A prefeitura de São Paulo anunciou na sexta-feira (26) o encerramento das atividades do Hospital de Campanha do estádio do Pacaembu na próxima segunda-feira (30). O hospital para atendimento de casos de coronavírus que necessitam de internações consideradas de baixo risco começou a receber pacientes em 6 de abril.
No último boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de São Paulo com dados da quinta-feira (25), a taxa de ocupação de UTIs na cidade estava em 57%, no entanto, a gestão municipal só considera para o cálculo os 20 hospitais que são administrados pela gestão municipal e os leitos da rede particular que foram requisitados. Ficam de fora os hospitais públicos que são administrados pelo estado e a rede particular da cidade.
Até a manhã da sexta-feira, quando o boletim foi atualizado, o HCamp Pacaembu possuía apenas 11 pessoas internadas. O hospital recebeu, ao todo, 1.212 pacientes durante todo o período de funcionamento.
O outro hospital de campanha da capital, que foi instalado no Complexo do Anhembi, e possui atualmente 225 pacientes, permanecerá em funcionamento.
Nenhum dos hospitais de campanha municipais registrou óbitos até o último boletim. Até 26/06, 5.058 pessoas receberam alta após passar pelos hospitais municipais de campanha.
“A gente está hoje com uma taxa de ocupação abaixo de 60% dos 1.400 leitos de UTI que nós acrescentamos à rede municipal aqui na cidade de São Paulo, então, é um trabalho importante que fez com que a gente tivesse uma letalidade de 0,5% muito abaixo também do que vários outros países tiveram que enfrentar na pandemia, então, mostra também o sucesso do acerto que foi reforçado, toda área também do SUS na cidade de São Paulo para poder atender a população”, afirmou o prefeito da capital paulista, Bruno Covas.
Segundo ele, a redução do número de internações justifica a continuação do processo de reabertura econômica. Junto ao governo do estado, a Prefeitura autoriza a volta gradual de bares, restaurantes e salões de beleza na cidade, a partir de 6 de julho.
Os dados centralizados pelo governo do estado, que levam em conta toda a rede de saúde na cidade de São Paulo, apontam para a taxa de 65,4% na quinta-feira (25).
HOSPITAIS DE CAMPANHA
Criados para aliviar a rede municipal durante o pico da pandemia, os hospitais de campanha da gestão Bruno Covas operam hoje com cerca de 20% de sua capacidade. O contrato firmado com a rede privada Albert Einstein para a administração do hospital instalado no estádio teria duração de 120 dias, o que permitiria o funcionamento do hospital até o final de julho. No entanto, segundo Bruno Covas, a evolução positiva da epidemia na cidade permitiu que o hospital fosse fechado mais cedo.
“Com os números que nós temos na cidade de São Paulo, nós temos além dos 1340 leitos de UTI, 1984 leitos de enfermaria que foram criados para poder atender a população na cidade de São Paulo, nós estamos hoje com uma taxa de ocupação desses 1.984 leitos de 48%, desde o dia 1º de junho essa taxa vem diminuindo na cidade de São Paulo e nos últimos dez dias nós estamos com uma taxa abaixo dos 50%, por isso, que então, a Prefeitura entende que chegou o momento de começar a fechar esses leitos na cidade e vamos fechar na segunda-feira o hospital municipal de campanha do Pacaembu”.
Os hospitais de campanha tiveram picos de pacientes no dia 15 de maio, quando 760 pessoas estavam internadas em ambos os hospitais. Mesmo nesse período, as duas instalações emergenciais não chegaram a lotar, ficando com lotação por volta de 70% dos leitos ativos.
Na comparação entre maio e junho, a média de pacientes internados caiu 41%, de 656 para 383.
Para o médico Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, a diminuição da ocupação dos hospitais de campanha ocorreu paralelamente ao incremento de vagas em hospitais regulares.
“Uma das coisas que os hospitais de campanha fizeram foi atender uma época em que a estrutura regular estava menos preparada. Uma parte do que aconteceu não é só que estão caindo os casos mas que a rede hospitalar tem mais leitos disponíveis”, disse.
Ele afirma que as estruturas foram criadas num momento em que pouco se sabia sobre as dimensões que doença teria no país e que elas absorveram demanda que impediu o sistema de ficar mais pressionado.
“Sem ter certeza, a melhor estratégia é ter mais leitos, um pouco de leito ocioso, do que passar pela situação que muita gente no mundo passou”, disse.
A queda na ocupação dos hospitais de campanha municipais coincide também com a criação de duas unidades de campanha estaduais, no Ibirapuera e em Heliópolis, em maio. Ambos hospitais estão com índice maior de ocupação que os municipais, variando entre 50% e 70%, segundo o governo.
O hospital de Heliópolis tem 116 pacientes e 200 leitos (58% de ocupação). Com 268 vagas, a unidade do Ibirapuera tem 133 internados (50% das vagas). Segundo o governo de João Doria, os locais “continuam em funcionamento e estão mantidos até que seja constatada uma diminuição no número de internações”.
Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), diz que um possível aproveitamento das estruturas de hospitais de campanha ociosas na capital seria utilizá-las para atender a população do interior.
Enquanto a capital tem queda na média de internações, a doença avança pelo interior paulista. Stucchi citou, por exemplo, dado que mostra que por volta de 40% dos internados em Campinas não são da cidade, que caminha para ter seu sistema totalmente ocupado.
“Talvez pudesse haver um consórcio do governador com prefeitos das cidades do interior que não têm condições de arcar com internações para que sejam transferidos para São Paulo nas estruturas que já estão montadas”, diz. “A gente tem uma malha viária muito satisfatória que daria para esses pacientes estarem sendo transportados”.