Presidente da Anvisa disse que não concorda com tese da “imunidade de rebanho”, defendida por Bolsonaro. E confirmou que o presidente da República fez reunião no Planalto para mudar bula da cloroquina
O senador Otto Alencar (PSD-BA), na inquirição dele para o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, quis saber sobre o uso de drogas ineficazes para o combate à Covid-19: “no dia 27 de março de 2020, o senhor encaminhou um protocolo ao Hospital Einstein para estudo da hidroxicloroquina. Confere?”. “Confere”, respondeu Barra Torres.
“Senador, o que houve de aprovação de protocolo foi protocolo de pesquisa, de estudo aqui no Brasil; não de uso. Os protocolos de uso já haviam no Ministério [da Saúde], mas aí é uma questão do Ministério. Quanto à Anvisa, ela [esta] não aprova protocolos de uso em lugar nenhum. Ela aprovou naquele caso relativo ao Hospital Israelita Albert Einstein protocolo de pesquisa e, salvo melhor juízo, não foi um só não”, explicou.
O presidente da Anvisa compareceu, nesta terça-feira (11), perante a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado, que investiga as ações, omissões e inações do governo federal no combate à pandemia da Covid-19.
O senador Otto Alencar e demais parlamentares demonstraram especial interesse nas negativas da agência reguladora para o uso dos imunizantes Sputnik V, da Rússia; e Covaxin, de origem indiana.
Em relação à vacina russa, a Anvisa está com a análise parada, segundo Barra Torres, para que o fornecedor, por meio de seu representante, a União Química, forneça uma série de informações que estariam faltando.
“É muito importante que se entenda que esse processo de interrupção ou de negativa da autorização excepcional de importação não deve somar a esta marca Sputnik V um pensamento negativo. Isso faz parte do processo […]”, disse.
“O que conclamo é que, tão logo essa situação seja resolvida, não se credite a essa vacina nenhuma característica ruim. Nossa preocupação é que, amanhã ou depois, a nossa população tenha receios. Não é essa a nossa intenção”, afirmou, lembrando que não cabe à Anvisa fazer a análise laboratorial de imunizantes, mas da documentação apresentada pelo desenvolvedor.
SEGURO, NÃO CORROBOROU COM BOLSONARO
Com mandato que vai até dezembro de 2024, ele foi nomeado pelo presidente da República em novembro de 2020 e chancelado pelo Senado. Com mandato de 5 anos, o diretor-presidente da Anvisa não pode ser demitido.
Seguro, o presidente da Anvisa portou-se diferente do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que deverá ser reconvocado, pois frustrou a maioria dos membros da CPI, com respostas evasivas. Isso deixou Bolsonaro “bufando de raiva”, teria dito um parlamentar que tem acesso ao Palácio do Planalto.
Bolsonaro acompanhou o depoimento de Barra Torres à CPI da Covid, que afirmou ser contra qualquer tipo de aglomeração na pandemia, disse não acreditar na tese da “imunidade de rebanho” e acrescentou não considerar razoável que alguém discorde de vacinas.
Barra Torres ainda confirmou que houve reunião no Planalto, com a presença de ministros de Bolsonaro, para tratar de decreto presidencial que alteraria a bula da cloroquina, com a intenção de avalizar o uso do medicamento para tratamento de pacientes com Covid-19.
A FAVOR DA CIÊNCIA
Ao encerrar a reunião desta terça-feira, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que ficou claro o posicionamento da Anvisa a favor da ciência.
O próximo encontro da comissão de inquérito é nesta quarta-feira (12), às 9h30, para depoimento do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten.
M. V.