O vídeo foi removido, no sábado (6), por divulgar entrevista com médico negacionista da pandemia. No mesmo dia, a deputada se envolveu em nova confusão. Dessa vez foi com o governador do RS, Eduardo Leite, do PSDB, por aumentar as medidas protetivas no Estado para conter as infecções por Covid-19
A deputada Bia Kicis (PSL-DF), candidata à presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados, protagonizou mais um ato de extremismo-bolsonarismo-negacionismo e foi punida pelo Youtube. Ela divulgou vídeo com entrevista sobre vacinação com o médico negacionista da pandemia, chamado Alessandro Loiola.
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O médico é autor do livro “Covid-19: a fraudemia”, compêndio de teses anticientíficas e teorias conspiratórias. Recentemente, o YouTube havia removido outra entrevista com Loiola, ao jornalista Luís Ernesto Lacombe.
Assim, segundo a plataforma, como o vídeo promovia desinformação sobre a Covid-19, o YouTube o removeu no último sábado (6).
A deputada, que é ex-procuradora do Distrito Federal, ganhou proeminência e notoriedade como militante na internet a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Ela se tornou próxima de Bolsonaro e foi uma das articuladoras do contato entre o ex-capitão do Exército e o economista Paulo Guedes.
Surfando na onda do bolsonarismo, foi eleita deputada pela primeira vez em 2018 pelo PRP, tendo migrado para o PSL em 2019. Desde então, já sofreu ameaças de expulsão do PSL pelo menos duas vezes por infidelidade partidária em razão de apoioà criação de novo partido por Bolsonaro (o Aliança pelo Brasil, que não saiu do papel).
CONTUMÁCIA
A deputada comemorou, em dezembro de 2020, a decisão que enfraqueceu o isolamento na capital amazonense. “A pressão do povo funcionou tb em Manaus. O governador do Amazonas, @wilsonlimaAM voltou atras em seu decreto de Lockdown. Parabéns, povo amazonense, vcs fizeram valer seu poder!”, escreveu no Twitter. Em seguida a capital amazonense foi consumida pelas mortes ocasionadas por Covid-19 e também por falta de recursos, que não chegaram a tempo, inclusive oxigênio, por negligência do governo federal.
A deputada provocou, no sábado (6), o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), após o chefe do Executivo estadual aumentar as medidas protetivas no Estado para conter as infecções por Covid-19.
“Fiquem atentos. Esse governador quer ser candidato à Presidência da República. Você está disposto a entregar as escolhas da sua família ao Estado?”, questionou a parlamentar bolsonarista pelo Twitter.
O ocupante do Palácio Piratini também foi à plataforma digital para rebater a congressista do DF. “Melhor que o Estado faça escolhas agora do que médicos tenham que fazer escolhas sobre quem vive e quem morre, deputada”, respondeu.
MANDATO
Eleita deputada federal, com 86.415 votos, Kicis tem usado o mandato político-parlamentar contra a democracia, que a elegeu, diga-se de passagem, e as instituições que jurou, ao assumir o mandato eletivo, representar e defender.
A deputada Bia Kicis é o que se pode chamar de “cruzada contra a democracia”. A combalida democracia brasileira está cada vez mais vulnerada com a eleição de Bolsonaro, que usa o mandato presidencial contra o regime de liberdades, que permitiu sua vitória em 2018. E a eleição de vários congressistas — é o caso de Kicis — que atuam contra a democracia, como fez Bolsonaro ao longo de seus 28 anos como deputado federal.
MENTIRAS NA REDES
Sua atuação na internet a levou à eleição para deputada e também a se tornar suspeita no inquérito das ‘fake news’, no STF, que também é investigada por CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado. A investigação apura se Kicis usou o orçamento de sua cota parlamentar para espalhar mensagens a favor de manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).
Kicis também foi acusada de racismo e denunciada ao STF por conta de uma postagem, feita após a saída dos ministros Sergio Moro e Henrique Mandetta do governo: a postagem mostrava o rosto dos ministros pintados de preto, fazendo alusão a uma suposta necessidade de cotas para sua contratação em algum lugar.
ATUAÇÃO PARLAMENTAR
Como deputada, votou em 2020 contra a aprovação do novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) — fundo que reúne recursos para o desenvolvimento da educação básica no Brasil e cuja lei aumentou o aporte de verbas do governo federal. Também foi autora de nova versão do projeto “Escola Sem Partido”, que prevê o controle ideológico dos professores em sala de aula.
Na prática, esse projeto acalentado pelo bolsonarismo prevê coibir uma suposta “doutrinação política de esquerda” nas salas de aula e, em seu lugar, instituiria doutrinação política de direita. O “Escola sem Partido” é mais um delírio revanchista do bolsonarismo, que enxerga “esquerdismo” em tudo que não concorda.
No ano passado também apresentou requerimento para que a Câmara fizesse nota de repúdio contra o governo chinês, que ela culpava pelo coronavírus.
Também é autora de projeto que pede a volta do voto impresso, uma pauta que também é defendida por Bolsonaro com frequência.
AVAL DE LIRA
A eleição para a presidência da CCJ tem o aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que a fez prometer que à frente do colegiado mais importante da Casa não fará “loucuras”.
Pela recente trajetória política da deputada, antes e agora no exercício do mandato parlamentar, não convém colocar a mão no fogo.
M. V.