O Ministério da Saúde possui 6,9 milhões de doses das vacinas da Pfizer e da CoronaVac contra Covid-19 paralisadas no centro de distribuição da pasta, que fica localizado vizinho ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. As doses que estão na prateleira impedem o avanço da imunização da população nos estados e municípios.
O governo confirmou que as vacinas estão em estoque.
Mas disse que as vacinas sob sua guarda estão dentro do processo normal de liberação das cargas, o que envolve a inspeção de diferentes entidades, incluindo a Receita Federal, o Instituto Nacional de Controle de Qualidade e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em nota divulgada na quinta-feira, a agência contradisse o governo e afirma que “não há nenhuma pendência” da Anvisa em relação às doses armazenadas pelo Ministério em Guarulhos. Segundo a agência, a liberação ocorre menos de 24 horas após a solicitação ser feita pela pasta.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse na última quinta que pediu à Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE-BA) para analisar o fato de o Ministério da Saúde manter retidas doses de vacinas contra a Covid-19 no centro de distribuição.
Segundo ele, posteriormente, irá adotar medidas judiciais. “Até agora ninguém conseguiu entender essa retenção de vacinas no centro de distribuição do Ministério da Saúde. A demora no envio é um absurdo e se soma à distribuição desproporcional aos Estados”, disse Rui Costa.
“Pedi à PGE que analise a questão para acionarmos judicialmente o Ministério”, afirmou.
Por causa da falta de doses, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), decidiu suspender a vacinação por idade na última quinta-feira (12). “Recebemos nesta manhã só 37.962 doses. Para vacinar o grupo de 24 anos precisamos de 68 mil. Não vamos usar nosso estoque de 2ª dose. Com isso, suspenderemos a vacinação da primeira dose de amanhã. Só lembrando: Rio com muitos casos de Delta e estoque do ministério é 11,2mi de doses”, afirmou o prefeito do Rio na última quarta.
Paes afirmou que torce pela chegada de novas doses no fim de semana. “Com as doses que já temos e com as que estão chegando hoje, conseguimos garantir para amanhã (sexta) a vacinação das pessoas com 24 anos e para sábado às pessoas de 23 anos. Torcemos muito para que o Ministério da Saúde envie mais doses neste fim de semana”, declarou.
O atraso na distribuição das vacinas para os Estados e municípios foi motivo de um embate entre o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o governador de São Paulo, João Doria. Em entrevista coletiva realizada na quarta-feira (11), Doria declarou que o ministro é mentiroso. “Quero mandar uma mensagem para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ministro, aprendi com o meu pai que é feio mentir e que é feio prometer e não cumprir”, disse o governador.
O governador do Pará Helder Barbalho (MDB) já pediu à Procuradoria do Estado para deixar pronta uma ação para tentar tirar o Estado da penúltima posição na lista de doses recebidas por habitante.
A tendência é que Estados questionem o não cumprimento da promessa de compensação gradual das doses, prevista em documento assinado por Marcelo Queiroga e presidentes dos conselhos de secretários estaduais e municipais de Saúde. É o que discutem procuradores estaduais.
Segundo o Pará, o número de imunizantes per capita recebidos é menor entre os Estados do Norte e do Nordeste. Nessas regiões, só Amazonas e Acre registram mais que 0,8 dose per capita desde o início da distribuição de vacinas, em janeiro.
“Não queremos nada a mais, mas não aceitamos a menos”, diz Barbalho.
“Vários Estados prejudicados estão estudando (judicializar)”, afirma Dias, governador do Piauí. “Esperamos não ter que judicializar”, diz Tereza Paim, secretária da Saúde da Bahia.
A pasta reiterou que haverá compensação sem prejuízo aos Estados e que vai priorizar o envio de doses considerando a população que ainda não foi vacinada.