
“Como disseram Xi Jinping e Vladimir Putin, vive-se um tempo de grandes transformações, onde semanas parecem décadas. O declínio do império e a ascensão do campo anti-imperialista indicam que a Humanidade progressista pode estar saindo de um longo período de defensiva estratégica”
SÉRGIO CRUZ (*)
Vivemos a época histórica do imperialismo, sistema que Lenin caracterizou como a fase final do capitalismo e a antessala do socialismo. Segundo o revolucionário russo, este é o estágio onde o capital financeiro, resultado da fusão dos monopólios industriais e bancários, passou a controlar o conjunto da economia, impondo a ela um alto grau de parasitismo e estagnação. Até hoje esse sistema se desenvolve, no essencial, no sentido apontado originalmente por Lenin.
Esse estágio do desenvolvimento do capitalismo começou a se conformar após a primeira grande crise econômica mundial, conhecida como “Longa Depressão”, que durou desde a falência do banco Jay Cooke & Company em 1873, causando grande pânico nas bolsas de valores, até o final da década, mais precisamente até o ano de 1879.
MONOPOLIZAÇÃO E GUERRAS
A saída da “grande depressão” se deu, entre outras medidas, através de um aumento violento da concentração e centralização do capital, ou seja, pelo aprofundamento da monopolização da economia, e pela intensificação das guerras de rapina. Foram formados nesta época os grandes monopólios e trustes internacionais que, controlados pelo capital financeiro, disputavam a partilha do mundo.
O acirramento das contradições entre as potências imperialistas marcou o período. Nesta quadra histórica, a Inglaterra ainda mantinha a hegemonia na economia mundial e ainda era considerada a fábrica do mundo. Os imperialistas ingleses eram possuidores do maior número de colônias em diversos continentes, mas, a essa altura, já havia se iniciado o processo de perda de sua hegemonia mundial.
A Alemanha, que havia completado sua unificação após a vitória na guerra Franco-Prussiana, e se industrializara tardiamente, buscava nesta época um lugar ao sol entre as potências hegemônicas. Estava em plena ação a lei do desenvolvimento desigual entre as economias capitalistas, elaborada também por Lenin.
PARTILHA DO MUNDO
A Conferência de Berlim, realizada em 1884, centrada na divisão e na exploração do continente africano, concluiu a partilha, deixando de fora as aspirações dos monopólios alemães e reforçando a supremacia da Inglaterra e seus aliados. Esta situação agravou intensamente os conflitos imperialistas pela repartição do mundo.
A Alemanha iniciou a formação de um bloco militar composto pela própria Alemanha, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano e a Itália (que, em 1915, mudou de lado), para se confrontar militarmente com a Tríplice Entente, bloco formado pela Inglaterra, França e o Império Russo. Era iniciado o período dos grandes conflitos militares entre as potências imperialistas.
Nesta altura os Estados Unidos, que participou como observador da Conferência de Berlim, corriam por fora na disputa pela hegemonia mundial após experimentarem um vigoroso crescimento econômico ocorrido logo após o término de sua guerra civil, em 1865.

O início da I Guerra Mundial, em 1914, agudizou ao extremo a crise interimperialista e, com isso, criou as condições para o surgimento, no “elo mais débil” da contradição daquele momento – conforme apontara Lenin – da primeira revolução socialista vitoriosa no mundo, ocorrida em 1917, na Rússia.
Os bolcheviques (maioria no então denominado Partido Operário Social-Democrata Russo, ou POSDR) derrotaram o grupo dos mencheviques (minoritária), que representavam, na Rússia, as correntes europeias que haviam traído a classe operária em 1914 e apoiado suas burguesias nas guerras de rapina. Defendendo a saída da Rússia da guerra imperialista e o controle da economia pelos trabalhadores em aliança com os camponeses, os liderados de Lenin fizeram a primeira revolução socialista vitoriosa, em outubro de 1917.
VITÓRIA BOLCHEVIQUE
A vitória da revolução bolchevique abriu pela primeira vez no mundo a oportunidade para a classe operária construir o seu Estado e lançar as bases de uma sociedade coletivista, planejada, consciente e sem classes exploradoras.
Com o Estado operário, a motivação da produção já não seria mais a extração da mais valia do trabalhador e a obtenção – na fase imperialista – do lucro máximo, mas o atendimento das necessidades materiais e espirituais crescentes da coletividade através da técnica cada vez mais desenvolvida e avançada.
O fracasso das primeiras tentativas de esmagar a revolução socialista de outubro de 17 levou a oligarquia financeira inglesa e americana, principalmente, mas também a alemã, a instigar e financiar o fascismo nascente, tanto na Itália quanto na própria Alemanha, para cumprirem o papel de “carrascos” da revolução socialista.
Era necessário, na visão do capital monopolista, esmagar a ameaça que representava o primeiro Estado operário do mundo. Antes de cumprir esta missão, no entanto, Hitler achou por bem dominar quase toda a Europa, o que abriu espaço para a sua derrota para a frente ampla antifascista, construída por iniciativa da URSS e que atraiu os EUA e a Inglaterra.
DERROTA DO NAZIFASCISMO
Com a derrota do nazifascismo, em 1945, cresceu de forma incontrolável o prestígio da revolução soviética e do Exército Vermelho em todo o mundo e, particularmente, entre os trabalhadores. Para se contrapor a esse fenômeno, os EUA, que haviam assumido a hegemonia entre os países capitalistas após a guerra, iniciou uma feroz cruzada de difamação contra a URSS, contra o socialismo e seus líderes. Esta “cruzada” ficou conhecida como “Guerra Fria”.
O objetivo desta nova “guerra” era conter a simpatia mundial pelo socialismo e evitar a derrota do capital. O socialismo havia se mostrado um regime que, nesta sua primeira vaga revolucionária, por muito pouco, não conseguiu uma viragem geral na correlação de forças mundial a favor do novo modo de produção.

Após a morte do presidente Franklin Delano Roosevelt nos EUA, em 1945, e a chantagem atômica que se iniciou em seguida – nesta época só os EUA detinham a bomba atômica – além da intervenção econômica americana (Plano Marshal) e militar (OTAN) na Europa, o avanço do socialismo no velho continente acabou sendo contido. O macartismo – anticomunismo feroz, liderado pelo senador de extrema direita, Joseph McCarthy – tratou de barrá-lo também dentro dos EUA.
No campo econômico, prevaleceram, no pós-guerra, as teses do economista liberal inglês, John Maynard Keynes, que, diante do prestígio do socialismo e da força do movimento operário, convenceu os próceres do capitalismo a cederem em alguns aspectos de sua dominação econômica, sob pena de haver um avanço avassalador das ideias do socialismo.
ESTADOS DE BEM-ESTAR SOCIAL
Isto permitiu que a ganância mais desenfreada dos monopólios fosse contida, pelo menos em parte. Esta circunstância, fez surgir em várias partes do mundo os “Estados de Bem-Estar Social”, com muitas conquistas importantes para a classe trabalhadora.
Fruto ainda da vitória e do exemplo da classe operaria russa, o mundo vivia nesta época um vigoroso processo de descolonização e de revoluções de libertação nacional. Diversos países do mundo deixaram de ser colônias e/ou romperam com a dominação imperialista. China e Coreia eram os maiores exemplos. Foi o período do Movimento dos Não Alinhados, cuja direção era claramente anti-imperialista.
O Brasil, em 1930, deixou de ser um país dominado pelo imperialismo inglês e iniciou o seu processo de libertação, de industrialização e de modernização de sua economia, com grandes ganhos para a classe operária.

Mas foi a libertação da China em 1949, sob a direção de Mao Tsé-Tung e do Partido Comunista da China, assim como a criação da bomba atômica pelos cientistas soviéticos no mesmo ano – quebrando o monopólio americano – e a derrota dos EUA na guerra da Coreia, que abriram o lento processo de crise da dominação americana.
O período de crescimento econômico dos EUA no pós-guerra, que ficou conhecido como “Era Dourada”, durou até a década de 1970, quando teve início uma crise estrutural do capitalismo. A economia americana apresentou uma severa perda de competitividade e se viu ameaçada por potências como Alemanha e Japão. Mais uma vez a tese de Lenin, sobre o parasitismo dos países centrais e do desenvolvimento desigual das economias capitalistas, estava em ação.
QUEBRA DE BRETON WOODS
A partir deste quadro, e dos crescentes déficits no balanço de pagamento dos EUA, houve a decisão pela quebra unilateral do acordo de Breton Woods (paridade e livre conversibilidade do dólar), contratado no final da II Guerra Mundial. Com ela veio a desvalorização do dólar – moeda de reserva mundial –, bem como a sua desvinculação da paridade com o ouro. Teve início, alguns anos depois, o período das primeiras experiências neoliberais.
O Brasil se destacava nesta época, fruto das grandes conquistas da Revolução de 1930, como um país próspero e com grandes perspectivas de desenvolvimento. Ao ponto de, nos anos 1970, Henry Kissinger, então secretário de Estado americano, alertar o governo dos EUA sobre os “perigos” dos crescimento brasileiro: “Não podemos permitir um novo Japão ao sul do equador”, disse ele.
O período da contraofensiva do capital, conhecido como período neoliberal, teve início com a política intensamente anti-trabalho, anti-Estado e anti-democrática de Margareth Tatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos EUA, e se aprofundou na década de 1990, com a irrupção da crise na URSS e no campo socialista. A crise na URSS havia sido provocada pela decadência do regime de traição ao socialismo, iniciada com o golpe de Kruschov em meados da década de 1950, e evoluiu para a posterior rendição total de Gorbachov e Yelsin ao imperialismo americano.
O primeiro pacote neoliberal, inspirado em Friedrich von Hayek e Milton Friedman, de arrocho sobre os trabalhadores, de escancaramento do mercado e das contas de capital, além do desmonte do Estado, havia sido aplicado inicialmente no “experimento” da ditadura sanguinária de Pinochet, no Chile e, depois, na Prefeitura de Nova Iorque. Era o início da revanche do capital financeiro que havia sido contido pelas políticas keynesianas e de Roosevelt, e pela luta dos trabalhadores.
Agora ele iniciava a ruptura com as amarras que impediram sua disseminação desregulada e descontrolada e a intensificação da exploração de trabalhadores e dos povos.
OFENSIVA NEOLIBERAL
A ofensiva do capital financeiro, facilitada pelas decisões do então presidente dos EUA, o democrata Bill Clinton, no início da década de 1990, acabou com as últimas leis criadas no período do “New Deal”. Essas leis, entre elas e Lei Glass-Steagall, haviam limitado a ação dos monopólios bancários e barrado a sua atividade extremamente especulativa, fenômeno que havia levado o mundo à bancarrota e à crise financeira de 1929.
A imposição do neoliberalismo ao mundo, em 1989, através do Consenso de Washington, permitiu que o imperialismo quebrasse a soberania e a resistência dos países através da derrubada das fronteiras para o comércio e a especulação, com a mal chamada “globalização”, que não passava do aprofundamento da velha e conhecida internacionalização do capital, ainda que com novas tintas.
A crise criada a partir da derrota da URSS pôs fim ao contrapeso à hegemonia dos EUA e permitiu a ofensiva neoliberal. A partir deste momento, a Humanidade progressista entrou num longo período de defensiva estratégica. Durante este período, os povos lutaram e resistiram centralmente para reduzir os danos provocados pela ganância sem peias do capital.
Na realidade o neoliberalismo proporcionou um enriquecimento acelerado de uma ínfima minoria da sociedade enquanto a ampla maioria da população dos países que o adotaram caía em desgraça. Milhares de empresas reais deixaram de existir e milhões de trabalhadores perderam seus empregos ou tiveram suas relações de trabalho degradadas. Os sindicatos de trabalhadores foram atacados e estrangulados, enquanto crescia o emprego precário.
O NOVO LAISSEZ-FAIRE
A especulação financeira descontrolada (o novo “laissez-faire”, ou “deixar fazer”) que tomou conta dos países centrais do capitalismo com o avanço neoliberal levou – como era de se esperar – a uma nova crise financeira mundial de grandes proporções, assim como havia ocorrido como resultado da jogatina frenética que antecedeu a crise de 1929.
As políticas neoliberais propiciaram a inundação nos países da periferia – e até mesmo em alguns países do centro – com o capital puramente especulativo, o capital fictício de que falava Marx. Este modelo permitiu que a oligarquia financeira recuperasse parcialmente suas perdas anteriores. Países como o Brasil tiveram seu processo de desenvolvimento bloqueado e sofreram com a desindustrialização e o empobrecimento. Abriu-se no país um processo de regressão que, entre idas e vindas, já dura mais de quarenta anos.
Os dogmas do neoliberalismo impostos ao mundo permitiram uma intensa financeirização da economia e aumentou sobremaneira o parasitismo econômico. O mundo financeiro se sobrepôs e estrangulou o mundo da produção.
A imaginação dos operadores financeiros a serviço dos bancos não teve limites. Foram criados “produtos financeiros” dos mais variados tipos (os derivativos), totalmente desvinculados da economia real, com o objetivo de multiplicar o capital fictício e promover o enriquecimento dos portadores de títulos, ações e obrigações.
Segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o total de recursos aplicados atualmente nesses derivativos e outros papéis em todos os países superou a marca de US$ 700 trilhões (dados de 2023). Considerando-se as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o PIB global da ordem de US$ 110 trilhões, percebe-se claramente o nível de alavancagem de tal volume de aplicações financeiras puramente especulativas.
CRISE DO SUB PRIME
Em 2008, com a crise do “sub prime” que se iniciara um ano antes, e com a quebra do Lehman Brothers nos EUA, a economia americana e depois a europeia, movidas por “bolhas” artificiais, totalmente descoladas da produção, entraram em colapso. Os bancos, abarrotados de papéis podres, só não quebraram por conta de ajudas trilionárias feitas pelos Bancos Centrais dos principais países atingidos, entre eles, e centralmente, os EUA.
A queda da produtividade do trabalho no centro do império, fruto do intenso parasitismo dos monopólios, e a redução dos lucros levaram-nos [os monopólios] a optarem pela deslocação da produção com o envio de empresas dos EUA para a Ásia (China e tigres asiáticos) e alguns países das Américas, como o México (fábricas conhecidas como maquiladoras). Centenas de grandes fábricas deixaram os EUA.

A China, atuando de forma soberana, já sob o comando de Deng Xiaoping, soube se aproveitar dessa situação para desenvolver a sua capacidade produtiva. Acolheu muitas dessas empresas sob condições vantajosas à China, avançou tecnologicamente, se desenvolveu e se utilizou da geopolítica americana, que se concentrava em tentar isolar a Rússia, para ampliar sua presença no mercado mundial e, inclusive, no mercado americano.
CHINA AVANÇA POR DENTRO
Este caminho seguido pela China foi, e está sendo, uma experiência nova no mundo e um desafio para a ciência marxista. Uma experiência em que o socialismo está conseguindo derrotar o capitalismo por dentro e avança aceleradamente no desenvolvimento de suas forças produtivas.
No período anterior havia sido “bloco contra bloco”, e o capital financeiro e as grandes potências lograram cercar o campo socialista, principalmente após a traição krushoviana ao novo regime. Agora, a China, agindo por dentro do sistema, passou a ser a grande fábrica do mundo e avança na construção do socialismo.

Marco Rubio, secretário de Estado americano, externou essa avaliação sobre o desenvolvimento da China em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado em 2022: “Não sabíamos há 25 anos; os Estados Unidos viviam em um mundo unipolar, onde éramos o único show na cidade. Agora, há pelo menos um adversário sem precedentes”, disse Rubio.
“O Partido Comunista Chinês é um desafio para os EUA, maior até do que a União Soviética, porque eles são um rival comercial, um rival tecnológico, um rival geopolítico, um rival diplomático e econômico e comercial. E além de tudo isso, eles também são uma ameaça militar para o país, à medida que continuam a se desenvolver”, acrescentou o auxiliar de Trump.
A CRISE DO NEOLIBERALISMO
Desde a crise de 2007/9, agravada pela pandemia de covid-19, o mundo se deu conta da situação de grave decadência da economia dos Estados Unidos. A partir daí a economia e a política mundiais experimentam um período de forte instabilidade e grandes transformações, com a desestruturação das cadeias globais de bens e serviços e um processo acelerado de “desglobalização” e retorno de práticas protecionistas.
Na verdade o que está ocorrendo é que a globalização financeira imposta ao mundo pelos EUA começou a se desfazer aos olhos de todos. A Casa Branca já não consegue impor ao mundo tudo o que pretende, como fazia antes. A geopolítica atual se caracteriza por uma fase de perda relativa da hegemonia dos EUA e pela ascensão da China socialista e seus aliados.
O mundo vai gradativamente deixando de ser unipolar, ou seja, se afasta de uma situação onde só uma grande potência pretendia mandar no mundo, e se aproxima cada vez mais de uma situação em que o polo anti-imperialista cresce e se impõe diante dessa potência. É o que se costuma chamar de um mundo multipolar. Para os marxistas, esta é uma mudança, um salto de qualidade, na correlação de forças.
O SOCIALISMO CHINÊS
Acossada pelo socialismo chinês e pelo anti-imperialismo russo e sem capacidade de seguir explorando os países do Sul Global – ou seja, a grande maioria do mundo – como antes, a oligarquia financeira lança mão – mais uma vez – do fascismo para, primeiro, tentar barrar o avanço insofismável do socialismo e, segundo, tentar impor à força o seu falido modelo neoliberal aos trabalhadores e aos povos do mundo.
O crescimento da resistência do Sul Global a essa “ofensiva” do capital financeiro – que se utiliza do fascismo para tentar impedir o seu declínio – é a marca registrada do momento atual. Esta resistência está se dando de forma intensa e na grande maioria dos países do mundo, liderados pela China socialista e pela Rússia anti-imperialista.
O que mais simboliza este novo período foram os discursos de Putin em 2007 e agora o de J. D. Vance na Conferência de Segurança da Europa, realizadas em Munique. Se o discurso de Putin representou o primeiro desafio ao domínio americano e à imposição de uma ordem internacional baseada nas regras do império, o discurso de Vance, em 2025, veio reconhecer o fim do projeto exaurido e fantasioso da primazia global norte-americana.
FORTALECIMENTO DO BRICS
Também o fortalecimento e a ampliação do BRICS (grupo formado inicialmente pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é um sinal do avanço para a multipolaridade. O BRICS ganha cada vez mais adeptos e, somado à Organização de Cooperação de Xangai (SCO), à União Econômica Euroasiática e a outras organizações, se contrapõe objetivamente às pretensões do império decadente.
O BRICS tem no horizonte a substituição do dólar como moeda de referência internacional. Trump pretende mantê-la a todo custo, apesar de seu anunciado protecionismo. Esta intenção de Trump agudizará intensamente as contradições entre os EUA e o resto do mudo.
O G7 já está atrás dos BRICS em várias segmentos. O grupo já ultrapassou o G7 em participação no PIB mundial e em população. Eles já são 36% do PIB global em paridade de poder de compra, superando os 29,3% do G7 e os 14,5% da UE. O crescimento previsto do BRICS em 2024 é de 4%, contra 1,7% do G7.
Outro fenômeno que caracteriza bem este momento é a aliança estratégica e “sem limites” estabelecida entre a China socialista e a Rússia anti-imperialista. Esta é a união entre a maior potência industrial atual (e pelos critérios do FM, também a maior economia mundial) e uma potência militar que está derrotando sozinha no campo de batalha – com seu armamento convencional – as tropas hegemonizadas pelos EUA e treinadas e municiadas pelo seu braço europeu, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
GLOBALIZAÇÃO PRODUTIVA
A China socialista está oferecendo ao mundo um novo modelo de relacionamento entre os países. Um modelo completamente diferente da globalização financeira que foi imposta pelos EUA e que asfixiou a economia da grande maioria das nações. O que a China está oferecendo ao mundo é a globalização produtiva onde todos ganham e todos podem se desenvolver. É a chamada cooperação ganha-ganha.
O Brasil se vê na contingência, e vem cumprindo-a, de fortalecer todas essas iniciativas e se dedicar à promoção da unidade da América Latina e do Caribe. Para isso, é fundamental o fortalecimento do Mercosul e da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Esta será a melhor forma do Brasil se inserir de forma soberana no cenário internacional e avançar em sua libertação e no desenvolvimento de suas forças produtivas.
A China pode dar uma grande ajuda ao mundo também porque está vencendo a guerra tecnológica travada com os EUA. Apesar de todo o cerco e sanções tentados pelo império, os chineses hoje dominam 57 das 64 tecnologias críticas ou disruptivas da atualidade e já estão na frente dos EUA em várias dessas tecnologias, segundo estudo feito em agosto de 2024 pelo Australian Strategic Policy Institute.
Este mesmo estudo, que foi citado na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, realizada recentemente em Pequim, mostra que, entre 2003 e 2007, os EUA lideravam em 60 das 64 tecnologias. A China liderava em apenas 3. Entre 2019 e 2023: os EUA lideram em apenas 7, enquanto a China liderou em 57 – incluindo fabricação de chips semicondutores, sensores gravitacionais, computação de alto desempenho, sensores quânticos e tecnologia de lançamento espacial. O gigante asiático registou em 2022, 1,58 milhões de patentes, quase metade dos pedidos globais, mais do triplo das registadas pelos EUA.
FIM DO MONOPÓLIO TECNOLÓGICO
A quebra do monopólio tecnológico americano, como ocorreu recentemente, pela empresa chinesa DeepSeek, de Inteligência artificial, derrotando os monopólios do Vale do Silício, é um sintoma desses novos tempos. O “código aberto” dos chineses atinge mortalmente os “segredos” bilionários dos monopólios americanos. O avanço da China no campo tecnológico estimula outros países e permite que eles se associem em cooperações para se desenvolverem e deixarem de ser explorados.
A eleição de Donald Trump, um magnata inescrupuloso, fascista, corrupto e xenófobo expressa bem o grau da decadência e degeneração a que chegou o império americano. Suas ameaças e arroubos contra diversos países e povos, apesar de representarem um tensionamento da conjuntura mundial, não expressam força, mas sim a fraqueza do império. Apenas com o “porrete trumpiano”, os EUA estão enfraquecendo e não fortalecendo o seu domínio.

O novo ocupante da Casa Branca sabe que está fraco para enfrentar simultaneamente a Rússia, a China e o Sul Global. Por isso abandona a Europa à própria sorte, depois de submetê-la, e procura uma paz em separado com a Rússia. Seu plano é se concentrar na luta direta para barrar o avanço da China socialista.
DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
A adesão incondicional da Europa aos excessos do modelo neoliberal liderado por Washington vem contribuindo decisivamente para o seu declínio. Tudo indica que a política de Trump aumentará as contradições dos EUA com a Europa e o resto do mundo.
Em suma, o que caracteriza a Humanidade de hoje é a crise do imperialismo e o avanço do campo anti-imperialista liderado pela China socialista. Uma situação clara de crise das classes dominantes, onde o centro do império se debate para recuperar a hegemonia perdida. Numa situação como esta, em que pese os perigos que surgem, abrem-se largos espaços para mudanças progressistas em diversos países do mundo.
Como disseram Xi Jinping e Vladimir Putin, o mundo está vivendo um tempo de grandes transformações, onde semanas parecem décadas. Os fatos indicam que a Humanidade progressista está saindo do longo período da defensiva estratégica. Podemos estar entrando numa nova fase de ofensiva, onde a união dos povos e a luta contra o imperialismo se fortalece e pode mudar a correlação de forças em todo o planeta a favor da revolução. Os comunistas de todo o mundo e os demais patriotas devem estar atentos a todas essas mudanças.
(*) Sérgio Cruz é redator especial da Hora do Povo, membro do Comitê Central do PCdoB e pesquisador do Núcleo do Novo Ciclo de Desenvolvimento Social da Fundação Maurício Grabois
Excelente análise do Sérgio Cruz. Nenhum reparo, mas a derrota na Coreia teve menos impacto no mundo do que serem escorraçados do Vietnã!
A “cho que a inteligência da política tecnológica de “seda” chinesa contrasta com a ascensão do schumpeteriana destrutiva americana. São valores da humanidade que a China preserva.