Já são 100 mil casos e distanciamento social continua pelo menos até 7 de maio
O secretário de Estado da Grã Bretanha, Dominic Raab, anunciou na quinta-feira (16) que a quarentena será prorrogada por, pelo menos, três semanas para tentar frear a propagação da pandemia de Covid-19, até 7 de maio.
Raab lidera interinamente o governo, enquanto o primeiro-ministro Boris Johnson se recupera da doença, que chegou a levá-lo à UTI.
A extensão do confinamento ocorre no dia em que o país registrou novo recorde de mortes em 24 horas – 861 – e superou a marca dos 100 mil contágios.
De acordo com o Guardian, Raab disse que a quarentena poderá ir “até junho”.
O total de mortos pelo coronavírus chegou a 13.729, segundo o Serviço Nacional de Saúde, a saúde pública inglesa, conhecida pela sigla NHS.
A escalada das mortes diárias é um indício de que o novo coronavírus está chegando ao pico do contágio na Grã Bretanha, mas, conforme o ministro da Saúde, Matt Hancock, é cedo demais para suspender a quarentena porque o vírus “se alastraria”.
O país tem o quinto maior número de mortes por covid-19 do mundo, atrás dos EUA, Itália, Espanha e França. Mas o número de mortos real deve ser ainda maior, já que essa contagem só inclui mortes em hospitais.
“Achamos que é cedo demais para fazer uma mudança”, disse Hancock. “Embora tenhamos visto um achatamento no número de casos e, felizmente, um achatamento no número de mortes, isso ainda não começou a baixar.”
“Se simplesmente descartássemos todas as medidas agora, o vírus voltaria a se alastrar, e não podemos deixar isso acontecer”, afirmou.
Antes de aceitar o bom conselho dos infectologistas, o governo Johnson havia caído no conto da ‘imunização de rebanho’, de acordo com o qual era só deixar o coronavírus ir contagiando ‘naturalmente’, para a população ficar imunizada. Uma versão britânica do “vem pra rua morrer”. Estudo do renomado Imperial College mostrando que a mortandade que esse ‘método’ acarretaria seria monstruosa e socialmente inaceitável, fez o governo mudar de ideia e instaurar a quarentena, e correr atrás do tempo perdido.
Johnson está convalescendo de complicações da covid-19 em sua residência de campo. No domingo passado, a Rainha Elizabeth II voltou a fazer um raro discurso, em que se disse certa de que o povo inglês vencerá o desafio da pandemia. Uma semana antes, ela defendera em discurso a quarentena, dizendo que era “a coisa certa” e lembrara episódio da adolescência, durante a II Guerra, quando fizera uma mensagem para as crianças iam para o interior, longe dos pais, para estarem protegidas dos bombardeios nazistas.
À noite, a população vai para as janelas para aplaudir o pessoal do NHS, que está cuidando de todos, e numerosos vídeos têm sido postados manifestando o agradecimento aos médicos, enfermeiros, bombeiros e auxiliares. 45 trabalhadores da saúde já morreram de Covid-19.
O primeiro-ministro Johnson, privatista, e cujo partido repetidamente estrangulou o NHS, agradeceu aos cuidados recebidos que “salvaram sua vida”. Com tantas mortes, em algumas áreas o corpo de bombeiros está sendo chamado para retirar os corpos.
O diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, voltou a advertir os países europeus a “não baixarem a guarda”, e lembrou que a Covid-19 “mostrou sua capacidade de saturar até os sistemas de saúde mais poderosos da Europa”.
Para qualquer alívio das medidas de quarentena, ele pediu que sejam observadas as recomendações da OMS de que as infecções estejam controladas, que o sistema de saúde esteja em condição de dar conta da fase de transição, que o risco de surtos seja minimizado, especialmente em locais como asilos de idosos, que medidas preventivas tenham sido tomadas nas escolas e locais de trabalho, que haja controle dos chamados ‘casos importados’, e que a opinião pública esteja bem informada. Na Europa, o total de casos já chegou a 1 milhão, com mais de 84 mil mortos.
ANTONIO PIMENTA