O relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou que o líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), agora é investigado pela Comissão por conta de sua atuação na compra irregular da vacina Covaxin.
Ricardo Barros também defendeu abertamente a tese da “imunidade de rebanho”, que consiste em acelerar a contaminação da população e deixá-la morrer.
Renan Calheiros explicou que tornou Ricardo Barros investigado “em função dos óbvios indícios da sua participação na rede criminosa que tentava vender vacinas através dos atravessadores, comprometendo muitas vezes setores da sua própria família, e fazendo com que o país perdesse oportunidade de comprar vacina na hora certa”.
O anúncio oficial foi feito na quarta-feira (18), no início da inquirição do advogado da empresa que atuou como atravessadora na venda da Covaxin, a Precisa Medicamentos.
Segundo Renan Calheiros, “é necessário apurar de maneira aprofundada os atos do líder do governo Bolsonaro, suas ligações e relações políticas e empresariais”.
O relator também disse que vai investigar as “negociações e possíveis associações com servidores civis e militares do Ministério da Saúde, sem falar em suas ocasionais conexões com Roberto Ferreira Dias [ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde] e os sócios das empresas de Francisco Maximiano, onde se incluem a Global e a Precisa”.
“Tudo somado, as irregularidades nas negociações da vacina Covaxin com a Precisa, com a Belcher, com representantes de outras farmacêuticas, torna a situação carecedora de apuração aprofundada sob aspectos cívil, criminal e administrativo”, continuou.
Renan Calheiros afirmou que “não se justifica a temeridade do risco assumido pelo Ministério da Saúde com essas contratações a não ser para entender interesses dissociados dos interesses públicos”.
A CPI já encontrou “veementes indícios de cometimento de crimes, atos danosos ao patrimônio público e, ainda, atos de improbidade administrativa”.
Quando era ministro da Saúde, entre 2016 e 2018, Ricardo Barros permitiu que a empresa irmã da Precisa Medicamentos, a Global Saúde, desse um golpe de R$ 20 milhões e não entregasse nunca os medicamentos contratados.
No caso da Covaxin, Ricardo Barros foi quem apresentou uma emenda a um Projeto de Lei que facilitaria a importação de vacinas. Vários parlamentares, inclusive da oposição, fizeram emendas para permitir a importação e garantir a oferta de vacinas para a população brasileira.
Mas a emenda de Barros tratava especificamente do caso de vacinas aprovadas por órgãos reguladores da Índia, país onde foi produzido o imunizante.
Bolsonaro telefonou pessoalmente para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para dizer que o Brasil iria importar a vacina e que o país asiático facilitasse a exportação para o Brasil.
Ricardo Barros foi uma das vias de acesso ao Ministério da Saúde de empresas que queriam atuar como atravessadoras.
Ele já prestou um depoimento à CPI da Pandemia, na condição de convidado, mas optou por mentir para acobertar seus crimes e afrontou a Comissão, dizendo que o país tinha perdido vacinas por conta das investigações.
O depoimento foi suspenso e Ricardo Barros passou a ser convocado.
Ainda no começo da sessão de quarta-feira, Renan Calheiros disse que a CPI da Pandemia está buscando formas de famílias que foram atingidas pela charlatanice de Jair Bolsonaro sobre cloroquina e ivermectina sejam indenizadas.
Segundo ele, a CPI já “enterrou definitivamente essa fraude chamada de cloroquina ou ivermectina e apagou da nossa rotina fraudes que provocaram a morte de milhares de brasileiros, pais e mães de família, e deixaram cicatrizes incuráveis por gerações”.
“Muitas vidas perdidas que poderiam ter sido poupadas se o Presidente da República tivesse permitido, não tivesse sido absolutamente irresponsável na condução dessa pandemia. Essa dor não passa, essa lágrima não seca”, sentenciou.