O fiasco do “desfile de tanques” promovido por Jair Bolsonaro na terça-feira mereceu o destaque de jornais do mundo inteiro, com o Financial Times britânico registrando que o evento “aconteceu horas antes de os legisladores debaterem uma emenda constitucional apoiada por Bolsonaro para mudar o sistema de votação do País antes das eleições presidenciais do próximo ano” intento no qual acabou derrotado. Um “ataque à democracia brasileira”, assinalou o jornal, que citou, como causa da queda da popularidade, as “mais de meio milhão de mortes causadas pela Covid-19 no Brasil”.
NYT
A investida contra a democracia, através da tentativa de deslegitimar a urna eletrônica, foi enfatizada pelo principal jornal norte-americano, The New York times: “críticos temem que, assim como o presidente (dos EUA) Donald Trump convenceu muitos apoiadores de que sua vitória foi roubada em 2020, Bolsonaro esteja preparando as bases para contestar uma derrota eleitoral em outubro de 2022”. Segundo o NYT, os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro vêm se intensificando à medida que ele despenca nas pesquisas de intenção de voto para 2022.
LE MONDE
O jornal francês Le Monde assinalou que o insólito desfile de tanques promovido por Bolsonaro ocorre “em um clima de crise aberta entre o Poder Judiciário e o presidente brasileiro, que desmorona nas pesquisas, à medida que se aproxima a eleição presidencial de 2022.”
Para o jornal francês, trata-se de “um gesto político muito calculado, uma tentativa de demonstração de força”. “Foi a primeira vez que o Exército, de onde veio o ex-capitão Bolsonaro, desfilou diante da sede dos três Poderes desde o retorno da democracia em 1985”, acrescentou.
Também para o Le Monde, no Brasil “há temores de um ‘cenário Trump’ de derrota de um presidente populista e cessante, agarrando-se ao poder e mobilizando seus apoiadores nas ruas”.
GUARDIAN
Já o jornal inglês The Guardian ressaltou os tanques “expelindo fumaça” diante do Palácio do Planalto. Registrou que foi assistido por “apenas cerca de 100 apoiadores fiéis de Bolsonaro”, sem deixar de assinalar que é um ato sem precedente desde a restauração da democracia em 1985.
DER TAGESSPIEGEL
A chantagem contra a democracia também não passou despercebida pelo jornal alemão Der Tagesspiegel, que disse que “de acordo com observadores, foi a primeira vez, desde o retorno da democracia, que tanques passaram pelo palácio presidencial”. O artigo classifica Bolsonaro como “chefe de Estado radical de direita”, que ficou observando a passagem dos veículos militares “pelo palácio presidencial, pelo prédio do Congresso e pela Suprema Corte”.
EL PAÍS
O desfile de tanques “foi visto como uma provocação”, afiançou o jornal espanhol El País, que transcreveu uma declaração do presidente da Comissão Parlamentar de Investigação da Pandemia, senador Omar Aziz: “As Forças Armadas nunca poderão ser utilizadas para intimidar a sua população, seus adversários, atacar a oposição legitimamente constituída”. A CPI vem fechando o cerco à responsabilização de Bolsonaro pelo desastre diante da pandemia, sob o negacionismo promovido por seu governo e a corrupção na compra de vacinas.
Sobre os 100 gatos pingados que prestigiaram no cercadinho do Planalto a parada de Bolsonaro, o El País citou a faixa “Presidente, destitua os 10 do STF”.
O El País lembrou a última vez que as tropas se alinharam em Brasília fora de datas comemorativas, em 1984, quando da votação da Emenda das Diretas. O pretexto oficial, agora, foi entregar um convite para uma manobra realizada anualmente em Goiás, com a maior parte dos veículos militares procedentes do Rio de Janeiro. “A passagem pela capital [Brasília] não estava no itinerário inicial, já que a rota mais curta entre o Rio e o local das manobras não passa por ali”. Além desses comentários de parte de jornais do mundo inteiro, o desfile também virou alvo de muitos – e irônicos – memes.