“É um show de besteiras”
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido por Bolsonaro na semana passada, afirmou que o governo tem pautado sua ações com base em uma “fofocagem desgraçada” e lamentou que a atual gestão tenha se limitado a um “show de besteiras” quando deveria priorizar ações relevantes para o país. Santos Cruz falou sobre sua exoneração da Secretaria de Governo da Presidência em entrevista à revista Época, publicada na quinta-feira (20).
“Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita besteira. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população, tirando a atenção das coisas importantes”, disse.
Santos Cruz se tornou alvo de críticas dos filhos de Bolsonaro e do guru da família, o astrólogo Olavo de Carvalho, quando se posicionou de forma contrária a uma orientação do secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, que previa censura prévia nas propagandas das estatais. Como a Secom era subordinada a seu gabinete, ele anulou a ordem, por ser ilegal, de acordo com a Lei das Estatais. Olavo chegou a chamá-lo de “bosta engomada” nas redes sociais.
Também circularam rumores de que o general teria se oposto à intenção do secretário de gastar verba pública com blogs simpáticos ao governo. Na entrevista, Santos Cruz negou que sua demissão se devesse a um embate com Wajngarten, embora tenha dito que preferia não entrar em muitos detalhes sobre sua saída do governo. “Quando passar essa fase, vou escrever alguma coisa”, disse.
O general avaliou que “essas brigas por Twitter” não são o que interessa para o Brasil e que o país “não pode continuar discutindo esse nivelzinho de coisa”. “Essas brigas pessoais, invenções de notícia, xingamentos contra o presidente da Câmara. Veja: o presidente da Câmara é uma pessoa importante, ele é quem faz a pauta do que será votado no Brasil em termos de legislação”, afirmou o ex-ministro.
Para Santos Cruz, bater boca com Olavo seria discutir “bobagem em vez de colocar o foco sobre as coisas boas que cada ministério está fazendo”. “Estamos com seis meses de governo, e quais são as principais conversas? As pessoas vêm me perguntar do filósofo, do Twitter do outro que xingou o outro? Espera aí, né?”, afirmou.
“Se você tem alguma coisa contra a pessoa, você tem de falar individualmente. O que acontece é que os recursos todos de tecnologia estão fazendo muita gente esquecer que a melhor maneira de você se comunicar, principalmente entre pessoas públicas, não é de maneira pública. É pessoalmente”, observou.
Questionado se Carlos Bolsonaro estaria envolvido em sua demissão, Santos Cruz disse não ter “nem ideia”. “E prefiro não falar nada porque eu não vou falar do filho do presidente. […] A dimensão dos problemas do Brasil é muito maior”, comentou.
O general foi demitido no dia 13 de junho. Sobre sua longa amizade com Bolsonaro, os dois se conheceram na 2ª Região Militar, em Campinas, afirmou que ela não será mais a mesma. “Não tem nem chance de cultivar essa amizade”, disse. “Ele está no governo como presidente da República. Não tem nem oportunidade de que isso seja cultivado porque a pessoa está em outras atribuições que tomam muito a vida da pessoa. Deixa governar. Tomara que dê tudo certo”.
Bolsonaro fez comentários sobre a entrevista do general, após subir ao palco da Marcha para Jesus, em São Paulo, onde discursou por cerca de cinco minutos. Segundo ele, a demissão de Santos Cruz é “página virada”. “Ele integrou o governo por seis meses e nunca falou que tinha bobagem lá”, disse.
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