“Eu tomei e vou ser sincero, porque, porra, eu, como qualquer ser humano, eu quero viver”, admitiu Ramos, se contrapondo, por baixo dos panos, ao negacionismo de Bolsonaro
Sem saber que estava sendo gravado, o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, disse nesta terça-feira (27) que tomou escondido a vacina contra a Covid-19.
“Não tenho vergonha, não. Eu tomei e vou ser sincero, porque, porra, eu, como qualquer ser humano, eu quero viver. E se a ciência e a medicina estão dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor?”, disse Ramos.
A confissão do general, de que tomou a vacina escondido do “chefe”, e que, segundo ele, ainda vem tentando convencer o ‘capitão cloroquina’ a se vacinar, se deu na mesma reunião onde o ministro Paulo Guedes, também sem saber que estava sendo gravado, atacou a vacina chinesa e bajulou os EUA. Os dois tentaram consertar o que disseram na reunião, mas o estrago já estava feito.
“Estou envolvido pessoalmente tentando convencer o nosso presidente, independente de todos os posicionamentos, que nós não podemos perder o presidente para um vírus desse. A vida dele, no momento, corre risco, ele tem 65 anos”, disse Ramos durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar, no Palácio do Planalto.
A confissão do general mostra que a estupidez e o negacionismo de Bolsonaro já não conseguem arrastar nem mesmo seus auxiliares mais próximos e fiéis. Eles falam uma coisa para agradar o Planalto, mas fazem o contrário escondido para não desagradá-lo.
Em nota, a Casa Civil tentou consertar o que veio a público dizendo que Ramos foi vacinado em 18 de abril com a primeira dose da vacina da AstraZeneca “como cidadão comum, em seu carro e enfrentando fila como qualquer brasileiro”.
“Ao dizer, de maneira informal, que teria tomado a vacina ‘escondido’, o ministro se referia ao fato de ali estar um dos mais de 38 milhões de brasileiros que já se vacinaram e não um ministro de Estado”, diz o comunicado.
Nesta mesma reunião, Paulo Guedes disse que “o chinês inventou o vírus” da Covid, mas tem uma vacina menos eficiente do que a desenvolvida por empresas americanas.
A frase sobre as vacinas da China e do EUA foi dita num contexto em que o ministro da Economia, como sempre faz, atacava o setor público e defendia uma suposta maior eficiência de empresas privadas, que na pandemia não se confirmou.
“O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem cem anos de investimento em pesquisa. Então os caras falam: ‘qual o vírus? É esse? Tá bom’. Decodifica, tá aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras”, disse Guedes.
Depois, quando também soube que estava sendo gravado, ele tentou impedir que fosse veiculada. “Só não manda para o ar por favor”, disse ele.
Não deu certo e ele teve que arrumar uma explicação esdrúxula sobre o que tinha dito. A “explicação” só serviu para expor ainda mais sua bajulação aos americanos.