Pergunta foi clara, mas ele respondeu: “você é leviana e é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa.” Amanda rebateu: “minha vida particular não está em pauta aqui, presidente.” “É importante esclarecer qual origem desse dinheiro”, acrescentou a jornalista
Ao ser questionado sobre o uso de dinheiro vivo por ele e por integrantes de sua família para a compra de imóveis, Jair Bolsonaro agrediu a imprensa e tentou intimidar a repórter que fez a pergunta, chamando-a de leviana, durante sabatina realizada pela Jovem Pan, na manhã desta terça-feira (6).
QUAL A ORIGEM DO DINHEIRO?
A pergunta que desconsertou Bolsonaro, feita por Amanda Klein, é a que todo o Brasil está fazendo. Por que esses imóveis foram pagos em dinheiro vivo? Qual a origem desse dinheiro? “É importante esclarecer qual origem desse dinheiro”, indagou a jornalista, citando matéria do site UOL que revelou que 51 dos 107 imóveis negociados pela família foram pagos em dinheiro vivo.
“É importante enfatizar que isso acontece no contexto de investigação da prática de ‘rachadinha’ nos gabinetes de dois dos seus filhos, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro. O senhor também é suspeito de ter mantido funcionários fantasmas quando era deputado federal em Brasília”, prosseguiu a jornalista.
“Seu filho, Flávio negociou 20 imóveis nos últimos 16 anos, sendo que o último deles foi uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília. Sua ex-mulher Ana Cristina Siqueira Valle mora em outra mansão, avaliada em R$ 3 milhões, em bairro nobre em Brasília, com seu filho Jair Renan, e ela é investigada por ter supostamente usado um laranja para adquirir esse imóvel”, acrescentou Amanda Klein.
Confrontado com os números, Bolsonaro perdeu o rumo. “Você é casada com uma pessoa que vota em mim”, disse ele. “Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa”, prosseguiu. Amanda rebateu dizendo que a vida privada dela não estava em discussão. Bolsonaro replicou: “e por que a minha está?” “Porque o senhor é uma pessoa pública, presidente”, respondeu a jornalista.
Amanda prosseguiu citando a reportagem do site UOL que fez o levantamento dos 107 imóveis da família e constatou que 51 foram pagos, total ou parcialmente, com dinheiro vivo.
“Você acredita na imprensa, Amanda?”, indagou Bolsonaro. “Que a Folha faça isso tudo bem, mas você, da Jovem Pan”, prosseguiu ele, numa clara tentativa de intimidação. “Eles levaram sete meses fazendo a reportagem e soltaram a trinta dias da eleição, insinuando que eu sou corrupto”, acusou Bolsonaro, repetindo que não se pode acreditar na imprensa brasileira.
MOEDA CORRENTE É DINHEIRO VIVO
Depois Bolsonaro tentou convencer os ouvintes que as descrições de compra de imóveis com moeda corrente, constantes nas escrituras, não se referiam a dinheiro vivo. Argumentou que se referiam a pagamento em moeda brasileira.
No entanto, esta explicação já tinha sido contestada por tabeliões consultados pela reportagem. Em entrevistas ao UOL, eles afirmaram que a descrição de pagamento em moeda corrente significa dinheiro vivo. Quando a compra é por outras vias, como cheques, transferências, etc, isto é especificado na escritura, dizem eles.
Bolsonaro ainda tentou se esquivar das explicações dizendo que não tem mais nada a ver com seus familiares e suas ex-mulheres. “Eu não tenho mais nada com essa gente. Elas já se casaram”, afirmou.
Uma delas, inclusive, Ana Cristina Siqueira Valle, a mãe de Renan, o “zero quatro”, que comprou a mansão de Brasília, no valor de R$ 3 milhões, apesar de ter um ganho mensal de R$ 8 mil, está sendo investigada pelo Ministério Público. Ela tinha declarado inicialmente que a mansão era alugada, mas, para o TRE de Brasília, informou ser dona do imóvel.
A baixaria maior se deu quando Bolsonaro disse que a repórter estava acusando sua mãe, que já faleceu, de ter cometido irregularidades. Tudo para não explicar a origem do dinheiro usado por ele, por seus filhos e ex-mulheres na compra dos imóveis.
O valor total dos imóveis transacionadas em dinheiro, que envolvem, casas, mansões, terrenos e lojas, é calculado em cerca de R$ 25 milhões. Os salários de parlamentares não explicam esse volume de dinheiro. É isso que o país espera que seja explicado por ele. E foi isso que a repórter perguntou a Bolsonaro. Até agora ele não respondeu. Só agrediu.
