O senador governista do DEM de Rondônia disse na CPI da Covid-19 no Senado que os governos de Alagoas, Bahia e São Paulo adotam o chamado “tratamento precoce”, que prevê o uso de cloroquina e hidroxicloroquina
Ao inquirir, nesta terça-feira (25), a médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, na CPI da Covid-19 no Senado, Marcos Rogério (DEM-RO), da “tropa de choque” de Bolsonaro na comissão, disse que as Secretarias de Saúde de Alagoas, Bahia e São Paulo adotam o uso de medicamentos ineficazes contra a Covid-19.
Tratou-se por parte de Rogério de clara provocação, principalmente ao relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), cujo filho é governador do Estado de Alagoas.
“Vamos lá. Eu vou ler o texto: pela leitura do quadro, é de fácil entendimento que esse tratamento se aplica em qualquer fase da doença, para pacientes leves, moderados ou graves, ou seja, o protocolo vigente em Alagoas estabelece tratamento precoce e prevê também o uso de cloroquina e hidroxicloroquina”, disse o senador.
“São Paulo também adota o tratamento precoce. A orientação oficial é: ‘Assim que os primeiros sintomas surgirem, é fundamental procurar ajuda médica imediata para que profissionais indiquem o que é apropriado para cada caso’. O que uma pessoa com sintomas deve fazer? Procurar o serviço de saúde mais próximo de sua residência, como um pronto atendimento”, provocou.
O objetivo do senador por Rondônia foi tentar mostrar que estados governados por opositores do presidente Jair Bolsonaro adotam o uso de remédios que segundo os cientistas não têm eficácia científica comprovada no combate ao vírus da Covid-19.
Desse modo, o discurso da oposição na CPI, pela lógica política de Rogério, não teria o objetivo de esclarecer essa controvérsia que é o “tratamento precoce” com uso de medicamentos que são ineficazes, mas, sim, tentar desmoralizar o presidente da República, que é declaradamente entusiasta desses medicamentos.
GOVERNO DE SÃO PAULO RESPONDE
Diante da provocação do senador bolsonarista, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo negou, imediatamente, que tenha recomendado o uso de cloroquina em protocolo até março de 2021, como foi mencionado pelo senador.
Em nota, a Secretaria escreveu: o senador “mente” e “manipula informações” na CPI e que “nenhum medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19 foi adotado em protocolos pelo Governo do Estado de São Paulo”.
“Mais uma vez o senador bolsonarista Marcos Rogério, em sessão da CPI da Covid desta terça-feira (25), manipula informações. Ele omite que São Paulo, como os demais Estados da Federação, segue o preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o uso da cloroquina/hidroxicloroquina para tratamento de diversas doenças: artrite reumatoide, lúpus, artrite idiopática juvenil, dermatomiosite, polimiosite e malária”, está escrito na nota emitida pela pasta da Saúde (leia íntegra abaixo).
Segundo a Secretaria, “a distribuição feita aos Departamentos Regionais de Saúde (DRS) é corriqueira e de praxe, para atendimento aos pacientes que de fato fazem uso de tal medicamento para tratamento de outras doenças que não Covid-19, uma vez que não existe, até o momento, estudo publicado e revisado sobre a eficácia de nenhum medicamento para ‘tratamento precoce’ contra o novo coronavírus”.
“Os negacionistas poderiam se ater aos temas que realmente importam para combater a Covid e trabalhar em prol deles [destes]: a vacinação, o distanciamento social, o uso de máscaras e adoção de medidas de higiene”, destacou a nota da Secretaria.
Segundo o órgão, os gestores de saúde do estado de SP “deliberaram pela não recomendação do uso do medicamento em casos leves, moderados ou graves de Covid-19 devido à insuficiência de evidências sobre a eficácia”.
HISTÓRICO NA CPI
Desde o início da CPI da Covid, o senador Marcos Rogério assumiu a defesa do presidente Jair Bolsonaro e do governo federal no colegiado e tem criticado a postura dos governadores durante a pandemia.
Na semana passada, ele exibiu vídeo com declarações antigas de governadores de estados, como São Paulo, Piauí e Maranhão, dizendo que eles tinham sugerido a distribuição da cloroquina nos hospitais públicos do País.
Os vídeos, entretanto, foram gravados no início da pandemia, em abril de 2020, e tratavam da utilização da droga sobretudo em pacientes hospitalizados, dizem os governadores.
Com o avanço das pesquisas, ainda em maio de 2020, já havia posicionamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) alertando contra o uso dos medicamentos para o tratamento da Covid. A FDA (Food and Drug Administration, espécie de Anvisa americana) e a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) logo na sequência desaconselharam o uso.
Em nota emitida em 20 de maio, o governo paulista escreveu que “repudia a manipulação flagrante de declarações do governador João Doria e do médico infectologista David Uip durante o combate à pandemia” pelo senador na CPI.
“As falas mostradas pelo senador bolsonarista Marcos Rogério foram retiradas do contexto com o objetivo de deturpar o sentido original delas [dessas]. Essa é uma prática comum dos negacionistas para desinformar e tirar o foco da população para os temas que realmente importam para combater a COVID-19: vacinação, distanciamento social, uso de máscaras e medidas de higiene”, segundo a nota do governo de SP.
“O SUS tem protocolos que preveem o uso da cloroquina/hidroxicloroquina para tratamento de doenças como artrite reumatoide, lúpus, artrite idiopática juvenil, dermatomiosite, polimiosite e malária. Por isso, em SP, os gestores de saúde deliberaram pela não recomendação do uso do medicamento em casos leves, moderados ou graves de Covid-19 devido à insuficiência de evidências sobre a eficácia. Vale lembrar que a automedicação é contraindicada em qualquer hipótese e, especialmente para Covid-19, é necessário haver embasamento científico e prescrição médica para segurança dos pacientes”, afirmou o governo paulista naquela data.
O infectologista David Uip, ex-coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de SP, também citado pelo senador, disse na última quinta-feira (20) que “jamais defendeu a distribuição ou uso indiscriminado” da cloroquina na rede pública do país.
“Desde abril, quando os primeiros estudos começaram a apontar possíveis efeitos colaterais do medicamento, o uso foi completamente descartado. A ciência evoluiu. A pandemia é um aprendizado do dia a dia. Neste momento, não há qualquer evidência científica de indicação da cloroquina para a prevenção ou o tratamento da Covid-19”, disse o médico.
O DEM desautorizou na semana passada o governismo do senador Marcos Rogério por suas posições na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), defendendo Bolsonaro ardorosamente e a cloroquina.
O partido escreveu no perfil oficial no Twitter:
“As posições do senador Marcos Rogério na CPI refletem seu pensamento como parlamentar, e não como Partido. Desde o início da pandemia, o compromisso do Democratas com a ciência e a preservação da vida se faz evidente em nossas gestões pelo Brasil”.
Eis a íntegra da nota da Secretaria de Saúde de SP:
“Senador Marcos Rogério mente em CPI sobre protocolo de uso de cloroquina em SP
Mais uma vez o senador bolsonarista Marcos Rogério, em sessão da CPI da Covid desta terça-feira (25), manipula informações. Omite que São Paulo, como os demais estados da federação, segue o preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o uso da cloroquina/hidroxicloroquina para tratamento de diversas doenças: artrite reumatoide, lúpus, artrite idiopática juvenil, dermatomiosite, polimiosite e malária. Assim, a distribuição feita aos Departamentos Regionais de Saúde (DRS) é corriqueira e de praxe, para atendimento aos pacientes que de fato fazem uso de tal medicamento para tratamento de outras doenças que não COVID-19, uma vez que não existe, até o momento, estudo publicado e revisado sobre a eficácia de nenhum medicamento para “tratamento precoce” contra o novo coronavírus.
Em SP, os gestores de saúde deliberaram pela não recomendação do uso do medicamento em casos leves, moderados ou graves de COVID-19 devido à insuficiência de evidências sobre a eficácia. Vale lembrar que a automedicação é contraindicada em qualquer hipótese e, especialmente para COVID-19, é necessário haver embasamento científico e prescrição médica para segurança dos pacientes. Nenhum medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da COVID-19 foi adotado em protocolos pelo Governo do Estado de São Paulo.
Os negacionistas poderiam se ater aos temas que realmente importam para combater a COVID-19 e trabalhar em prol deles: a vacinação, o distanciamento social, o uso de máscaras e adoção de medidas de higiene”.
M. V.