
O presidente Nicolás Maduro foi empossado nesta quinta-feira na Suprema Corte Venezuelana para um segundo mandato (2019-2025) após o “processo” eleitoral ter registrado uma das mais baixas participações da história venezuelana. Conforme o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), compareceram apenas 53,98% dos 20,5 milhões de venezuelanos aptos a participar do pleito, com Maduro obtendo 6.258.864 votos – ou pouco mais de 25% do total.
Maduro precisou tomar posse na Suprema Corte porque a Assembleia Nacional teve suas prerrogativas suspensas e foi declarada em “não acatamento” por ter se recusado a destituir três deputados acusados de fraude eleitoral. Alinhada com Maduro, a Justiça tenta criar uma correlação de forças que inexiste, dando ao governo uma representatividade que não tem. Bem diferente das massivas concentrações populares da época do comandante Hugo Chávez, a insignificante mobilização para aclamar o reeleito, restrita a setores dependentes de bônus e prebendas governamentais, retrata o que é a política madurista.
Sempre é bom lembrar, ressalta Javier Antonio Santana, professor da Missão Sucre e mestre em Ciências Sociais, que as tais “eleições” estiveram “viciadas em todas as suas etapas, desde a convocação até a totalização, com uma participação que apenas superou os 9 milhões de votos válidos, e em que o candidato ‘vencedor’, ou seja, o presidente ‘reeleito’, tão somente superou os 6 milhões de sufrágios, 40% menos dos que obteve na eleição presidencial de 2013”. Fica em evidência que o madurismo foi o grande derrotado do processo”, assinalou, porque houve uma abstenção de mais de 50%, e com os oposicionistas Falcón e Bertucci somando outros 25% do eleitorado.
Acuado, Maduro voltou a fazer uso de frases altissonantes, jurando pelo “legado do nosso amado comandante Chávez” e “pelas crianças da Venezuela”, dizendo que não dará descanso a seu braço nem repouso a sua alma para “defender a pátria”.
“Maduro grita ‘soberania’ e entrega o Arco Mineiro de Guyana – ou seja, mais de 100 quilômetros quadrados às mineradoras internacionais -, grita ‘pátria’ e reprime os povos originários, grita ‘humanidade’ e estranhamente se ‘suicidam’ presos jogando-se do décimo andar”, escreveu no dia da “posse” o colunista Yuri Valecillo, estampado no reconhecido site chavista Aporrea. “Senhor presidente, a pátria não são somente você e quem o rodeia apenas para desmandar”, alertou o chavista, condenando “a campanha de desprestígio contra todo aquele que se oponha à política madurista, à política de atropelo, de juízo militar aos trabalhadores por protestar, de fome, de desemprego, de corrupção desenfreada, de usurpação de funções”.
GRUPO DE LIMA
“Claro que é uma ofensa à Venezuela a grosseira atitude do grupo de Lima, ainda que não deixe de ser ofensiva, grosseira e criminosa as ações do governo contra a dissidência política nacional, contra os operários da Ferrominera, contra os professores e educadores, contra as donas de casa, contra um país inteiro onde muitos fogem do governo de Maduro e seus acompanhantes de farda… Fogem de uma nação que os reprime e de um governo que os abandona”, enfatizou Valecillo.
Em vez de aprofundar a democracia e construir consensos que apontem rumo ao enfrentamento da crise – que se aprofunda a olhos vistos –, investindo na industrialização e em um projeto nacional que contemple os mais amplos setores, garantindo direitos e valorizando os salários, o governo Maduro se limita a tomar medidas perfunctórias como cortar zeros da moeda, a perseguir opositores e acusar a própria sombra de “fazer o jogo do imperialismo”.
Com todo o petróleo – e tão perto – que a Venezuela tem, não é surpresa que esteja na mira dos EUA e do cartel das Sete Irmãs, mas não é culpa de Washington que Maduro, com toda a corrupção e incompetência que o cercam, facilite enormemente seu trabalho de sabotagem.