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Na data em que se completam cinco anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o presidente Lula reafirmou o compromisso com a investigação do crime que até hoje segue sem o mandante revelado.
“Hoje, ao lado da companheira Anielle Franco, reforcei o compromisso já firmado pelo ministro Flávio Dino de somarmos todos os esforços para descobrirmos quem mandou matar Marielle Franco. #JustiçaPorMarielleEAnderson”, escreveu Lula em uma rede social ao divulgar o vídeo da homenagem.
No começo da gravação, Lula diz que “a melhor forma de a gente presta uma homenagem à Marielle nesse dia é a gente fazer um minuto de silêncio”.
Anielle Franco, irmã de Marielle, é a atual ministra de Igualdade Racial e estava presente na reunião. Ao fim da homenagem, com a voz embargada, Anielle agradeceu o empenho do governo na solução do caso.
“Muito obrigada. Eu acho que, enquanto a gente não conseguir responder quem mandou matar a minha irmã, a gente segue nessa democracia frágil e é muito importante, muito significativo para nós enquanto família, mas também enquanto governo, ter um governo que de fato se preocupa com o caso e tem, cada vez mais, mostrado estar ao lado para colaborar, para a gente descobrir quem mandou matar a minha irmã”, disse a ministra.
INVESTIGAÇÃO CONTINUA
A Delegacia de Homicídios do Rio, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e, desde fevereiro, quando a Polícia Federal (PF) entrou no caso, tentam desvendar o crime.
As investigações sobre o assassinato da vereadora foram marcadas por trocas de delegados, sendo cinco nomes até aqui, e promotores e poucos avanços. Mas até hoje, ninguém esclareceu quem mandou matar Marielle e qual a motivação da execução. Uma das principais linhas de investigação é que a motivação seja política.
Apenas a primeira fase do inquérito foi concluída pela Polícia Civil e o MP: a que prendeu e levou dois milicianos ao banco de réus: o policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de ter feito os disparos, e o ex-PM Élcio de Queiroz, que estaria dirigindo o Cobalt prata que perseguiu as vítimas. Ambos negam participação no crime.
Os dois estão presos em penitenciárias federais de segurança máxima e serão julgados pelo Tribunal do Júri. O julgamento ainda não tem data marcada. Lessa já condenado por outros crimes: comércio e tráfico internacional de armas, obstrução das investigações e destruição de provas.
VIVENDAS DA BARRA
O miliciano matador de aluguel e ex-PM Ronnie Lessa era vizinho de Jair e Carlos Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, que vivia a cerca de 70 passos de distância.
Na tarde do crime, Élcio deu entrada com seu carro particular no Condomínio Vivendas da Barra, e o porteiro anotou, erradamente, que ele iria para a casa 58 (registrando, inclusive, que a autorização havia sido dada pelo então deputado federal Jair Bolsonaro, o que foi desmentido depois).
Elcio chegou exatamente às 17h07, segundo o registro do computador que grava as ligações feitas pelo interfone. Não há, no livro do condomínio, a hora exata da saída e em qual carro, depois que Lessa foi pego na casa 66.
Houve ainda uma divergência de perícia sobre quantas pessoas estavam no veículo usado no crime. A análise de vídeo feita pelo setor responsável pela DH indicava que haveria um homem no banco do carona, na frente do carro, quando ele passava na esquina da Rua dos Inválidos. Para a perícia do MP, Lessa estava no banco traseiro, e Élcio dirigia o carro.
A gravação da portaria do Condomínio, na qual o porteiro Alberto Jorge Ferreira Mateus interfonou para a casa do “Seu Jair” para autorizar o ingresso de Élcio no local, sumiu. Na época, suspeitou-se que Carlos teria atendido o interfone. Mas, assim como aconteceu com a gravação, o porteiro também sumiu, e a polícia e o MP não conseguiram esclarecer também este aspecto.
Meses depois, a imprensa descobriu que o sumido porteiro estava residindo no bairro Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, área controlada pelo Escritório do Crime, a organização criminosa integrada por Ronnie Lessa e pelo miliciano Adriano da Nóbrega.
Adriano, que foi executado numa estranha e ainda não esclarecida operação das PM’s do RJ e da Bahia, era um bandido muito reverenciado pelo clã miliciano. A mãe e a ex-esposa dele eram funcionárias do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia do RJ, e participavam do esquema de corrupção conhecido como “rachadinhas”.
Polícia e MP acreditam que, após sua prisão, Lessa mandou comparsas e parentes jogarem algumas de suas armas fora, entre elas a submetralhadora alemã utilizada no crime. Fuzis teriam sido jogados ao mar da Barra da Tijuca no dia seguinte à prisão do acusado.
O descarte teria acontecido pouco antes de a especializada e o Ministério Público encontrarem o local onde Ronnie Lessa montava as armas, depois de receber as peças que eram compradas pela internet.
Um barqueiro disse, em depoimento ao MP, que um homem jogou armas longas, inclusive um fuzil, dentro do seu barco em 2019.
O homem, segundo o MP, é Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca, cúmplice de Ronnie Lessa. Ele foi preso pela Polícia Civil do Rio.
Dezenas de buscas foram feitas, até com ajuda da Marinha, mas nenhuma arma foi encontrada e as autoridades não conseguem afirmar que a arma do crime estaria entre as que foram lançadas no mar.
Os comparsas de Lessa foram presos e condenados por obstrução de justiça, juntamente com o próprio Lessa. Posteriormente, foram soltos.
Ainda, a investigação jamais concluiu como o lote de munição UZZ-18, de lote vendido para a Polícia Federal, foi parar nas mãos dos assassinos de Marielle e Anderson.
POLÍCIA FEDERAL
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, lembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Ele criticou a forma com que as autoridades anteriores lidaram com o caso. Para Dino, após a parlamentar ser assassinada, em 14 de março de 2018, junto com seu motorista, Anderson Gomes, políticos “se dedicaram a matá-la novamente”.
“A manipulação de afetos é constituinte da luta política. E manipulação de afetos sobretudo na sua dimensão do ódio. O que foram os dez últimos anos da política brasileira? A hegemonia do ódio. De 2013 a 2023. Marielle foi assassinada e, no dia seguinte, políticos e autoridades do Poder Judiciário, entre outros, dedicaram-se a matá-la novamente. Até hoje é como se houvesse um homicídio por dia. Esse caso de Marielle serve de referência para aquilo que o Brasil não deve ser”, afirmou Dino durante o seminário Liberdade de Expressão, Redes Sociais e Democracia, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na segunda.
O ministro se referiu à disseminação de notícias falsas envolvendo o nome de Marielle após o assassinato.
Em 22 de fevereiro deste ano, a PF abriu novo inquérito para investigar o caso. “Nós tivemos uma determinação do presidente Lula no sentido de a PF atuar no caso”, relembra Dino.
O ministro se reuniu com as autoridades do Rio de Janeiro, sobretudo do MP-RJ, e houve a conclusão que a colaboração era bem-vinda. “Por isso, eu determinei a instauração de um inquérito policial que está em tramitação há aproximadamente 30 dias. Já há atos de investigação sendo realizados pela PF. Não há dúvidas que nós temos hoje linhas de investigação opostas e nós estamos trabalhando junto com o MP do Rio”, pontuou.
De acordo com o ministro, o diálogo com o MP está sendo proveitoso para o processo e requerimentos de compartilhamento de provas já foram feitos.
“A PF também está realizando suas próprias diligências e o que eu posso afirmar é que o trabalho está evoluindo bem”, completou o titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). A expectativa de Dino é que haja avanço nas averiguações tanto no sentido do julgamento dos que já foram reconhecidos, como na identificação de outros participantes. “Queremos identificar todos envolvidos nessa cadeia criminosa”.
Como as investigações correm em sigilo, não é possível antecipar ou atualizar qualquer passo, mas, mesmo assim, o ministro garante o comprometimento com o caso. “Eu posso afirmar à sociedade, família e amigos da Marielle que a PF está trabalhando para que nós possamos ajudar no esclarecimento definitivo deste terrível crime”.
Neste momento, não é possível fixar um prazo para novas atualizações ou finalização do caso. “Mas eu posso afirmar que há prioridade, há uma equipe dedicada na PF só para isso”, concluiu Dino.