Walter Degatti também confirmou que ela o levou a um encontro pessoal com Bolsonaro no Palácio do Alvorada, em agosto de 2022, e que o ex-presidente questionou se ele poderia invadir as urnas
O hacker Walter Delgatti relatou, em depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira (16), que recebeu R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli (PL-SP) para invadir qualquer sistema do poder Judiciário. Segundo o advogado do depoente, Ariovaldo Moreira, o hacker apresentou provas “relacionadas a pagamentos que ele recebeu da deputada”.
O hacker também informou que se encontrou pessoalmente com Bolsonaro no Palácio do Alvorada, em agosto de 2022, e que o ex-presidente questionou se ele poderia invadir as urnas.
A defesa esclareceu que o depoimento de hoje foi um “complemento” a informações que Delgatti já havia prestado no mês passado em São Paulo. “O delegado queria esclarecimentos para que feche bem o depoimento que foi dado lá”, afirmou Moreira.
“Ele tem provas de que recebeu valores da Carla Zambelli. Segundo o Walter, o valor chega próximo a R$ 40 mil. Foi próximo a R$ 14 mil em depósito bancário. O restante, em espécie. [Para] invadir qualquer sistema do Judiciário”, afirmou o advogado.
O advogado também afirmou que Delgatti citou mais pessoas envolvidas no caso da invasão dos sistemas do Judiciário. “Foram citadas outras pessoas envolvidas ou que colaboraram com o Walter na invasão”, disse Moreira.
O hacker voltou a entrar na mira da PF em janeiro deste ano pela invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Delgatti foi preso em julho, em operação da Polícia Federal que investiga a tentativa de invasão nos sistemas do Judiciário. No dia da operação, houve buscas e apreensões da polícia em endereços de Zambelli.
Ele já tinha dito à PF que encontrou com Zambelli em setembro de 2022, às vésperas da eleição, em um posto de gasolina e que ela pediu que ele invadisse a urna eletrônica ou qualquer sistema da Justiça brasileira. Segundo Delagatti, a intenção dela era mostrar a fragilidade dos sistemas. Delgatti chegou a tentar invadir a urna, mas que o código fonte não estava conectado a um computador em rede e, por isso, não conseguiu.
Ele respondeu a Zambelli que não tinha tido sucesso. Ela então pediu que ele invadisse o celular e e-mail do ministro Alexandre de Moraes para tentar conversas comprometedoras. Ele disse que já tinha acessado o e-mail de Moraes em 2019 e não havia encontrado nada. Disse também que conseguiu ter acesso ao sistema do CNJ e que foi dele a ideia de emitir um mandado de prisão em desfavor de Moraes, como sendo emitido pelo próprio ministro.
Delgatti informou à PF que, ao contar isso a Zambelli, ela enviou um texto para publicar, mas que o português estava ruim e que, após fazer os ajustes, emitiu o mandado incluindo o bloqueio de bens no mesmo montante da multa aplicada ao PL. Foi nesse momento que ele foi levado por Zambelli para um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto de 2022.