Secretário de Saúde do Espírito Santo enfatizou que “vacinar adolescentes com vacinas autorizadas pela agência reguladora nacional, a Anvisa, é parte da estratégia de controle da pandemia”
A decisão do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de não vacinar adolescentes, tomada sem nenhum respaldo técnico, foi duramente criticada por especialistas e Secretários Estduais de Saúde. A interrupção da vacinação de adolescentes foi anunciada depois de um conversa do ministro Queiroga com Jair Bolonaro. O Secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, classificou o caso como “estarrecedor”.
“Esta não é uma estratégia do Ministério da Saúde, é a estratégia do presidente da República. O negacionismo governa o país. Os técnicos do Ministério e os especialistas da Câmara Técnica Assessora são favoráveis a vacinação”, ponderou o Secretário em suas redes sociais. Ele alertou a população sobre a gravidade da decisão do governo. Confira abaixo a íntegra do artigo do especialista capixaba.
ESTARRECEDOR
NÉSIO FERNANDES (*)
É um consenso na epidemiologia a necessidade de alcance a ampla cobertura vacinal para controle de doença infectocontagiosa. Dependendo da taxa de transmissão de um vírus e da eficácia das vacinas disponíveis encontramos o % de cobertura vacinal necessária.
No caso do SARSCoV2 responsável pela COVID19 será necessário alcançar 90% de cobertura vacinal. Vacinar adolescentes com vacinas autorizadas pela agência reguladora nacional, a Anvisa, é parte da estratégia de controle da pandemia. Controlar a pandemia = vidas salvas, economía revigorada e segurança espiritual as famílias.
Quem não quer?
Qual a proposta, imunidade de rebanho para adolescentes?
Essa é a estratégia do Ministério da Saúde?
Não, não é estratégia do Ministério da Saúde, é a estratégia do presidente da República. O negacionismo governa o país. Os técnicos do Ministério e os especialistas da Câmara Técnica Assessora são favoráveis a vacinação.
O chefe do Ministério da Saúde precisa reunir um perfil de competências que expresse habilidade de entender o seu contexto político, seu teto administrativo e as necessidades sociossanitárias do país.
Precisa entender como o SUS em mais de 33 anos de criação soube preservar o respeito e a unidade Tripartite, ao controle social e as instituições técnico-científicas. A pandemia exige dos gestores públicos postura de liderança, capacidade de construir pontes e consensos.
Trazer para dentro do SUS a beligerância que contaminou de ódio o Brasil não irá contribuir em nada para enfrentar a pandemia.
Em matéria de vacinação de adolescentes é melhor ouvir a Sociedade Brasileira de Pediatria que o presidente da República.
Estados e Municípios por regra/obrigação enfrentaram a pandemia no front. Não tinha outra opção. A vacinação de adolescentes já estava prevista, anunciada e documentada pelo Ministério da Saúde. Nada novo, falsa polêmica.
Nas últimas 24h o grito anti-vacina de canais bolsonaristas e a pressão do Planalto pesou mais que as convicções já consolidadas no próprio Ministério da Saúde, no próprio PNI/MS.
As posições apresentadas hoje na coletiva do MS fragilizam a confiança nas vacinas e no SUS.
Para todas as decisões tomadas no âmbito da gestão da pandemia no Espírito Santo, além de decidas razões e fundamentação técnica, temos resultados para apresentar. Temos plena responsabilidade pelos resultados: salvamos vidas e criamos condições para a retomada da economia.
Vamos precisar de serenidade neste momento. Como gestores nos compete seguir o enfrentamento da pandemia, vamos defender vacinas seguras, eficazes e autorizadas para uso nos adolescentes como estratégia de saúde pública, não vamos adotar a estratégia de “imunidade de rebanho”.
(*) Nésio Fernandes é Secretário de Saúde do Espírito Santo