Cresce nos EUA o repúdio à prisão, por policiais da tropa de choque de Minneapolis, na manhã de sexta-feira (29), de um jornalista negro da CNN, que fazia uma reportagem sobre os protestos contra o assassinato sob custódia do cidadão George Floyd e a tensa situação na cidade, que é a maior do estado de Minnesota.
O jornalista Omar Jimenez e toda sua equipe de filmagem foram presos e algemados no meio da rua. Jimenez havia, educadamente, perguntado aos policiais onde gostariam que ele ficasse, sendo então abordado por dois policiais por trás, algemado e levado embora.
Os policiais não responderam às repetidas indagações de Jimenez de por que estava sendo preso.
“Nunca vi nada assim”, disse do estúdio o âncora da CNN John Berman — enquanto as prisões arbitrárias eram exibidas em rede nacional ao vivo.
No frenesi da truculência, os policiais não se deram conta de que o operador da câmera, apesar de também ser algemado, manteve-a funcionando e gravando tudo.
O governador de Minnesota, Tim Walz, pediu desculpas pela prisão da equipe da CNN, classificando-a como “totalmente inaceitável”.
A maior entidade norte-americana de defesa das liberdades democráticas, a ACLU, rechaçou as prisões arbitrárias, destacando que “jornalistas jamais devem ser presos neste país por fazerem seu trabalho”.
A ACLU apontou que “as pessoas estão nas ruas de Minneapolis exigindo justiça racial, e o público tem o direito de ver”. “A transparência pública é absolutamente necessária para a responsabilização policial”, acrescentou.
A deputada federal democrata por Minnesota, Ilhan Omar,chamou de “ultrajante” a detenção dos jornalistas, acrescentando que esse tipo de coisa “não ajuda” a pacificar a revolta que ocorre na maior cidade do estado da região dos lagos.
Jimenez e a equipe de reportagem da CNN foram liberados da custódia cerca de uma hora após e fez no ar um relato do incidente.
O advogado Midwin Charles – como registrou o Common Dreams – expôs pelo Twitter todo absurdo do que está ocorrendo em Minneapolis: “Eles prenderam um repórter da CNN e uma equipe de filmagem por reportar a notícia, mas não Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd diante da câmera”. A prisão de Chauvin só viria a acontecer horas depois, nesta sexta-feira (29), quatro dias após o crime.
Como exigem os manifestantes, “sem justiça, sem paz”. Enquanto não for decretada a prisão do policial assassino, fica difícil que os ânimos venham a serenar em Minnesota e outras paragens dos EUA.
Declarações do procurador-geral do condado onde fica Minneapolis, Mike Freeman, dizendo que “há outra evidência que não suporta uma acusação criminal” e que “não se apressará” no caso – mesmo depois do prefeito Jacob Frey cobrar a prisão do policial Chauvin – só levam a mais revolta.
Foi de Freeman a decisão não indiciar em 2016 o policial assassino do negro Jamar Clark.
Passaram-se seis anos apenas desde que se ouviu a súplica de Eric Garner “não consigo respirar” em Nova Iorque, inacreditavelmente repetida na segunda-feira em Minneapolis, depois uma queixa ainda sequer apurada de uma nota supostamente falsa de 20 dólares.
O policial assassino de Garner se safou impune. Como disse a mãe de Garner, Gwen Carr, que esteve em Minneapolis na quinta-feira para se solidarizar com os manifestantes e com os familiares de Floyd, há uma ferida ainda aberta, sobre a qual derramaram sal.