“O recuo do PIB público é bom pro Brasil”, disse a nota do Planalto
Diante do fracasso do PIB (Produto Interno Bruto), que registrou um crescimento pífio de 1,1% em 2019, o governo Bolsonaro saiu-se com mais uma de suas insanidades. Ele comemorou a queda dos investimentos públicos.
O Ministério da Economia argumentou, em nota, que a redução do investimento público é o caminho mais acertado para o desenvolvimento do país. Ou seja, pela nova teoria, quanto menos o governo investir, mais o país vai se desenvolver.
Essa fantástica teoria econômica, que prega que quanto menos se investir é melhor, mostra que Bolsonaro não estava brincando quando disse, em Washington, em março do ano passado, em jantar organizado por Olavo de Carvalho, que seu programa não era construir nada, mas sim destruir o que tinha sido construído. Ele está cumprindo a risca o que disse.
A meta do governo é zerar os investimentos públicos.
E, para sustentar o “raciocínio”, os bolsonaristas se utilizaram de um método, que já está sendo chamado de “terraplanismo econômico”. Ele consiste em desconhecer os números do IBGE e fabricar outros. Eles dividem o PIB do país em público e privado.
E, por esta pirueta matemática, eles concluem que o PIB privado teria crescido 2,75%, enquanto o PIB público caiu 2,25%. Só não explicaram porque incluíram no tal “PIB privado” os investimentos das estatais.
Com esse truque, eles esconderam o fiasco do 1,1%, jogaram o setor público para baixo e inflaram o setor privado. Tudo na medida para que pudessem fazer a funesta comemoração do fracasso.
“O recuo do PIB público é bom pro Brasil”, disse a nota do governo, numa inédita comemoração de seu próprio fiasco econômico.
O malabarismo palaciano é compreensível. Alguma coisa eles tinham que fazer, porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, não sabia mais o que dizer diante do desempenho do PIB. Fingiu-se surpreso com a reação negativa do país ao fiasco de 1,1%.
“Não entendo a reação de vocês. Era exatamente isso o que nos esperávamos”, disse ele, tentando despistar o fato de que a previsão oficial, escrita e divulgada por ele próprio, no inicio do governo, era de 2,2%.
A matemática bolsonarista foi criticada pelo economista da FGV e ex-secretário de Política Econômica Manoel Carlos Pires. Para ele, a divisão entre PIB público e privado não faz sentido.
“Essas coisas não são separáveis nesses termos. Quando o governo usa recursos para investir, de maneira geral, quem produz o bem de capital ou faz a construção é o setor privado, que é contratado para produzir esse tipo de bem ou de serviço. Por essa razão, essa abordagem está errada. Não existe PIB do governo”, afirmou.
E é evidente que, quanto menos o governo investe, menos se produz no país.