro Carneiro (o Periquito), compadre e braço-direito do megatraficante, além de seu filho Maicon Monteiro Carneiro. Ele também advoga para Saulo Oliveira (o Saulo Beira-Mar), considerado uma espécie de sucessor do megatraficante até ser preso em 2017. Em 2004, o advogado foi indiciado por crime de facilitação de fuga do traficante Leandro Aparecido de Jesus Sabino, o DJ.
Há algum tempo, o MP do Rio investiga a parceria de milicianos com traficantes, especialmente no fornecimento de armas e informações privilegiadas – as chamadas “narcomilícias”.
TRÁFICO INTERNACIONAL
A semelhança da inscrição encontrada nas peças de M16 apreendidas na residência de um amigo de Lessa com armas apreendidas em 2017, também levaram a polícia a investigar se o policial reformado tinha ligações com o traficante de armas Frederick Barbieri, conhecido como “Senhor das Armas”. Barbieri foi preso nos Estados Unidos no ano passado, acusado de traficar armas para o Brasil. Um dos 60 fuzis falsificados apreendidos no Aeroporto Internacional Tom Jobim na operação que prendeu o Senhor das Armas também continha a inscrição HK – idêntica à das peças que seriam de Lessa.