Contrariando a legislação aprovada pelo Congresso Nacional, o ministro quer que empresários possam adquirir vacinas contra a Covid-19. Por enquanto, a compra do imunizante pelo setor privado só pode ocorrer se todas as doses forem doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
“Nossos empresários têm capacidade de ir lá fora e comprar sobras de vacina”, disse Paulo Guedes, na audiência.
O ministro chegou a falar diretamente sobre o caso de Minas Gerais. “Um grupo de empresários em Minas compraram e já se vacinaram por lá, por enquanto isso é ilegal, mas podemos tornar legal”, defendeu, enquanto o país vacinou apenas 7% da população.
O próprio Guedes, no entanto, sabe o quanto sua proposta é absurda. “Isso seria criticado, porque iam falar que só os ricos conseguem comprar vacina”, complementou.
Atualmente, a lei que vale no país foi aprovada há cerca de 20 dias autoriza a compra de vacinas pela iniciativa privada. As empresas, no entanto, são obrigadas a doar ao SUS todas as doses até que os grupos de risco – 77,2 milhões de pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde – tenham sido imunizados em todo o país.
Mesmo depois da imunização dos grupos prioritários, as vacinas compradas pela iniciativa privada devem ser divididas meio a meio com o SUS, numa operação fiscalizada pelo Ministério.
O projeto é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cuja família faz parte do ramo dos transportes. Em resposta, o político garantiu que desconhece “o assunto” da vacinação em Belo Horizonte e ainda disse que “a lei não admite vacinação privada, mas aquisição de vacina para doação ao SUS”.
O Brasil vacinou menos de 15 milhões de pessoas até agora. O país alcançou, nesta quarta-feira (24), a assustadora marca de 300 mil óbitos pela Covid-19. O número é tão grande que supera a população de 98,3% das 5.570 cidades brasileiras.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal vão investigar uma sessão clandestina de vacinação em Minas Gerais. Os empresários de Minas Gerais teriam comprado as doses por contra própria e não repassaram ao Sistema Único de Saúde (SUS) e pagaram, por cada ampola, cerca de R$ 600. A origem das doses utilizadas na vacinação clandestina segue desconhecida.
Seriam políticos e empresários ligados ao setor de transporte de Minas Gerais, além de seus familiares. Segundo fontes ouvidas pela Revista Piauí, quem organizou a vacinação particular foram os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da Viação Saritur, importante empresa mineira de transporte. A imunização feita na terça teria ocorrido em uma garagem de uma das empresas da Saritur.
O Ministério Público Federal abriu procedimento criminal para investigar se o grupo de políticos e empresários comprou doses do imunizante contra Covid e organizou a vacinação clandestina.
O ex-ministro e agora deputado federal pelo PT, Alexandre Padilha, pediu o confisco das vacinas, supostamente compradas pelos empresários. De acordo com o Ministério Público Federal, a vacinação, se confirmada, pode indicar crimes relacionados à importação ilegal de medicamentos. A investigação segue sob sigilo.
O governo de Minas Gerais não se manifestou sobre o assunto.