
“Este é um crime de guerra apoiado pelos EUA”, denunciou a Ong Code Pink, conclamando a comunidade internacional a se levantar em solidariedade ao povo palestino
As tropas israelenses explodiram na última sexta-feira (21) o Hospital da Amizade Turco-Palestina, o único especializado no combate ao câncer na Faixa de Gaza, responsável pelo atendimento de 30 mil pessoas.
A imensa bola de fogo e fumaça em que se converteu a antiga fonte de esperança e de vida retrata o terrorismo de Estado sionista e responde à proposta do presidente estadunidense de varrer os cerca de dois milhões de palestinos que resistem no enclave para o mais distante possível. Conforme o acordo Trump-Netanyahu, o passo posterior seria a anexação do território e sua transformação em resort para magnatas.
“As forças de ocupação israelenses explodiram o Hospital da Amizade Turca de Gaza. Foi o último hospital em Gaza que conseguiu tratar pacientes com câncer. Este é um crime de guerra apoiado pelos EUA”, reagiu a Ong Code Pink (Código Rosa – Mulheres pela Paz), conclamando a comunidade internacional a se levantar em solidariedade ao povo palestino.
“CRIME DE GUERRA DA OCUPAÇÃO ISRAELENSE”
Para o diretor da Assistência Médica aos Palestinos (MAP), Fikr Shalltoot, “a destruição deste hospital é uma sentença de morte para os palestinos, especialmente para os pacientes com câncer em Gaza”. “Como o sistema de saúde já em ruínas, não há mais para onde possam recorrer. Pacientes que deveriam estar recebendo tratamento para salvar vidas agora são deixados para sofrer, além dos milhares de feridos em ataques implacáveis. Este é um ataque deliberado ao direito à saúde, e o mundo não pode permanecer em silêncio”, protestou.
Rohan Talbot, diretor de Advocacia do MAP, reforçou que “ataques deliberados a hospitais são crimes de guerra”. “A destruição do único hospital de câncer de Gaza é o mais recente de um padrão sistemático de ataques israelenses à assistência médica que está tornando a vida impossível para os palestinos”, apontou Talbot, para quem as “graves violações contínuas de Israel ao direito internacional em Gaza não podem ser ignoradas” e nenhum governo do mundo deve continuar sendo aliado dessas atrocidades.
O Ministério de Saúde de Gaza recordou que “esse comportamento criminoso da ocupação está alinhado com a destruição sistemática do sistema de saúde e a conclusão dos episódios de genocídio”. Com o novo massacre israelense, desde outubro de 2023, o número total de mortos palestinos no enclave subiu para 49.617 – cerca de dois terços mulheres e crianças -, com mais de 112.950 feridos – inúmeros mutilados – e aproximadamente 14.000 desaparecidos – mortos e enterrados sob os escombros.
O correspondente da Al Jazeera, Tareq Abu Azzoum, que está cobrindo os acontecimentos desde Deir el-Balah, em Gaza, descreveu os horrores da destruição que “deixou dezenas de milhares de pacientes no território sitiado sem ter para onde fazer o tratamento de câncer”.
Sob a alegação de que “os terroristas do Hamas” se encontravam no local, “de onde dirigiram e executaram seus ataques”, o exército de Benjamin Netanyahu bombardeou o Hospital do Câncer, como já havia feito com várias outras unidades médicas e postos de saúde de Gaza, completamente destruídos ou seriamente danificados desde o dia 7 de outubro de 2023. A declaração sionista também foi desmentida pela Al Jazeera, ao lembrar que o terceiro andar do hospital já havia sido atingido em um ataque aéreo israelense em 30 de outubro de 2023.
A escassez de combustível forçou o mesmo hospital a fechar em 1º de novembro de 2023, com as Nações Unidas alertando que as vidas de 70 pacientes se encontravam em risco. Mais tarde, foi revelado que quatro pacientes morreram no local devido ao cerco sionista.
“ISRAEL QUER TORNAR GAZA INABITÁVEL E DESLOCAR À FORÇA OS PALESTINOS”
A Turquia condenou de forma enfática a destruição, reiterando que essa é uma estratégia definida pelos sionistas. “O ataque deliberado a um hospital que presta serviços de saúde a civis em Gaza constitui parte da política de Israel que visa tornar Gaza inabitável e deslocar à força o povo palestino. Apelamos à comunidade internacional para que tome medidas concretas e dissuasivas contra os ataques ilegais e o terrorismo de Estado sistemático de Israel”, declarou o Ministério das Relações Exteriores da Turquia. O governo turco havia doado US$ 34 milhões (R$ 195 milhões) para construir e equipar a instituição, considerada imprescindível.
“Não consigo entender o que poderia ser ganho ao bombardear um hospital que servia como um elo vital para tantos pacientes”, afirmou o chefe do departamento de oncologia do hospital, Dr. Zaki Al-Zaqzouq, sobrevivente do ataque, em um comunicado divulgado pela organização Médicos pela Palestina.
Segundo o site Common Dreams, sediado nos EUA, “Israel bombardeia hospitais, mata profissionais de saúde, bloqueia medicamentos e destrói clínicas, deixando os palestinos sem tratamento enquanto as doenças se espalham, a fome piora e as pessoas sofrem”.
Mas nada das evidências contra os crimes e descalabros cometidos por suas tropas abala o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, que ameaçou os moradores da Faixa de Gaza com a completa eliminação. “Aceite a oferta do presidente dos Estados Unidos (EUA), liberte os reféns e elimine o Hamas, e outras opções se abrirão para você, incluindo ir para outros lugares do mundo, para quem quiser. A alternativa é destruição total”, vociferou o nazisraelense.
“RETOMADA DA MATANÇA COMO ESTRATÉGIA PARA ANEXAÇÃO DE TERRAS”
Em entrevista à Agência Brasil, a professora de pós-graduação em Relações Internacionais da PUC de Minas Gerais Rashmi Singh avaliou que “a retirada unilateral de Israel do cessar-fogo é totalmente esperada e resultado de suas próprias ambições”. A retomada da matança de moradores de Gaza sob o pretexto de combater o terrorismo, assinalou, “é parte de uma estratégia de ocupação ilegal e anexação de terras em Gaza”.
Em 2024, uma comissão independente das Nações Unidas avaliou que “Israel perpetrou uma política concertada para destruir o sistema de saúde de Gaza como parte de um ataque mais amplo ao enclave, cometendo crimes de guerra e o crime contra a humanidade de extermínio com ataques implacáveis e deliberados a pessoal e instalações médicas”. O relatório comprovou que 1.700 profissionais de saúde foram executados, chamando tais assassinatos de “generalizados e sistemáticos”.
Localizado no corredor Netzarim, que divide Gaza em duas partes, o hospital do câncer esteve durante a maior parte da matança na área controlada por soldados israelenses.
Agora, nenhum hospital está totalmente funcionando em Gaza e apenas 22 dos 36 permanecem em condições parciais e muito limitadas para atender os palestinos, que estão novamente sob bombardeio indiscriminado. A maioria desses hospitais foi atacada e sofre com a falta de combustível, eletricidade e suprimentos médicos, que vão desde medicamentos básicos até equipamentos mais complexos.