O norte da Inglaterra se somou à rebelião contra o levantamento da quarentena disposta por Boris Johnson 9 dias atrás. Manchester, Newcastle, Hartlepool e Liverpool aderiram à decisão da Escócia, Gales e Irlanda do Norte de manter um isolamento preventivo restrito. “Ninguém nos consultou sobre um relaxamento que vai encher as ruas de veículos e o transporte público, despreparado, de passageiros. Mais do que um plano o que se anunciou parece uma versão da teoria do caos. E este não é o único problema. No sudeste da Inglaterra dizem que está baixando o número de casos. Não é o que acontece no norte”, disse o prefeito de Manchester, Andy Burnham, em reportagem do periódico The Observer.
O Reino Unido não faz jus ao nome. Enquanto no sul e particularmente em Londres, o transporte público sofreu, na segunda-feira, 18, a maior aglomeração desde o início desse fim da quarentena, o resto do reino está vivendo a estratégia oposta. Tão desunido está o país que os líderes da Escócia e Gales lançaram fortes advertências a qualquer inglês que for de passeio a suas terras. “Se vierem à Escócia por razões que não são essenciais, estarão violando a lei”, afirmou Nicola Sturgeon, primeira-ministra escocesa. E o líder do Partido Independentista de Gales, Adam Price, advertiu em sua mensagem a possíveis turistas de lugares populares no país como Snowdonia: “Se alguém da Inglaterra entrar em Gales sem uma desculpa legítima será preso”.
A preocupação não é à toa. Com 247.709 casos confirmados e 34.876 falecidos até o meio dia da terça-feira, 19, o Reino Unido é o segundo colocado em vítimas fatais, só perdendo para os EUA, segundo informações da Universidade Johns Hopkins.
“Foi mais fácil entrar na quarentena que sair. Entramos com uma sensação de unidade nacional. Mas agora as diferenças políticas estão ficando mais evidentes que nunca”, explicou no The Observer o professor Robert Ford da Universidade de Manchester sobre a quarentena iniciada em 23 de março, revelando os problemas regionais, ignorados pelo anúncio de Johnson.
O relaxamento anunciado por Johnson no domingo, 10, tem três fases: a primeira imediata, as outras duas condicionais. Na primeira fase o primeiro-ministro determinou que os trabalhadores dos setores que não possam trabalhar desde casa, como o manufatureiro ou a construção, vão para seu lugar de trabalho “na medida do possível sem usar o transporte público”, situação utópica na capital, Londres, apontam os observadores. A segunda fase, começaria em 1 de junho, com a abertura das escolas primárias e o gradual relaxamento das restrições sobre o comércio e negócios. A terceira seria entre julho e setembro e apontaria a uma ‘normalização’ de toda a economia sob regras não estipuladas ainda.
O Sindicato Nacional da Educação condenou o “insensato” relaxamento proposto para a segunda etapa com a apertura das escolas primárias, daqui a menos de duas semanas. Alguns municípios já anteciparam que não pensam aplicar essa medida considerada ‘fundamental’ pelo governo para a reabertura da economia. “Dado que os casos locais de coronavírus continuam aumentando, o município de Hartlepool acertou com as escolas que estas não abrirão na segunda-feira, 1 de junho”, assinalaram as autoridades em comunicado.
O descontentamento é nacional. Enquanto que, a pesar dos erros, quando lançou a quarentena Johnson teve altos níveis de aprovação, uma nova pesquisa realizada no último final de semana mostrou que o índice neto de aprovação (diferença entre os que estão a favor e contra) do primeiro-ministro passou de 42 no final de março a menos três.
Outra pesquisa concluiu que o novo líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, é hoje mais popular que Boris Johnson.