“O interesse na privatização está nas áreas onde a atividade postal e de logística dá lucro, muito lucro. Com essa receita favorável, a ECT paga a atividade nos locais distantes, remotos, onde o déficit operacional é grande. Um lado compensa o outro, fazendo com que a empresa não dependa do tesouro”, diz o general.
O general Juarez Cunha, ex-presidente dos Correios, divulgou nota nesta sexta-feira (02) no jornal Correios do Brasil, manifestando sua contrariedade com o processo de privatização dos Correios.
“Os Correios têm o papel constitucional de integrar o território nacional e, para isso, está presente em todos os municípios do país”, disse o general. O militar ressaltou que a empresa não depende do Tesouro. Ao contrário, os Correios repassam, por decisão estatutária, 25% de seu lucro para o Tesouro.
Recentemente até mesmo o ministro das Comunicações, Fábio Faria, teve que admitir que é mentira o discurso oficial que embasa as propostas de privatização, de que os Correios não são lucrativos.
“A estatal teve resultado positivo no ano passado, de R$ 671 milhões após o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). E para o ano vem, tal receita poderia atingir até R$ 1 bilhão”, disse o ministro.
Segue a nota do general Juarez Cunha
A pedido de amigos de minha turma, seguem algumas considerações feitas por mim, Gen Juarez, sobre a privatização dos Correios. Essas observações não possuem nenhum caráter de crítica, mas espelham minha preocupação com os interesses do Estado Brasileiro. Afirmo que sou favorável à privatização, defendo um estado mais enxuto.
O número enorme de estatais no Brasil é realmente um despropósito. A existência de tantas estatais pressupõe a existência de inúmeros cargos de interesse de políticos corruptos e de cabides de emprego, utilizados na troca de favores e jogo de influência. Entretanto, sou absolutamente contra a privatização dos Correios, pelo que ele representa para o Estado brasileiro.
Os Correios têm o papel constitucional de integrar o território nacional e, para isso, está presente em todos os municípios do país. O papel social executado pelos Correios, particularmente nas áreas mais remotas, é incomensurável, não há como precificar. Na maioria dos municípios do país, a única expressão ou presença do Estado é a agência dos Correios, que, além de cartas, distribui os remédios encomendados nos grandes centros, os presentes enviados pelos filhos distantes, atua como agência bancária, fornece carteira de identidade, CPF e outros documentos pessoais, levando cidadania aos menos favorecidos.
Há alguns dias o Ministro da Economia afirmou que os Correios devem ser privatizados porque hoje ninguém mais escreve cartas.
Penso que ele está enganado. Ainda se escreve muitas cartas, particularmente num país gigante e desigual como o nosso. Temos inúmeros cidadãos brasileiros humildes, iletrados, que aguardam ansiosamente uma carta enviada pelo filho que foi para a cidade grande. Em muitas pequenas cidades do interior, a carta ainda é o meio de comunicação que aproxima as pessoas, que transmite o amor e que arrefece a saudade do coração.
O resultado financeiro obtido com a privatização também não vai tirar o país da crise. Não vai tirar e pode agravar a crise.
O interesse na privatização está nas áreas onde a atividade postal e de logística dá lucro, muito lucro. Com essa receita favorável, a ECT paga a atividade nos locais distantes, remotos, onde o deficit operacional é grande. Um lado compensa o outro, fazendo com que a empresa não dependa do tesouro.
Se a privatização ocorrer somente no lado bom, lucrativo, o Estado terá que arcar com a atividade do lado pobre, assumindo uma despesa operacional de bilhões de reais.
Na minha opinião, a melhor solução para os Correios seria a abertura de capital. A existência de um corpo de associados serviria como um obstáculo à influência político-partidária na empresa e contribuiria para melhorar escolha dos diretores, que seria feita no mercado, A restrição à influência político-partidária na empresa, no meu modo de ver, é o ponto capital que deve ser buscado.
GENERAL JUAREZ CUNHA
Ex presidente dos Correios, militar, indicado pelo governo Temer, foi ovacionado pelos empregados quando encerrou seu mandato. Foi correto, buscou a lucratividade e sustentabilidade da empresa. Foi tirado do cargo pelo governo atual por buscar alternativas que geram lucro à empresa.
É bastante contraditório o fato de o Presidente Bolsonaro afirmar mais de uma vez recentemente, que os Correios deram lucro de um bilhão e meio, e mesmo assim, continuar defendendo a privatização. Pouco antes de deixar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, quando indagado sobre prejuízo de 2 bilhões da ECT, respondeu que não foram 2, mas 1, tendo em vista que 1 bilhão havia sido utilizado para pagamento de PDV. Saí no PDV em 1º de junho de 2009, aceitando a proposta de 1 salário para cada 5 anos trabalhados e mais os 40% sobre o FGTS. A meu ver, em todos os PDV que sucederam ao meu, creio que o montante pago tenha ficado muito aquém do 1 bilhão informado pelo ex-ministro a quem nos referimos. Tal como o Henrique Meirelles, boi de piranha do PSDB que teve merecidamente uma votação mais do que ridícula para Presidente da República, Gilberto Kassab também foi promovido a Secretário do Governador João Dória. Causa-nos espécie, que também Eduardo Bolsonaro esteja defendendo a privatização. Será que a meta do governo era tão somente tornar os Correios rentáveis para a privatização? Será que vai acontecer o mesmo que fizeram com a Usina Presidente Vargas – CSN, em Volta Redonda onde, antes da venda, colocaram um tal de Roberto Procópio Lima Netto, que em cerca de três anos saneou a Companhia Siderúrgica Nacional, antes de sua venda. Pelo visto, contando com a anuência de Itamar Franco e Leonel Brizola, ocorreu a privatização, tão boa para o grupo que a adquiriu, de modo que em dois anos lucraram mais do que a bagatela que pagaram pela Usina, tanto é que compraram a Vale. Por que, ficar alardeando lucro de 1,5 bilhões da ECT e enormes prejuízos da mesma empresa nos governos Lula e Dilma, e insistir na privatização? Não seria o Ministro Paulo Guedes o maior interessado na venda dos Correios? Será que são tão ingênuos ao ponto de desconhecerem que em mais de 5000 (cinco mil) municípios brasileiros as arrecadações dos Correios são inferiores às despesas e que as cidades onde há lucro permitem a prestação de serviços com qualidade onde há déficit? Sabem que parte dos Correios já conta com a iniciativa privada através das franqueadas instaladas somente nos municípios onde dá lucro e, mesmo assim, em São José dos Campos onde moro, se maioria das ACF não tivessem imóveis próprios, provavelmente estariam propensas ao fechamento em virtude dos valores dos aluguéis? Sabem como ficarão se houver a privatização dos Correios, aqueles aposentados que como eu, pagaram durante mais de 28 anos o Fundo de Pensão POSTALIS, e que hoje recebem complementação das aposentadorias pagas pelo INSS, apesar de o Instituto de Seguridade estar descontando um percentual absurdo que, em princípio denominavam de EQUALIZAÇÃO DO DÉFICIT, e que atualmente é chamado de BPS-CONTRIBUIÇÃO EXTRA ASSISTIDO? Referido percentual, no meu caso, é de 18,389%, por conta de desvios, corrupção, gestões temerárias em administrações anteriores a 2019.
lucrativo