Pelo quinto mês seguido, derrubada da floresta atinge o pior patamar dos últimos 15 anos. Degradação florestal causada pelas queimadas e pela extração de madeira aumentou 359% na Amazônia.
Em nove meses de 2022, a área de floresta derrubada na Amazônia atingiu 9.069 km², o que corresponde a quase oito vezes a cidade do Rio de Janeiro. De janeiro a setembro foi a maior devastação, em 15 anos, desde que o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) para a Amazônia Legal, em 2008.
Além disso, foi a quinta vez consecutiva em que a derrubada atingiu o pior patamar dos últimos 15 anos, entre janeiro e setembro. Durante uma década, de 2008 a 2017, o desmate acumulado no período se manteve abaixo dos 3.500 km².
Além do desmatamento, que é a retirada total da vegetação, a degradação florestal causada pelas queimadas e pela extração de madeira aumentou 359% na Amazônia.
A área afetada por esse dano ambiental passou de 1.137 km² em setembro de 2021 para 5.214 km² no mesmo mês deste ano. Ou seja: um crescimento de quase cinco vezes. Além disso, esse foi o sexto mês consecutivo em que a degradação aumentou.
“Esses altos níveis de destruição não só ameaçam a biodiversidade e os povos e comunidades tradicionais, mas afetam também a vida de toda a população brasileira. A derrubada da floresta impacta no aumento das emissões dos gases do efeito estufa, que são os grandes responsáveis pela mudança climática e pelos eventos extremos”, explica a pesquisadora do Imazon, Bianca Santos.
“Grande parte das áreas degradadas na floresta amazônica em setembro estão relacionadas às queimadas, que oferecem risco à saúde pública. Diversos estudos as associam com o aumento dos problemas respiratórios e não só na população amazônica, pois a fumaça das queimadas pode chegar a outras regiões do país”, acrescenta Bianca.
Só em setembro, apenas dois estados concentraram 96% da área degradada na Amazônia: Mato Grosso, com 3.865 km² afetados (74%), e Pará, com 1.127 km² (22%).
Já em relação ao desmatamento, apenas em setembro foram destruídos 1.126 km² de floresta na Amazônia, o que equivale a mais de três vezes o tamanho de Belo Horizonte. Esse foi o terceiro pior setembro em 15 anos, ficando atrás apenas de 2021 e 2020.
E quase metade dessa destruição ocorreu no Pará: 553 km² (49%). No estado, a destruição está avançando para o norte e se aproximando do maior bloco de áreas protegidas do mundo, o que representa uma grande ameaça à biodiversidade amazônica e aos povos e comunidades tradicionais da região.
Outro problema no Pará, ainda segundo o Imazon, é o avanço da destruição dentro de terras indígenas e unidades de conservação.
“Seis dos 10 territórios indígenas mais desmatados em setembro estão em solo paraense, inclusive o Apyterewa, que liderou o ranking. O local, que neste ano vem sofrendo mensalmente com o avanço das invasões, perdeu apenas no mês passado uma área equivalente a 1,8 mil campos de futebol. Já em relação às UCs, o Pará tem cinco das 10 mais destruídas, com destaque negativo para a APA do Lago de Tucuruí, a segunda colocada”, afirma Raissa Fernanda Ferreira, pesquisadora do Imazon.
MENTIRAS
No último domingo (16), durante o debate dos candidatos à presidência do país, Jair Bolsonaro (PL) afirmou que seu governo é o que menos desmatou em comparação ao governo Lula (PT).
Os dados mostram que o governo Lula teve a maior média anual de desflorestamento em seu governo, mas pegou o indicador em alta e o entregou na mínima histórica, em 2010. Bolsonaro, por outro lado, recebeu o indicador em um patamar menor e, nos três primeiros anos de seu governo, houve uma disparada.
A média anual de desmatamento do governo Lula em seus dois mandatos foi de 15,7 km², contra 11,3 mil km² de média nos três primeiros anos da gestão de Jair Bolsonaro. Lula, porém, reduziu o desmatamento em 61%, enquanto Bolsonaro o aumentou em 73%.
O desmatamento da Amazônia também foi recorde nos seis primeiros meses de 2022, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que usa como base dados do sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe.
O acumulado de janeiro a junho, 3.988 km², é o maior da série histórica iniciada em 2016 e 80% maior que a média de área desmatada no mesmo período em 2018, último ano da gestão de Michel Temer (MDB).
“Não tem como ter duvida. Os números são absolutamente claros: Lula promoveu uma revolução no enfrentamento do desmatamento e Bolsonaro provocou o maior retrocesso no combate ao desmatamento desde que começou a ser monitorado em 1988”, destacou em uma postagem no Twitter o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, que atuou na criação do Fundo Amazônia.
O Observatório do Clima, rede de 37 entidades da sociedade civil brasileira voltada para discutir as mudanças climáticas, foi ao Twitter desmentir a declaração de Bolsonaro.
“Jair Bolsonaro MENTE sobre desmatamento no governo Lula. O PT pegou o desmatamento em 25 mil km2 e reduziu a 4.500 km2. Bolsonaro pegou com 7.500 km2 e levou a 13.000 km2”.
Uma das publicações com maior engajamento sobre o tema foi a do ex-presidente do Inpe Ricardo Galvão, demitido em 2019 por Bolsonaro após o instituto divulgar dados que mostravam o aumento do desmatamento. “Bolsonaro falando sobre desmatamento é o ápice do cinismo. Ele me exonerou pois não gostou que os dados do Inpe estavam apontando aumento do desmatamento!”, escreveu Galvão.