A Polícia Federal (PF) prendeu nesta manhã, sexta-feira (9), o vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), os donos da JBS, Joesley Batista e Ricardo Saud, e mais nove pelo esquema de propina no Ministério da Agricultura durante o governo de Dilma Rousseff (PT). O vice-governador era o então ministro da Agricultura (março de 2013 a março de 2014).
Segundo acusação, a JBS pagou propina para obter decretos favoráveis ao grupo. Quando era ministro, Antonio Andrade determinou a regulamentação da exportação de despojos, a proibição do uso da ivermectina de longa duração – droga antiparasita – e a federalização das inspeções de frigoríficos. A PF fez buscas no gabinete de Andrade, que foi preso em uma fazenda em Vazante, no Noroeste de Minas Gerais. O vice-governador tornou-se presidente do PMDB mineiro a partir de 2009.
A JBS pagou R$ 2 milhões pela regulamentação da exportação de despojos e R$ 5 milhões na proibição da ivermectina de longa duração.
A partir da delação do doleiro Lúcio Funaro, foram deflagradas as investigações sobre o esquema.
Os envolvidos poderão responder pelos crimes de constituição, participação em organização criminosa, obstrução de Justiça, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro se forem indiciados. De acordo com a denúncia, os supermercados BH e EPA estão envolvidos no esquema.
A Operação Capitu é um desdobramento da Operação Lava Jato feita em conjunto com a Receita Federal. Os mandados foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). As investigações mostraram que as empresas doaram dinheiro para políticos e partidos.
Joesley
A JBS de Joesley Batista foi alavancada durante os governos Lula e Dilma, sob o guarda-chuva de financiamentos bilionários do BNDES e a política petista de impulsionar monopólios nacionais. Ver aqui. Outro beneficiado com essa política foi o picareta Eike Batista.
Em maio de 2017 veio à tona a gravação feita por Joesley em que Michel Temer avaliza propina da JBS para manter calados Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, e o doleiro e operador do então PMDB, Lúcio Funaro, que estava preso e ameaçava fazer delação premiada envolvendo Temer e a cúpula do MDB. Na gravação ouve-se Temer dizer: “tem quem manter isso aí, viu?”.
Numa das gravações, Temer indica seu braço direito Rodrigo Rocha Loures a Joesley como homem de confiança para tratar de assuntos do seu interesse. Joesley queria resolver pendências do grupo J&F, holding da qual faz parte a JBS, no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O dono da JBS marcou um encontro com Rocha Loures e contou o que estava precisando no Cade. Joesley ofereceu propina de 5% e Loures deu o aval.
Em outra negociação, com novas demandas da JBS, desta vez entre Ricardo Saud e Loures, foi combinado o pagamento de R$ 500 mil semanais por 20 anos, R$ 480 milhões ao longo de duas décadas. Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil, enviados por Joesley.
Joesley também gravou o senador Aécio Neves, então presidente nacional do PSDB, pedindo e recebendo R$ 2 milhões de propina. O dinheiro foi entregue a Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio, que foi diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), nomeado por Aécio, e um dos coordenadores de sua campanha a presidente em 2014.
Fred pegou o dinheiro do diretor da JBS, Ricardo Saud. Foram 4 pagamentos de R$ 500 mil cada um, e um deles foi filmado pela PF, que rastreou a rota do dinheiro e descobriu que foi depositado numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
Outra filmagem mostra que Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar de Perrella.
As gravações faziam parte da colaboração dos executivos do grupo JBS à Procuradoria-Geral da República, em que eles se comprometiam a dar informações sobre irregularidades que praticaram em troca de alívio nas possíveis penas.
Mas em setembro de 2017, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou a rescisão do acordo de Joesley e Saud por que não cumpriram o combinado
e sonegaram informações. Joesley e Saud foram presos dias depois. Mas soltos depois.
A PF cumpre 63 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso. São 19 mandados de prisão temporária, um deles contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que já está preso no Paraná.
Veja a lista dos presos:
Antonio Andrade, vice-governador de Minas e ministro da Agricultura de março de 2013 a março de 2014
Joesley Batista, dono da JBS
Ricardo Saud, ex-executivo da JBS
Demilton de Castro, executivo da JBS
João Magalhães, deputado estadual pelo MDB de MG
Neri Geller, deputado federal eleito pelo PP de MT e ministro da Agricultura de março de 2014 a dezembro de 2015
Rodrigo Figueiredo, ex-secretário de Defesa Agropecuária
Mateus de Moura Lima Gomes, advogado
Mauro Luiz de Moura Araújo, advogado
Ildeu da Cunha Pereira, advogado
Marcelo Pires Pinheiro
Fernando Manoel Pires Pinheiro
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