“1978, a reinvenção do socialismo” é o tema do Meia Noite em Pequim, da TV Grabois, com o pesquisador e economista Elias Jabbour, em que ele aborda como a China, sob as reformas econômicas lideradas por Deng Xiaoping, alcançou mais de 9% de crescimento ao ano, por 40 anos, se transformou na maior potência comercial e industrial do mundo e caminha para sua soberania tecnológica, ao lado de feitos como eliminar a pobreza extrema.
Para Jabbour, as reformas econômicas de Deng constituem uma reinvenção do socialismo, no momento em que o modelo soviético dava sinais de exaustão, em paralelo à decadência do fordismo.
Reinvenção ainda mais notável por se dar ao fim da Revolução Cultural, com a China conseguindo se unir em torno do programa das quatro modernizações: Agricultura, Indústria, Ciências e Tecnologia e Defesa.
Um programa voltado para a reforma da estrutura econômica chinesa e também a abertura ao exterior. Não uma ‘abertura’ do jeito que Fernando Henrique fez no Brasil, mas uma reforma que atendesse o interesse nacional chinês, voltada para o fortalecimento da indústria e importação de tecnologia condicionante à atração do capital estrangeiro.
Jabbour destaca uma questão histórica da China, o papel dos camponeses pobres como motor das rebeliões que levaram ao fim de dinastias. O que é percebido por Mao Tse Tung e o leva a romper com a orientação prevalecente na Terceira Internacional.
Assim, ele chega ao programa de cerco das cidades pelo campo, ou seja, os camponeses são o motor da revolução de 1949. A Revolução Cultural surge como expressão da crença de Mao de que o conflito pode também trazer soluções para questões historicamente colocadas, na busca pela solução das contradições do país, e a partir daí, a institucionalização da anarquia.
Deng, vamos dizer assim, coloca ordem na casa. Acabou a era de colocar a ideologia na frente dos objetivos econômicos. Desenvolver as forças produtivas como tarefa principal se torna então a obsessão chinesa.
Apesar de todos os avanços chineses, em 1978 a China ainda estava muito atrás do ponto de vista produtivo dos tigres asiáticos, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong. Atraso cuja consequência era deixar muito distante o sonho de reunificação nacional.
Assim, há uma reinvenção do socialismo em 1978, o que se dá através de instituições de mercado. A China inicia as reformas pela agricultura: inverte os termos de troca entre o campo e a cidade, que no modelo soviético é muito ruim para a agricultura.
Os camponeses passam a ter contratos de responsabilidade; uma parte da produção é entregue ao governo para abastecer as cidades, outra parte, o camponês pode levar para o mercado. Isso levou ao florescimento da pequena produção agrícola familiar. Entre 1978-84 a produtividade agrícola cresceu 30%. Nesse período, a China tira 200 milhões de camponeses da pobreza extrema.
Então a China consegue resolver o problema do abastecimento e a partir da elevação da produtividade na agricultura inaugura novas e superiores formas de divisão do trabalho.
Há a reiteração do pacto político que levou à vitória em 1949, com os camponeses ainda mais fechados com o Partido Comunista. O que será uma base política fundamental para a derrota da contra-revolução da Praça da Paz Celestial em 1989.
Essa relação socialismo através de instituições de mercado levou a China a se reencontrar com seu passado milenar comercial, gerando um crescimento econômico virtuoso. É assim que surge essa nova formação econômico-social, que acaba sendo nomeada de socialismo de mercado.
Implica também na dinâmica em torno da construção dessas instituições de mercado, de que é exemplo a Sasac, voltada para gerir as estatais chinesas e orientá-las a atuar no mercado.
O planejamento não é mais aquele centralizado, como na época soviética, mas para orientar as empresas a atuarem no mercado. E hoje a China é o país que mais empresas tem na lista das 500 mais da Forbes, 80% delas estatais – o que desmonta a tese de que as estatais são ‘ineficientes’.