Um homem morreu baleado em um dos acessos à Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na manhã de segunda-feira (4).
Marcelo Guimarães, de 38 anos, foi atingido por uma bala de fuzil disparada pela Polícia Militar quando seguia para o trabalho. A família e os moradores também acusam os agentes de omissão de socorro.
De acordo com a família, Marcelo tinha deixado o filho, de 5 anos, numa escolinha de futebol na mesma região, e voltava para casa de moto para pegar o celular e seguir para o trabalho quando foi atingido.
Uma testemunha registrou a chegada da polícia ao local do incidente logo depois. Marcelo, que estava numa moto, foi identificado como mototaxista. A irmã dele, Carine Guimarães, ressaltou que ele trabalhava numa marmoraria.
“Meu irmão estava indo trabalhar, está até com a bota do trabalho. Tá jogado igual a um marginal, um pai de dois filhos”, disse a irmã.
A viúva de Marcelo, Carla Roberta da Silva Cruz, disse que viu o marido de bruços no chão na Linha Amarela. Na Delegacia de Homicídios da Capital que investiga o caso ela reforçou que não havia confronto no momento em que Marcelo foi atingido.
Foi essa justificativa da Polícia Militar que, em nota, afirmou que “os policiais reagiram à injusta agressão e cessaram o ataque. No momento da ação, um motociclista que passava pelo local foi atingido. Infelizmente, a vítima não resistiu aos ferimentos”.
Em meio a mais um assassinato dessa natureza, que atinge principalmente a população negra, Bolsonaro segue em defesa da sua política da “licença para matar”. No mês passado, Bolsonaro afirmou que pretende colocar em pauta a ampliação do excludente de ilicitude, que tem como objetivo pôr fim às punições por excessos cometidos por agentes de segurança e militares.
“Se Deus quiser, com a nova presidência da Câmara e do Senado nós vamos botar em pauta o excludente de ilicitude, porque o policial tem que ao cumprir sua missão ir para casa descansar e não aguardar a visita do oficial de Justiça”, declarou. “Deixo bem claro aos hipócritas, já que com toda certeza todo lugar tem, não é permissão para matar não, é o direto… Vou dar os meios para ele (policial) não morrer”, defendeu.
De acordo com o Código Penal Brasileiro, a lei prevê a exclusão de ilicitude em três circunstâncias: em estado de necessidade, em casos de legítima defesa e em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. No entanto, garante que, em qualquer um dos casos, o cidadão poderá responder por excesso doloso ou culposo e receber punição.
“Foram os policiais que tiraram a vida do meu marido. Isso eu sei porque não teve confronto na Cidade de Deus. Infelizmente eu cheguei lá e meu marido estava no chão”, contou Carla.
“Ele não era bandido, não gostava nem de cigarro, de beber. Trabalha há mais de 20 anos com mármore. Tiro no peito, meu Deus do céu, tiro no peito”, repetia ela.
“Só quero justiça, só isso que eu quero. Eu não sei o que eu vou falar pro meu filhinho de cinco anos, falar que o pai dele foi viajar pra muito longe, nunca mais vai voltar”, disse Carla.
Em suas redes sociais, a filha de Marcelo, Vitória Guimarães, também pediu por justiça: “Te mataram pai, na crueldade, o senhor era trabalhador, estava indo trabalhar e te mataram. Tão novo, 38 anos, cheio de vida, coração bom!!!! #justicapormarcelo”, escreveu.
A morte de Marcelo causou revolta na comunidade, com manifestações e protestos que bloquearam a Linha Amarela, uma das principais vias expressas da cidade, como protesto pela morte de Marcelo.
O governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), utilizou as redes sociais para se pronunciar sobre a morte de Marcelo na Cidade de Deus.
De acordo com Castro, “os envolvidos serão punidos”. Ele também prestou solidariedade à família de Marcelo e disse que o crime será investigado.